A infertilidade é clinicamente definida como a incapacidade de conceber um filho ou de levar uma gravidez a termo após um ano de relações sexuais regulares e sem utilização de contracetivos. Apesar das taxas de incidência variarem conforme as regiões, estima-se que mundialmente, cerca de 1 em cada 10 casais sofra de infertilidade.
Em Portugal, um estudo recente revelou que esta condição afeta cerca de 120 000 casais, sendo que a prevalência da infertilidade ao longo da vida se situa entre os 9 e os 10%.
A parentalidade constitui um período importante no desenvolvimento psicossexual e social de muitas mulheres e homens, criando a possibilidade de cumprir um objetivo de vida e de preencher certas necessidades pessoais. Para muitos destes casais, a relação sexual adquire como principal finalidade a conceção de uma criança. A pressão social e familiar pode criar uma carga psicológica nos casais inférteis. Vários estudos analisaram o impacto da infertilidade como fator de stress psicológico e relacional, tendo já sido demonstrada a associação entre a infertilidade e a disfunção sexual.
Em relação à sexualidade desses casais o que sabemos é que pode ser afetada por medo, angústias e sentimento de vulnerabilidade. Tudo isso por não ter conseguido alcançar a gravidez de forma natural.
A disfunção sexual pode ter um papel etiológico na infertilidade ou pode ser uma consequência desta, secundária ao stress psicológico dos elementos do casal.
Quando a disfunção sexual se encontra na origem do problema, percebemos que há problemas sexuais que não permitem a concepção, causando a infertilidade, estando a disfunção associada a dificuldade de engravidar. Como por exemplo a perturbação de desejo sexual pelo parceiro (a), um número baixo de relações sexuais, questões de vaginismo ou dor génito-pélvica, disfunção erétil, ejaculação precoce entre outras.
Mas muitas vezes as disfunções sexuais surgem depois de um diagnóstico de infertilidade. O impacto do diagnóstico de infertilidade e o tratamento médico no bem estar psicológico dos casais é fundamental que seja tido em conta. A descoberta de dificuldades em ter um filho biológico constitui-se, na maioria das vezes como uma situação inesperada geradora de ansiedade e stress, não apenas nas mulheres e nos homens, mas também no casal em si. Apesar de muitos casais conseguirem ajustar-se e aprender a lidar com a infertilidade, existem outros em que as respostas emocionais (por ex. ansiedade, stresse, depressão) acabam por persistir e intensificar-se, atingindo relevância clínica.
Quanto à causa e duração da infertilidade, é sabido que constituem fatores de risco para disfunção sexual. A infertilidade masculina, mais do que a feminina, combinada ou idiopática, está ligada à intensificação dos problemas emocionais no casal, contudo, as mulheres inférteis geralmente sentem maior responsabilidade e culpa pelos problemas de fertilidade e, por isso, são mais propensas a distúrbios emocionais e perda de autoestima. Estudos revelam que a infertilidade está associada, com uma incidência superior ao esperado, a disfunção erétil, sintomas depressivos e relação conjugal disfuncional.
Quando o casal recorre a tratamentos de reprodução medicamente assistida vivenciam vários acontecimentos e muitas vezes uma longa jornada. Ter um médico a “participar” na intimidade do casal pode não ser fácil e pode afetar a sexualidade de ambos.
Quando a reprodução ou o desejo de ter um filho passa a ser a único objetivo das relações sexuais do casal, pode gerar distanciamento, falta de apoio de um dos lados, crises no relacionamento, entre outros.
Por isso, é necessário cuidar da sexualidade. O casal não deve deixar que o tratamento de reprodução assistida tenha influência na sua intimidade. O casal deve procurar ter mais momentos a dois, passar tempo de qualidade em que se sua intimidade seja reconstruída. Redescobrir ou reinventar a sexualidade pode levar a uma intimidade mais profunda e algumas dicas podem ser importantes, como por exemplo:
- Planear “momentos” especiais na hora do sexo mesmo em dias não férteis;
- Nos dias em que não deve ter relações não precisam ser dias sem sexo. Lembre que o sexo não é apenas a penetração, outras atividades sexuais, como carícias, podem ser realizadas;
- Nos dias em que “deve” ter relações sexuais, tente criar um ambiente adequado e relaxado;
- Tenha relações em horários diferentes. Não tenha apenas relações à noite, depois de um dia cansativo e longo, mude a sua rotina;
- Use a fantasia;
- Evite sentimentos de culpa em dias em que a relação sexual não for possível. Não insista quando não se sente motivado.
Se estas dicas não forem suficientes e se sentir necessidade não hesite, além do tratamento com especialistas da área da fertilidade , em pedir o apoio de um psicólogo, terapeuta sexual ou sexólogo.