A hiperidrose é uma patologia (doença) que envolve uma sudação (transpiração) anormalmente excessiva, não relacionada com calor ou exercício físico.
A maior caraterística deste distúrbio é a transpiração excessiva nas axilas (hiperidrose axilar) ou nas palmas das mãos (hiperidrose palmar) e dos pés (hiperidrose plantar). A sudação excessiva nas axilas começa, geralmente, no final da adolescência, enquanto a transpiração nas mãos e pés começa mais cedo, por volta dos 13 anos de idade.
A hiperidrose pode ser extremamente desconfortável e, sem tratamento, podendo agravar-se ao longo da vida. O suor excessivo pode até absorver nas roupas ou escorrer nas mãos. Além de interferir com as atividades diárias normais, este tipo de transpiração pode causar ansiedade social e constrangimento, como veremos, mais tarde, neste artigo, sendo que estas reações podem vir a agravar ainda mais esta condição.
O tratamento pode variar bastante de acordo com a gravidade, existindo na atualidade diversas atitudes terapêuticas (médicas e cirúrgicas) que permitem controlar eficazmente a hiperidrose.
Tipos de hiperidrose
A hiperidrose pode estar presente desde o nascimento (congénita) ou pode-se desenvolver mais tarde durante vida (adquirida). A maioria dos casos de transpiração excessiva tende a começar durante a adolescência e, de uma forma geral, podem ser classificados em duas categorias:
Hiperidrose primária
A hiperidrose primária não é provocada por fatores internos e, na sua grande maioria, a causa subjacente é desconhecida (idiopática), podendo, no entanto, estar associada a questões genéticas. Esta patologia ocorre, no mínimo, uma vez por semana e, de uma forma geral, os primeiros sintomas são sentidos na infância ou adolescência verificando-se, nomeadamente, na região das mãos, pés, axilas e craniofacial. Tipicamente quem sofre desta condição não transpira enquanto dorme, mas sim ao acordar.
Hiperidrose secundária
A hiperidrose secundária é provocada por fatores internos, como outras patologias subjacentes (obesidade, diabetes, hipertireoidismo, etc.), utilização de certos medicamentos, entre outros. Aqui os sintomas surgem já em idade adulta, podendo ocorrer várias vezes semanalmente e ainda durante o sono.
Este distúrbio pode também ser classificado quanto à sua localização, a saber:
Hiperidrose focal
A hiperidrose focal ocorre quando a transpiração excessiva é localizada, geralmente nas zonas com uma concentração relativamente alta de glândulas sudoríparas, por exemplo:
- A hiperidrose palmar é a transpiração excessiva das palmas das mãos;
- A hiperidrose plantar é a transpiração excessiva das plantas dos pés;
- A hiperidrose axilar é a transpiração excessiva das axilas;
- Etc.
Este tipo de doença está fortemente relacionado com a hiperidrose primária, sendo frequentemente chamado de hiperidrose focal primária.
Hiperidrose generalizada
A hiperidrose generalizada ocorre quando a transpiração excessiva afeta todo o corpo, e não apenas as regiões com mais glândulas sudoríparas.
Este tipo da doença, ao contrário do caso anterior, está fortemente relacionado com a hiperidrose secundária, sendo também frequentemente chamado de hiperidrose generalizada secundária.
Causas da hiperidrose
A transpiração é uma resposta natural a certas condições como clima quente, exercício físico, stress ou sentimentos de medo e raiva. Na hiperidrose, a transpiração é excessiva e não apresenta uma razão aparente.
A causa subjacente da doença pode depender do tipo de hiperidrose presente, a saber:
Causas na hiperidrose focal e primária:
A causa subjacente da hiperidrose primária e focal ainda é desconhecida, no entanto, muitos casos deste tipo da doença são provocados por genes passados entre familiares, podendo ser considerado um distúrbio hereditário (genético).
Causas na hiperidrose generalizada secundária:
Hiperidrose generalizada secundária é a sudação causada por patologia já existente ou por um efeito secundário de algum medicamento.
