A fala é uma função complexa que engloba a articulação dos sons da nossa língua, bem como, o seu conhecimento fonológico, através da coordenação de movimentos estruturais e funcionais.
A criança desenvolve a fala desde cedo, muito antes de começar a falar. Utiliza o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar, a partir da interação com os outros. Começa por desenvolver a capacidade da compreensão, incluindo a de discriminar os sons da fala. À medida que isso acontece, desenvolve a expressão que contempla, posteriormente, a fala propriamente dita.
Aquisição da linguagem e da fala na criança
A fala tem duas dimensões (do sistema linguístico): a fonética e a fonologia. A fonética relacionada com os movimentos físicos ao nível da produção e da perceção (independentemente do seu significado) e a fonologia relacionada com a organização do sistema de sons da língua. A sua produção passa necessariamente pela produção da voz (através da vibração das cordas vocais), a qual, para além de controlada pelo sistema nervoso central, envolve três etapas: respiração, fonação e articulação.
Assim, ao longo do processo de aquisição da linguagem, a criança vai reconhecendo progressivamente, os sons com que, na sua língua materna se constroem as palavras que servem para comunicar com os outros. As crianças tentam adaptar a forma de dizer as palavras, de modo a que consigam produzi-las o mais corretamente possível recorrendo ao uso de processos fonológicos, para facilitar a sua produção. A aquisição do sistema fonológico da nossa língua acontece, de forma contínua até aos sete anos de idade. Desta forma, o desenvolvimento fonológico inicia-se através da aquisição de sons simples e com o decorrer dos anos há uma expansão desse sistema fonológico, adquirindo, posteriormente, os sons mais complexos.
Com que idade a criança adquire os fonemas?
No quadro seguinte é possível verificar a média de idades de aquisição de cada fonema, em relação a um desenvolvimento normal de uma criança:
Média de idades | Aquisição de Fonemas |
3 anos – 4 anos | /p/, /t/, /k/, /d/, /b/, /g/, /f/, /m/, /n/, /s/, / ?/, /v/, / ?/, /R/. |
4 anos - 5 anos | /l/, /z/, / ?/ |
5 anos – 6 anos | / ?/, / ?/ |
6 anos -7 anos | / ?/ - grupo consonântico (ex: tr, br, cr, gr) |
Alterações da fala e da linguagem
Atualmente, as alterações da fala e da linguagem constituem o problema mais frequente no desenvolvimento infantil com incidências que variam entre 2 a 19%.
A dificuldade na produção dos sons da fala é diagnosticada quando a criança não articula esse mesmo som, tendo em conta a idade esperada (ver quadro anterior) e não são resultado de uma incapacidade física, estrutural, neurológica ou auditiva.
Segundo alguns autores, as perturbações dos sons da fala podem classificar-se em diferentes subtipos. Contudo, apesar de existirem diferentes classificações, torna-se comum o facto da natureza das dificuldades ser distinta.
Por exemplo, para Bowen (2011), os subtipos de perturbações dos sons da fala são:
- Disartria;
- Apraxia;
- Alteração articulatória (substituições, omissões, distorções de sons em qualquer contexto, mesmo por imitação);
- Alteração fonológica (dificuldade em perceber a diferença entre o contraste dos sons e em utilizar as regras fonológicas);
- Alteração fonológica e articulatória.
Sinais de alerta no desenvolvimento
Existem vários sinais de alerta que nos permitem perceber se a criança poderá a vir ter dificuldades na produção dos sons da fala. Entre os quais, se destacam:
- Aos três anos de idade não se faz entender fora do contexto familiar;
- Aos quatro anos de idade apresenta uma fala pouco percetível;
- Aos cinco anos de idade omite ou troca sons nas palavras (ex: “calacol” em vez de “caracol”; “lauada” em vez de “salada”);
- Aos seis anos de idade não articula corretamente todos os fonemas do português;
- Usa gestos em vez de palavras para comunicar.
As alterações no desenvolvimento da fala de cada criança necessitam de uma avaliação, por parte de um Terapeuta da Fala quer irá determinar a necessidade ou não de um acompanhamento individualizado, assim como, orientar e acompanhar a família através do fornecimento de estratégias facilitadoras, para melhorar as competências da criança.
Algumas orientações importantes para a família
Algumas das orientações às famílias deverão ser:
- Dizer a palavra corretamente, logo após a palavra ou a frase que a criança tem dificuldade;
- Quando a dificuldade é num som específico devemos dizer a palavra correta, repetindo o som dando-lhe maior entoação;
- Evitar expressões como “não é assim que se diz” e usar expressões “experimenta” ou “faz como eu”;
- Não pedir à criança para repetir a palavra em que teve dificuldade, para evitar frustração;
- Elogiar a criança depois de esta repetir a palavra, mesmo quando não articula de forma correta;
- Não infantilizar as palavras através de diminutivos (ex: “cadeirinha”);
- Usar jogos como “loto”, “dominó”, “puzzles” para promover os sons que a criança tem dificuldade.