A saúde sexual é fundamental para o bem-estar, saúde física e emocional de indivíduos, casais, famílias e, em última instância até ao desenvolvimento social e económico de comunidades e países.
A saúde sexual, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006) é um estado de bem-estar físico, emocional e social relacionado com a sexualidade, não é meramente a ausência de doença, de disfunção ou enfermidade. A saúde sexual engloba não só aspetos específicos da saúde reprodutiva, como ter controle sobre a fertilidade individual por meio do acesso à contraceção e à interrupção voluntária da gravidez, bem como estar protegido de Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), também se refere à disfunção sexual e sequelas relacionadas à violência sexual ou à mutilação genital feminina, mas também a possibilidade de ter experiências sexuais seguras e prazerosas, sem coerção, discriminação e violência. Tornou-se claro que a sexualidade humana inclui diversas formas de comportamentos e expressões, sendo que o reconhecimento da diversidade de comportamentos e expressões sexuais contribui para a sensação geral de bem-estar e saúde das pessoas.
A saúde sexual requer uma abordagem positiva e respeitadora da sexualidade e dos relacionamentos sexuais, assim como a possibilidade de obter prazer e experiências sexuais seguras, livres de coação, discriminação e violência. Para que a saúde sexual seja atingida e mantida, os direitos sexuais de todas as pessoas devem ser respeitados e protegidos.
No entanto, a capacidade de indivíduos alcançarem o bem-estar e a saúde sexual depende de vários fatores como, o acesso a informações abrangentes sobre sexualidade, conhecimento sobre riscos enfrentados e vulnerabilidades, as consequências adversas da atividade sexual, o acesso a cuidados de saúde sexual de qualidade e um ambiente que defenda e promova a saúde sexual.
Nas últimas três décadas, houve uma expansão rápida na aplicação dos direitos humanos ligados a questões de sexualidade e saúde sexual, especialmente no que diz respeito à proteção contra a discriminação e a violência, além da proteção da liberdade de expressão e associação, privacidade e outros direitos das mulheres, homens, pessoas transgénero e intersexo, adolescentes e outros grupos populacionais. Isso resultou na produção de um conjunto importante de padrões de direitos humanos e promoção da saúde sexual. Foram desenvolvidas definições de sexualidade e saúde sexual baseadas em evidências de saúde pública, no progresso científico e social, e num crescente conjunto de padrões internacionais.
Assim, a Sexualidade deve ser compreendida como um aspeto central do ser humano ao longo da vida; ela engloba sexo, identidades e papéis de género, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é vivida e expressa por meio de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas essas dimensões, nem sempre todas elas são vividas ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, económicos, políticos, culturais, jurídicos, históricos, religiosos e espirituais.
O que se sabe sobre a sexualidade dos portugueses?
Com que idade se inicia a atividade sexual? Qual a frequência da atividade sexual? Ou que papel têm os meios contracetivos e quais os mais usados? São questões que o Inquérito “Saúde e Sexualidade”, desenvolvido por uma equipa de sociólogos do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, procurou responder.
Este estudo teve como principal objetivo estudar as relações entre os principais comportamentos sexuais e os comportamentos preventivos da população portuguesa.
Por curiosidade podemos partilhar alguns dos dados deste estudo (Ferreira e Aboim, 2015), como por exemplo:
- 32% de mulheres (M) e 34% de homens (H) não têm relações sexuais no último mês;
- 20% M e 48% H recorrem à prática da masturbação;
- 5% M e 12% H pratica sexo oral;
- 23,2% M e 38% H estão insatisfeitos com a sua vida sexual;
- 27,6% M e 8,4% H não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos com a sua vida sexual;
Em relação à sexualidade dos portugueses ainda foram exploradas algumas questões, que permitiram perceber que:
- 32% consideram os produtos eróticos muito importantes para o aumento de prazer;
- 25% recorre à literatura erótica;
- 15% utilizam produtos eróticos (exemplo vibradores e estimulantes) para ter mais prazer.
No estudo ainda foram explorados quais os fatores determinantes de uma vida sexual saudável, ao que os portugueses responderam: bem-estar psicológico, relações frequentes com o parceiro, boa saúde física e estilo de vida saudável.
Porque devemos ir a uma consulta de sexologia?
Como podemos observar a sexualidade é uma área fundamental da vida e não deve ser menosprezada. Em Portugal, são os médicos de família, nos cuidados de saúde primários que estão numa posição favorável para detetarem dúvidas e problemas relacionados com a vida sexual e ter uma primeira aproximação à vivência da sexualidade da população. As consultas de Planeamento Familiar poderiam ser um espaço privilegiado para implementar estratégias para estabelecer um diagnóstico e terapêutica quando adequado ao utente, num ambiente de maior privacidade. No entanto, muitas são as barreiras, quer ao nível dos conhecimentos, de tempo e prática por parte do médico ou de dificuldades de comunicação, como vergonha ou receio de julgamento por parte do utente/paciente, que podem levar a elevados constrangimentos e dificuldades nesta partilha.
