A enxaqueca atinge cerca de 12 % da população mundial, com maior incidência na quarta década de vida e nas mulheres (sexo feminino). De acordo com os dados disponíveis, atinge cerca de 16 % da população portuguesa.
As cefaleias são consideradas a 19ª doença mais debilitante a nível mundial. Na verdade, é uma patologia incapacitante e causa, entre outras situações, muitas faltas ao trabalho. A medicação usada com fins terapêuticos e/ou preventivos atinge elevados custos. Nos EUA, os custos do tratamento medicamentoso e do absentismo ao trabalho decorrentes de cefaleias constituem um enorme fardo para o doente e para a sociedade, coletivamente ultrapassando os 13 biliões de dólares por ano.
Quando equacionar a cirurgia?
Pela primeira vez em Portugal foi realizado a 8 de junho de 2017, no Centro Hospitalar São João / Faculdade de Medicina do Porto, o tratamento cirúrgico minimamente invasivo (endoscópico) de enxaqueca com sucesso. A doente operada afirmou, à equipa médica, que a tratou: “há 25 anos que não estava 2 meses sem tomar analgésicos e sem cefaleias, os senhores mudaram a minha vida!”.
Por sua vez, no doente em que estas medidas não surtam efeito poderá então equacionar-se a fase seguinte e encaminhá-lo para um cirurgião que faça este tipo de operação, neste caso específico com técnica endoscópica. O objetivo é tratar doentes que estejam na situação limite de não conseguirem ter a sua enxaqueca controlada e que podem ter aqui uma alternativa. Mas enquanto a medicação resolver, esta opção não deverá ser equacionada, visto que é mais fácil tomar um comprimido do que ser operado.
Como é realizada a cirurgia?
A intervenção em causa, inicialmente pensada para corrigir as rugas da testa e elevar as sobrancelhas contrariando os sinais de envelhecimento, é realizada por meio de técnica endoscópica na região frontal e é dirigida aos chamados trigger points, isto é, pontos desencadeantes das crises dolorosas.
Pós-operatório e recuperação
No pós-operatório são apenas necessários os cuidados habituais que uma cirurgia deste tipo envolve, podendo o doente retomar a sua atividade normal ao fim de poucos dias.
No entanto, após a alta hospitalar o doente deverá permanecer entre quatro a cinco dias em casa até que o edema (“inchaço”) desapareça. No fundo, trata-se mais de um impedimento estético do que físico.
Resultados e expectativas futuras
Esta nova arma terapêutica parece ser promissora e pode ser aplicável num número elevado de doentes com significativa melhoria da qualidade de vida. Está descrito, na literatura disponível, que mais de 80% dos doentes operados ficaram curados ou descrevem uma melhoria em termos de redução da frequência de crises ou da intensidade dos sintomas. Para além deste claro benefício para o doente, antevê-se um impacto económico considerável com a utilização do tratamento cirúrgico em questão nos casos indicados.
A equipa que fez pela primeira vez em Portugal esta operação foi: Prof Dr António Costa Ferreira (cirurgião principal), Drª Inês Insua Pereira (cirurgião principal), Drª Antónia Trigo Cabral (anestesista), Dr Jorge Carvalho (cirurgião ajudante), Dr Sérgio Teixeira (cirurgião ajudante), Enfª Paula Martins (enfermeira instrumentista), Enfª Joana Monteiro (enfermeira de anestesia), Enfª Patricia Vieira (enfermeira circulante).