O pé cavo é uma alteração estrutural em que o arco natural da planta do pé apresenta uma curvatura excessiva. É caracteristicamente adquirido e afeta qualquer faixa etária, sendo bastante frequente em atletas a partir dos 8 anos.
Devido à existência de um arco maior do que o normal, uma quantidade excessiva de peso é colocado no antepé e retropé (calcanhar), podendo originar algumas complicações como discutiremos ao longo deste artigo.
O pé cavo pode manifestar-se através de vários sinais e sintomas, tais como dor e instabilidade, existindo uma dificuldade em escolher o calçado adequado.
Sinais e sintomas do pé cavo
Em fases iniciais, o pé cavo pode ser assintomático (não apresenta qualquer sinal ou sintoma), no entanto, à medida que evolui, vários sinais e sintomas podem começar a desenvolver-se, a saber:
- Arco do pé muito acentuado;
- Dedos dos pés em garra, por potência excessiva dos músculos extensores;
- Desenvolvimento de calosidade (saliências de pele dura e áspera) no antepé ou calcanhar;
- Dores generalizadas nos pés;
- Pé instável, que pode provocar entorses (lesões nos ligamentos) no tornozelo;
- Sensação de fraqueza e dormência nos músculos do pé e tornozelo;
- Inflamação das fibras musculares que recobrem a região plantar do pé;
- Tendência a lesões do Tendão de Aquiles e Gémeos;
- Outros.
Saiba, aqui, o que é entorse de tornozelo.
Causas do pé cavo
Na maioria dos casos, a causa do desenvolvimento do arco exagerado no pé é desconhecida, porém, existem alguns fatores de risco que podem provocar a doença, a saber:
- Distúrbios neurológicos como paralisia cerebral, distrofia muscular ou acidente vascular cerebral (AVC);
- Hereditariedade (genética). Doenças hereditárias como Charcot-Marie-Tooth (atrofia fibular muscular) podem também provocar o desenvolvimento do pé cavo;
- Lesões contínuas nos pés;
- Prática de determinadas modalidades desportivas;
- Entre outros.
Os bebés raramente nascem com este problema, contudo, crianças com alguma patologia hereditária (congénita) começam a desenvolver o pé cavo (geralmente bilateral, mas existem casos onde apenas um pé apresenta um arco excessivo), lentamente, durante os primeiros 10 anos de vida.
Diagnóstico do pé cavo
O pé cavo é, geralmente, diagnosticado através de um exame físico e análise da história clínica do doente por um podologista ou, por um médico ortopedista ou fisiatra e em casos de pé cavo infantil, por um pediatra (especialista em pediatria).
Para além dos métodos referidos, o profissional pode também recomendar os seguintes meios complementares de diagnóstico e terapêutica:
- Radiografia ou raio-X do pé, de modo a determinar a extensão da deformidade;
- TC ou TAC ou ressonância magnética (RM). Estes exames fornecem detalhes sobre a malformação do pé;
- Outros.
Se o profissional de saúde suspeitar que o problema do pé cavo pode ter na sua origem uma doença neurológica, deverá reencaminhar o utente para um médico neurologista, de modo a diagnosticar e tratar a causa subjacente da patologia.
O pé cavo tem cura?
Como já referido, muitos casos de pé cavo são provocados por uma patologia subjacente, sendo que diagnosticar e tratar este problema é a prioridade.
No entanto, o pé cavo, por si só, tem um prognóstico favorável quando o tratamento é instituído atempadamente.
Por isso, é extremamente importante procurar aconselhamento aquando do surgimento de algum sinal ou sintoma, de modo a efetuar o diagnóstico em estágios iniciais do problema e evitar a sua progressão.
Tratamento do pé cavo
O tratamento do pé cavo começa, geralmente, pela recomendação de um plano não cirúrgico, de modo a corrigir/compensar o arco plantar ou melhorar a sua sintomatologia:
Tratamento conservador
O tratamento não cirúrgico do pé cavo pode incluir uma ou mais das seguintes opções:
- Ortóteses plantares - Palmilhas personalizadas, que se adaptam ao calçado, podem ser extremamente benéficas nestes casos, uma vez que potenciam estabilidade e amortecimento ao pé, compensando as zonas de menor apoio e distribuindo a pressão plantar de forma mais eficiente. Saiba, aqui, tudo sobre palmilhas.
- Modificações do calçado utilizado, optando por um que apresente apoio posterior mais alto e largo, mais rígido, ajudando a apoiar o tornozelo e, assim, melhorar a estabilidade do pé;
- Treino de equilíbrio / proprioceptivo como prevenção de entorse de tornozelo;
- Alongamentos específicos, tanto para o pé como para a cadeia muscular posterior da perna, que muitas vezes se encontra encurtada;
- Entre outros.
A maioria das pessoas com este distúrbio do pé não apresenta sintomas graves para recorrer a cirurgia (operação). No entanto, em casos mais avançados em que o tratamento não cirúrgico não consegue controlar a sintomatologia, a cirurgia pode ser necessária para diminuir a dor e aumentar a estabilidade. A cirurgia é efetuada por um médico ortopedista, devendo após a cirurgia o doente ser acompanhado por uma equipa multidisciplinar para que ocorra uma correta recuperação e regresso à normalidade.
Mudanças no estilo de vida e adoção de novos comportamentos
- Fisioterapia é extremamente benéfica na melhoria dos músculos do tornozelo e maior estabilidade nos pés;
- Em casos mais dolorosos, descansar o pé e colocar gelo pode ajudar a aliviar a dor;
- Marcar regularmente consultas com um podologista, para avaliar a evolução do apoio plantar através da realização de avaliação do caminhar (avaliação podobarométrica);
- Escolha de calçado adequado e amortecedor.
Pé cavo vs Pé plano
O pé plano (ou chato) é caracterizado pela ausência do arco plantar. Todas as crianças nascem com pés planos, contudo, após os 3 anos de idade, começam a desenvolver o arco na planta dos pés.