Assim, nascem as consultas de sexologia a partir do desenvolvimento da sexologia, área do conhecimento que estuda a sexualidade humana, que se expandiu principalmente ao longo do século XX, graças ao trabalho de investigadores como Alfred Kinsey, William Masters e Virginia Johnson. A partir da investigação realizada nesta área, que se dedicou ao estudo não só da fisiologia dos órgãos sexuais e da relação sexual humana, mas também dos comportamentos e desejos sexuais, foi possível desenvolver uma área clínica- a Sexologia.
A consulta de sexologia permite uma ajuda especializada em problemas de vivência da sexualidade. Uma ajuda que possibilita, quer seja individual ou em casal, esclarecer dúvidas relacionadas com a sexualidade, problemas relacionais ou conjugais associados à vivência da sexualidade, questões de orientação sexual e identidade de género, disfunções sexuais femininas, disfunções sexuais masculinas, entre outros. A consulta de sexologia é um encontro entre duas pessoas ou mais, num determinado setting, onde se estabelece uma relação terapêutica. Este encontro é confidencial e privado. A relação terapêutica é o ponto principal de todo o processo. Na primeira e segunda sessão é feita a avaliação através de entrevista clínica, questionários e/ou inventários entre outros instrumentos. Como referimos, a sexualidade é multifatorial e por isso é preciso avaliar as suas várias dimensões para compreendermos bem a pessoa, não nos limitando apenas à análise do problema e dos sintomas. É necessário explorar os aspetos psicológicos, como as emoções, o humor, as cognições, as crenças e os pensamentos. Ainda é importante avaliar aspetos socioculturais, como a educação, a importância de aspetos religiosos e o desenvolvimento psicossexual. Os fatores biológicos devem ser devidamente avaliados e por isso, na maioria das vezes é necessária uma intervenção médica (urologista, ginecologista, psiquiatra) para uma avaliação médica adequada, logo numa fase inicial do acompanhamento.
Na sexologia é feita uma abordagem biopsicossocial, uma vez que a sexualidade tem uma dimensão biológica, o nosso corpo onde tudo acontece, uma dimensão psicológica, na nossa cabeça onde processamos todos os pensamentos e emoções e uma dimensão social onde tudo se desenrola e com quem nos relacionamos. No entanto, é importante ressalvar que o sexólogo/terapeuta sexual sendo um psicólogo nunca pode tocar no utente/ paciente, não há qualquer contacto ou manipulação física nem a prática de qualquer exercício no espaço do consultório. O sexólogo também pode ser um médico, habitualmente psiquiatra, ginecologista, urologista que recebeu formação específica por entidade creditada. É fundamental que o profissional (sexólogo ou terapeuta sexual) apresente competências que passem pelo diálogo e pela comunicação com o outro, exigindo conhecimento da cultura e respeito pela diversidade, mas também exigindo tempo, disponibilidade e empatia, em relação ao utente/paciente. Não negligencie a sua sexualidade, saúde sexual também é saúde.
Quais são as principais problemas que surgem nas consultas de sexologia?
Todas as pessoas podem recorrer a uma consulta de sexologia e mesmo sem qualquer problemática associada podem fazê-lo para melhorar a sua vida sexual, para criar um novo reportório sexual ou apenas para esclarecer algumas dúvidas. No entanto, a maioria da população que é acompanhada em consultas de sexologia apresenta alguma disfunção sexual.
Os casos mais comuns na população masculina estão relacionados com a disfunção ejaculatória, como a Ejaculação Prematura/Precoce – consiste numa ejaculação com estimulação sexual mínima, antes, durante ou logo após a penetração e antes que a pessoa o deseje, causando mal-estar acentuado ou dificuldades interpessoais e a Ejaculação Retardada – consiste num atraso marcado na ejaculação ou uma ejaculação marcadamente infrequente ou mesmo ausência de ejaculação, sem que o atraso seja desejado pelo próprio. A primeira é mais frequente e surge em homens mais jovens, muitas vezes relacionada com fatores psicológicos e contextuais, como por exemplo o medo, a inexperiência, a ansiedade ou a falta de privacidade e de local adequado para a prática sexual.
A Disfunção Erétil é outra patologia frequente e surge em homens de todas as idades e é caracterizada por uma dificuldade marcada em atingir, manter uma ereção durante e até completar a atividade sexual e também uma diminuição marcada da rigidez da ereção, causando mal-estar acentuado ou dificuldades interpessoais.
Além destas patologias mais comuns, também podemos acompanhar homens com Perturbação do Orgasmo Masculino – consiste no atraso ou ausência de orgasmo após uma fase de excitação sexual considerada normal, que causa mal-estar acentuado ou dificuldades interpessoais e também uma Perturbação do Desejo Sexual Hipoativo Masculino que se caracteriza pela deficiência ou ausência de fantasias e falta de desejo de envolvimento em atividade sexual.
Nas mulheres a queixa mais comum é a Perturbação do Interesse/ Excitação Sexual Feminina ou mais comumente denominada Perda do Desejo Feminino. Muitas vezes esta queixa surge em mulheres que estão em relações de longa duração, sendo caraterizada por uma ausência ou redução de pensamentos sexuais/eróticos ou de fantasias; na ausência ou redução de interesse na atividade sexual, da iniciativa para a atividade sexual , da excitação/prazer sexual durante a atividade sexual ou enquanto resposta a quaisquer estímulos sexuais/eróticos internos ou externos e ausência e redução das sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual.