As patologias que podem causar este tipo de hiperidrose incluem:
- Doenças cardiovasculares;
- Obesidade (excesso de peso);
- Diabetes;
- Alguns tipos de cancro;
- Distúrbios nas glândulas suprarrenais;
- Hipertiroidismo (excesso de produção de hormonas pela tiroide);
- Menopausa;
- Lesões na medula espinal;
- Doenças infeciosas, como a tuberculose ou o VIH;
- Alcoolismo e abuso de substâncias;
- Ansiedade;
- Gota;
- Doença de Parkinson;
- Gravidez;
- Insuficiência Respiratória;
- Entre outras.
Vários tipos de fármacos (geralmente, antidepressivos) podem provocar hiperidrose, devido aos seus efeitos secundários. Entre os vários compostos químicos, podemos destacar:
- Desipramina;
- Anticolinesterásico;
- Propanolol;
- Pilocarpina;
- Nortriptilina;
- Protriptilina;
- Entre outros.
Sinais e sintomas da hiperidrose
A maioria das pessoas produz suor quando pratica exercício físico ou se encontra num ambiente quente, no entanto, a transpiração excessiva associada à hiperidrose excede exageradamente o nível de transpiração normal.
Doentes com hiperidrose podem também apresentar outros sinais e sintomas, a saber:
- Mãos “pegajosas” e molhadas;
- Pés húmidos;
- Entre outros.
A sensação de transpiração excessiva é extremamente desconfortável e pode desencadear um conjunto de outros tipos de sinais e sintomas, a saber:
- Problemas de pele;
- Infeções fúngicas ou bacterianas frequentes;
- Stress aumentado devido a preocupações como ter as roupas manchadas, odor (mau cheiro) corporal, ou manter contacto físico, o que vem agravar ainda mais a condição;
- Isolamento social, devido às preocupações anteriormente referidas;
Diagnóstico da hiperidrose
O diagnóstico da hiperidrose é realizado através do exame físico durante a consulta e de uma análise da história clínica do doente. O médico pode também recorrer a alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), a saber:
- Testes de suor como o teste de iodo-amido ou exame de suor termorregulador. Este exame consiste na aplicação de um pó reagente à humidade na pele, sendo que quando, à temperatura ambiente, a transpiração excessiva ocorre, o pó muda de cor. O paciente é, então, submetido a humidade e temperaturas elevadas, desencadeando assim a transpiração. As pessoas que não sofrem de hiperidrose não transpiram em excesso das palmas das mãos, contrariamente a quem sofre desta patologia. A utilidade desta avaliação reside também na determinação da gravidade da hiperidrose pelo profissional médico.
- Análises ao sangue e urina, de modo a avaliar se a transpiração é causada por alguma patologia, como hipertireoidismo ou baixos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia);
Complicações da hiperidrose
A hiperidrose quando não tratada atempadamente pode provocar diversas complicações, a saber:
- Infeções na pele e unhas;
- Erupções cutâneas frequentes;
- Depressão e baixa autoestima devido ao constrangimento provocado pelo suor intenso;
- Entre outros.
A hiperidrose tem cura?
A hiperidrose focal e primária é tratada facilmente através de um plano de tratamento capaz de gerir a sintomatologia, por isso, o prognóstico deste tipo da doença é favorável.
O prognóstico da transpiração excessiva provocada por uma patologia subjacente é mais reservado, no entanto, quando detetada atempadamente, tratar a doença é mais fácil, sendo extremamente importante efetuar um diagnóstico o mais precocemente possível.
Tratamento da hiperidrose
Se a hiperidrose for provocada por uma patologia subjacente, essa doença deverá ser tratada primeiro. No entanto, se nenhuma patologia subjacente for identificada, o tratamento visa apenas controlar a transpiração excessiva.
