A fisioterapia na tendinite do ombro é muito importante para diminuir a dor, que é o sintoma que usualmente leva o paciente a procurar a ajuda médica. Quando um tendão do ombro fica inflamado (a chamada tendinite), a dor pode ser muito intensa e tornar muito difícil quer os gestos do dia-a-dia (por exemplo vestir / despir), quer o descanso noturno.
Esta inflamação no ombro de origem tendinosa, ou seja, inflamação dos tendões que constituem a articulação do ombro, é mais frequente no tendão do músculo supra-espinhoso, que pertence ao grupo dos tendões da articulação entre o úmero e a omoplata (aos quais se dá o nome global de coifa dos rotadores). O quadro típico da tendinite do supra espinhoso é uma dor no ombro que aumenta de forma progressiva e que se agrava quando se realizam movimentos com o braço acima da cabeça e quando se dorme de lado para cima desse braço. Quando esta dor surge, é importante afastar a possibilidade de existir uma rotura neste tendão ou num dos outros tendões da coifa dos rotadores, que pode implicar outro tipo de tratamento. A tendinite pode também surgir no tendão da longa porção do bicípete braquial, outro músculo que faz parte da articulação do ombro.
A tendinite do ombro é mais frequente no membro superior dominante, pelo que atinge preferencialmente o ombro direito, mas também pode surgir no ombro esquerdo ou nos dois ombros ao mesmo tempo (tendinite bilateral).
A inflamação aguda de um tendão da coifa dos rotadores surge muitas vezes associada a alterações crónicas (antigas) a nível da estrutura do tendão, com desorganização das fibras tendinosas e dos vasos sanguíneos, a chamada tendinose da coifa, que é a mais frequente tendinopatia do ombro (patologia dos tendões desta articulação).
O tratamento fisiátrico na tendinite do ombro é fundamental também para impedir a diminuição das amplitudes articulares e da força dos músculos do ombro, isto é, para evitar que o ombro deixe de ter a funcionalidade que tinha antes de surgir a dor. É que normalmente o paciente faz menos vezes os movimentos que lhe despertam mais dor, o que pode dar origem a um défice de mobilidade e de força muscular do ombro, sobretudo se a dor persistir por algum tempo.
Saiba, aqui, o que é tendinite do ombro.
Medidas gerais do tratamento
Na tendinite do ombro deve-se efetuar, dentro do possível, um repouso relativo desta articulação, evitando principalmente movimentos repetitivos e/ou com carga com esse braço, sobretudo se acima da cabeça.
Durante o período do sono, se é habitual dormir de lado, deve-se tentar não adormecer com o corpo por cima do ombro que está a doer.
Devem também ser evitados movimentos e/ou posturas em que o braço levanta de lado (abdução do membro superior), como por exemplo pegar num bilhete de estacionamento (quando se está dentro do carro) ou conduzir com o braço apoiado na janela.
O tratamento na tendinite do ombro pode incluir, para além da fisioterapia, diversas medidas, como a administração de medicação anti-inflamatória e analgésica, entre outras.
Saiba, aqui, tudo sobre o tratamento da tendinite do ombro.
Em que consiste a fisioterapia?
A fisioterapia na tendinite do ombro utiliza diversos métodos e técnicas terapêuticas que têm como objetivos:
- aliviar a dor;
- controlar a inflamação;
- promover a melhor recuperação do tendão;
- evitar retrações da cápsula articular;
- equilibrar os músculos que intervém na mobilização do ombro;
- corrigir os movimentos incorretos do ombro;
- retomar / aumentar a funcionalidade do paciente.
Importância da anatomia funcional do ombro
As estruturas ósseas da articulação do ombro praticamente não lhe dão estabilidade. Ao mesmo tempo, é a articulação mais móvel de todo o corpo, pelo que são as estruturas não ósseas (como por exemplo a cápsula, o labrum, os ligamentos e os músculos) que lhe dão a estabilidade. As exigências dos gestos do dia-a-dia e da atividade profissional e/ou desportiva originam mais frequentemente alterações de sobrecarga mecânica nestas estruturas não ósseas.
A tendinite do ombro surge essencialmente por sobrecarga a nível dos tendões, que são a estrutura através da qual os músculos se inserem nos ossos, podendo neste caso os tendões ser encarados como “o elo mais fraco”, em especial o tendão do músculo supra-espinhoso.