Para da questão do desejo sexual também existe a Perturbação do Orgasmo Feminino que designa dificuldades relacionadas com a resposta de clímax sexual, que é caracterizada por um conjunto de reações fisiológicas e que consiste num atraso marcado ou ausência de orgasmo, após uma fase de excitação sexual ou ainda uma redução marcada da intensidade das sensações orgasmicas. Outra das disfunções bastante presente nas mulheres é a Perturbação da Dor genitopélvica/Penetração, esta disfunção está relacionada com dificuldades na penetração vaginal durante a relação sexual ou uma dor vulvovaginal ou pélvica intensa durante a relação sexual ou nas tentativas de penetração vaginal. Também pode ser caraterizada por um medo intenso ou ansiedade marcados acerca de dor vulvovaginal ou pélvica em antecipação, durante ou como resultado da penetração ou uma tensão e compressão dos músculos do pavimento pélvico durante a tentativa de penetração vaginal.
Melhorar a vivência da sexualidade
Além destas questões mais específicas e classificadas como disfunções, as pessoas podem procurar as consultas de sexologia para melhorar a sua vivência da sexualidade ou um pedido de ajuda para viver a sexualidade em momentos de doença (por exemplo doença oncológica, doença sexualmente transmissível, doença do foro neurológico, doença mental, entre outras) ou momentos específicos do ciclo de vida como a gravidez, o pós parto ou o envelhecimento.
Orientação sexual ou identidade de género
Os sexólogos e terapeutas sexuais também podem apoiar em questões relacionadas com a orientação sexual ou identidade de género. Muitas vezes existe um sofrimento acentuado causado pela discrepância entre a identidade de género e o sexo atribuído à nascença – disforia de género – que pode beneficiar com intervenção psicoterapêutica que procura ajudar as pessoas a encontrarem estratégias para alcançar o seu bem-estar, qualidade de vida e desenvolvimento pessoal.
Perturbações Parafilicas
As consultas de sexologia ainda podem apoiar e acompanhar pessoas com Perturbações Parafilicas e para que este diagnóstico seja feito o comportamento sexual atípico, os pensamentos, as fantasias, os desejos, impulsos devem causar angústia pessoal, sofrimento ao próprio, mas também podem causar sofrimento, dano ou mesmo morte de outrem ou que as suas práticas sejam contra a vontade do outro.
As parafilias que são diagnosticadas pelos manuais psiquiátricos são a Perturbação de Vouyerismo – a excitação sexual é provocada pela observação insuspeitada de uma pessoa nua, que se está a despir ou envolvida em práticas sexuais; a Perturbação do Exibicionismo – a excitação sexual é provocada pela exibição dos próprios genitais a um estranho de forma inesperada; a Perturbação do Frotteurismo – a excitação sexual é provocada por tocar ou roçar partes do corpo de uma pessoa que não deu consentimento; a Perturbação de Masoquismo Sexual - a excitação sexual é provocada pelo ato de ser humilhado, agredido, amarrado, ou submetido a qualquer tipo de sofrimento; a Perturbação de Sadismo Sexual – a excitação sexual é provocada a partir do sofrimento físico e psicológico de outra pessoa; a Perturbação de Pedofilia – consiste em fantasias sexualmente excitantes, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual com uma criança pré-pubere (13 anos ou menos); a Perturbação de Fetichismo – a excitação sexual é provocada pelo uso de objetos inanimados como sapatos ou ligas e a Perturbação de Travestismo – a excitação sexual é resultante de travestir-se, ou seja, pelo uso de roupas e adornos do sexo oposto ao seu.
Saiba, aqui, tudo sobre parafilias.
E as consultas de sexologia online, são diferentes?
Falar da nossa sexualidade e da nossa vida íntima é difícil e como tal é muito comum que tanto homens, como mulheres e os casais demorem muito tempo até a decisão de agendar uma consulta. O receio da exposição, a vergonha e o desconhecimento podem impedir as pessoas de irem ao encontro de um sexólogo ou terapeuta sexual. Mas o avanço da tecnologia permitiu que os psicólogos e os sexólogos pudessem oferecer os seus serviços através de vídeo consultas/ teleconsultas.
Nos últimos anos surgiram várias plataformas como o saudebemestar.pt que permitem que qualquer pessoa, em qualquer ponto possa usufruir de uma consulta de psicologia clínica e/ou de sexologia clínica online, sob total confidencialidade, sigilo e segurança. O atendimento à distância permite que as pessoas possam escolher um profissional adequado, consultando o seu perfil, a sua formação académica, a sua experiência profissional e usufruir de um atendimento com elevado conforto e confidencialidade.
Todos podemos ter alguma dificuldade sexual ao longo da nossa vida, quer seja disfunção ou não e todos devemos viver uma sexualidade plena e livre: Como tal e se em algum momento sentir uma destas necessidades recorra a uma consulta médica ou a uma consulta de sexologia clínica que o possa ajudar.