Geralmente, utentes diagnosticados com hiperidrose precisam de uma combinação das seguintes opções terapêuticas, de modo a controlar eficazmente a sudação exagerada:
1. Tratamento medicamentoso
O médico especialista pode prescrever alguma medicação de modo a melhorar a sintomatologia provocada pela doença e controlar os níveis de suor produzidos pelas glândulas sudoríparas, a saber:
- Antitranspirantes, que secam as glândulas produtoras de suor e são constituídas por compostos como cloreto de alumínio. Podem ser vendidos sob a forma de spray, roll-on, pomada, loção, toalhitas, gel, entre outros e é considerado um método simples de controlo do suor onde a sua aplicação é restrita à área afetada;
- Pomadas com glicopirrolato podem ajudar a hiperidrose que afeta o rosto e a cabeça;
- Medicamentos (remédios) bloqueadores de nervos (ex.: injeções de toxina botulínica – “botox”) podem ajudar a reduzir a transpiração. Este tratamento obriga à aplicação repetida;
- Antidepressivos;
- Entre outros.
2. Procedimentos cirúrgicos
Uma grande parte de casos de hiperidrose pode necessitar de algum tipo de procedimento cirúrgico (cirurgia), de modo a eliminar algumas glândulas sudoríparas para que a transpiração diminua. Entre os diversos métodos utilizados com este objetivo, podemos destacar:
- A. Terapia a laser - A terapia a laser consiste na eliminação de algumas glândulas sudoríparas, geralmente nas axilas, através de feixes de alta intensidade.
- B. Curetagem e lipossucção - Se a transpiração excessiva for localizada (ocorre apenas num local, geralmente, nas axilas), a técnica da curetagem e lipossucção pode ser recomendada para remover glândulas sudoríparas nessa região.
- C. Simpatectomia torácica superior bilateral videoassistida - A simpatectomia é considerada uma intervenção pouco invasiva. Consiste na ressecção do gânglio que origina o excesso da transpiração, através de duas incisões no tórax. Os resultados da intervenção verificam-se de imediato, comprovando a eficácia deste método. Em alguns casos, este procedimento passa a provocar uma transpiração excessiva noutras partes do corpo (suor compensatório). Esta complicação associada à simpatectomia é mais acentuada na face, pés, coxas, costas e abdómen e afeta cerca de 50% dos pacientes, contudo não integra um problema para grande parte destes. Mais uma possível consequência é o suor gustativo, considerada muito rara e grave, caracteriza-se pela transpiração excessiva no couro cabeludo, face e pescoço e provocados, por exemplo, por alimentos condimentados, álcool, chocolate, bebidas com cafeína. O síndrome de Claude-Bernard-Horner, é outra complicação, rara e reversível, que se caracteriza pela queda da pálpebra, pupila pequena e falta de transpiração num dos lados da face. Tendo em conta o panorama geral, as complicações associadas a esta intervenção são raras, excetuando o suor compensatório que é, no entanto, tolerável.
3. O que pode fazer em casa?
Existem alguns comportamentos que pode adotar no quotidiano, de modo a controlar o suor excessivo, a saber:
- Tomar banho diariamente: um banho regular ajuda a reduzir o número de bactérias na pele e desta forma os odores (maus cheiros);
- Utilizar sabão bacteriano de forma a combater as bactérias que podem residir na pele e originar odores desagradáveis e secar bem a pele após o banho;
- Escolher sapatos e meias feitos de materiais naturais como o couro, podem ajudar a prevenir os pés suados;
- Vestir roupas com tecidos naturais, como algodão, lã e seda, que permitam a respiração da pele;
- Utilizar antitranspirantes;
- Utilizar meias atléticas e trocar com frequência, se possível, uma ou duas vezes por dia;
- Ventilar os pés. Descalçar os pés quando puder, ou pelo menos tirar os sapatos esporadicamente;
- Evitar alimentos picantes, álcool e bebidas quentes, visto que estes potenciam a hiperidrose;
- Combater o stress nos casos em que ocorra stress excessivo. Fazer exercício físico com técnicas de relaxamento. Estas técnicas de relaxamento, como Yoga ou meditação podem ajudar a controlar o stress que possa estar na origem da transpiração excessiva;