Esta sobrecarga tendinosa da articulação do ombro pode surgir por inúmeras razões, sendo de salientar a realização de movimentos com repetições excessivas e/ou cargas elevadas (sobretudo se acima da cabeça) e a não correta ação conjunta dos diversos músculos que promovem a estabilização do ombro, por disfunção / desequilíbrio muscular. Os fatores ditos anatómicos, ou seja, que variam de pessoa para pessoa (como por exemplo a forma dos ossos que fazem parte da articulação), podem também predispor ou não a maior sobrecarga dos tendões do ombro.
A própria dor da tendinite / tendinose vai contribuir para diminuir a estabilidade dinâmica da articulação do ombro (centragem da cabeça do úmero na omoplata), por inibição da atividade sobretudo dos músculos estabilizadores da omoplata.
Como estabelecer o programa de fisioterapia?
O programa de fisioterapia para a tendinite do ombro é sempre individualizado, ou seja, é estabelecido pelo médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação (Fisiatra) de acordo com os sintomas e o quadro do paciente não só a nível do ombro, mas também a nível de outras articulações e ainda de possíveis patologias (doenças) do doente. A idade é também um fator importante a ter em conta.
O tratamento fisiátrico nesta patologia inflamatória do ombro vai depender das queixas do doente, sobretudo da intensidade da dor, e também da objetivação ou não de défices de mobilidade articular e/ou de força muscular no exame clínico. Em alguns casos a inflamação está associada à existência de calcificações do tendão, o que também tem que ser tido em conta aquando da decisão do tratamento mais adequado.
As sessões de fisioterapia devem ser diárias e a duração do tratamento (número de sessões) é sempre dependente da evolução de cada caso, mas é frequentemente prolongada.
Modalidades e técnicas de Fisioterapia
A massagem é uma técnica amplamente usada, nas suas diversas vertentes, dependendo do quadro clínico.
Para diminuir a sobrecarga tendinosa a nível da articulação do ombro o tratamento fisioterapêutico deve incluir uma série de técnicas de mobilização e de reforço muscular que visam restabelecer a harmonia dos movimentos do ombro, sobretudo se no exame clínico se encontraram défices de mobilidade e/ou de força muscular.
É fundamental que se contrarie a elevação anómala da cabeça do úmero nos diversos movimentos do braço, ou seja, que se trabalhe a recentragem da cabeça umeral na omoplata, incluindo com exercícios (sempre adequados a cada caso) que globalmente reforcem os músculos centradores e abaixadores da cabeça umeral (músculos da coifa dos rotadores e músculos grande dorsal e grande peitoral).
É também essencial que se contrarie o desvio da omoplata para o lado, sobretudo na elevação do braço, igualmente com exercícios de reforço muscular (específicos para cada quadro) que de forma global promovam a estabilização da omoplata (músculos serreado anterior, trapézio e rombóides).
O fortalecimento muscular deve ser efetuado com diversos métodos e utilizando diferentes tipos de exercícios, tentando também atingir o equilíbrio entre os músculos agonistas / antagonistas do ombro, nomeadamente a nível dos rotadores internos / externos (estes últimos encontram-se muitas vezes deficitários em relação aos primeiros). Relativamente ao músculo deltóide, deve existir algum cuidado no seu reforço, sobretudo da sua porção intermédia, já que promove a elevação da cabeça umeral.
Os estiramentos da cápsula articular são uma técnica frequentemente utilizada, sobretudo para a porção posterior da cápsula.
O treino propriocetivo é um trabalho em que são utilizados exercícios com aumento progressivo da sua dificuldade e instabilidade, para que a articulação do ombro exerça a sua ação de forma adequada e automática, nomeadamente a nível muscular e postural.
O programa de reabilitação do ombro pode ser efetuado sob a forma de Hidroterapia ou, idealmente, ser complementado com este tipo de tratamento.
Quando o doente está motivado e executa corretamente os exercícios na sessão terapêutica, devem também ser-lhe ensinados exercícios simples para que os realize em casa, reforçando sempre a importância das corretas posturas.
Para a completa reabilitação da tendinite do ombro deverão ser avaliados os gestos e as posturas do paciente na sua atividade profissional ou desportiva, para que, se necessário, se façam as modificações adequadas.
Atividade física e tendinite do ombro
Após uma tendinite do ombro cada paciente pode e deve manter os exercícios indicados para o seu quadro.
De uma forma geral, a atividade física após a resolução do quadro doloroso é sempre aconselhada, mas nunca se deve ignorar o re-aparecimento da dor no ombro.
Em relação a outros exercícios específicos para os braços, a sua retoma deve ser muito progressiva, não se deve efetuar um reforço muscular excessivo, não se devem fazer exercícios em abdução pura (com o braço levantado de lado) e devem-se utilizar de forma ponderada os exercícios com movimentos acima da cabeça.