A cirrose é uma doença hepática (do fígado) crónica, caraterizada pelo desenvolvimento de cicatrizes (fibrose) que afetam a função do fígado e que podem evoluir para a falência completa deste importante órgão do aparelho digestivo. Desta forma, o fígado vai perdendo a capacidade de realizar as suas funções, nomeadamente o processamento de nutrientes e a produção de proteínas e da bile, desempenhando um papel essencial na digestão.
A cirrose hepática pode ser causada por diversas etiologias - hepatite C, hepatite B, consumo de álcool, doença do fígado gordo ou outras etiologias mais raras. Em Portugal, o consumo excessivo do álcool, hepatite C e doença do fígado gordo são as principais causas de cirrose. Veja mais informação em causas da cirrose.
A cirrose pode ser assintomática (não provocar sintomas) durante anos. Assim, é uma doença que evolui de forma silenciosa durante anos, provocando agressões no fígado que se tornam irreversíveis, muitas vezes evoluindo para estadios avançados que dificultam o tratamento e levando muitas vezes à morte. Desta forma, é muito importante que o diagnóstico da doença seja efetuado o mais precocemente possível de modo a evitar a progressão da hepatite crónica e das suas complicações associadas.
Nos doentes de risco, nomeadamente naqueles com hábitos de consumo abusivo do álcool ou de outras substâncias tóxicas, e nos doentes com diagnóstico de doença do fígado confirmada (ex. hepatite) deve existir um acompanhamento regular pelo médico gastrenterologista (especialista em doenças do aparelho digestivo).
Sinais e sintomas da cirrose
Podemos dividir a cirrose em duas fases:
Fase compensada
Corresponde aos estadios iniciais da doença. Durante este período, a cirrose é assintomática (não apresenta qualquer sinal ou sintoma).
Fase descompensada
Corresponde à fase de maior gravidade. Nesta fase da doença, surgem os sinais, sintomas e complicações graves.
Na fase descompensada, a cirrose pode provocar vários sinais e sintomas, a saber:
- Fadiga;
- Sangramentos frequentes;
- Perda de apetite;
- Perda de peso;
- Náuseas;
- Edema (inchaço) nas pernas, tornozelos ou pés;
- Ascite: “inchaço” abdominal (habitualmente chamado de “barriga grande” ou “barriga de água”);
- Prurido (comichão);
- Pele e olhos amarelados (icterícia);
- Manchas avermelhadas nas palmas das mãos;
- Nas mulheres, amenorreia (ausência da menstruação);
- Nos homens, perda do desejo sexual (líbido), disfunção erétil ou atrofia testicular;
- Outros.
Causas da cirrose
A cirrose é, geralmente, considerada uma consequência de outra patologia, e conta com uma grande variedade de causas subjacentes, a saber:
- Doença hepática alcoólica (abuso de bebidas alcoólicas);
- Hepatites crónicas, como a (hepatite B, C ou D) e hepatite autoimune;
- Gordura acumulada no fígado e problemas associados à obesidade (excesso de peso);
- Fibrose cística;
- Cirrose biliar primária (destruição de ductos biliares);
- Hemocromatose (acumulação de ferro no fígado);
- Doença de Wilson (acumulação de cobre no fígado);
- Vias biliares anormais (atresia biliar);
- Alguns medicamentos como metotrexato.
Diagnóstico da cirrose
O diagnóstico de cirrose é realizado, geralmente, através da história clínica do doente, em conjunto com alguns dos seguintes meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT):
- Análises ao sangue: permite avaliar os níveis de bilirrubina e certas enzimas que possam indicar danos no fígado;
- Exames de imagem, como uma ecografia ou TAC abdominal: este tipo de exames permite avaliar diretamente o estado do fígado;
- Biópsia: A extração de uma amostra de tecido do fígado permite avaliar, em laboratório, a extensão dos danos do órgão.
- Outros.
Saiba, aqui, o que é ecografia abdominal.
Saiba, aqui, o que é TC ou TAC abdominal.
Complicações da cirrose
O fígado pode ser afetado por diversas patologias, e sempre que isto acontece, é formado tecido cicatricial, de modo a reparar o órgão. A fibrose no fígado pode ser irreversível, embora possa ser possível tratar a patologia de forma a evitar a progressão da doença, conhecendo o agente causador dos danos.
Quando não tratada atempadamente, a cirrose pode provocar diversas complicações:
- Aumento da pressão nos vasos sanguíneos que fornecem o fígado (veia porta), podendo provocar hemorragias e sangramentos internos;
- Risco elevado de cancro no fígado;
- Infeções graves;
- Acumulação de toxinas no cérebro (encefalopatia hepática). O fígado quando danificado não é capaz de filtrar as toxinas do sangue que, com o tempo, se acumulam no cérebro. Estas toxinas acumuladas podem provocar dificuldades de concentração, lentificação psicomotora e confusão mental. Quando grave, pode mesmo levar ao coma e até à morte;
- Alterações renais.
A cirrose tem cura?
As lesões do fígado são irreversíveis (não existe forma de as reverter). Como visto anteriormente, a cirrose pode ser provocada por diversas causas subjacentes, sendo o prognóstico mais favorável quando o diagnóstico é realizado nos estadios iniciais da doença.
Como a fibrose no fígado é irreversível, o controlo da doença em fases mais avançadas é mais complicado, sendo extremamente importante diagnosticar a cirrose o mais cedo possível. Com um diagnóstico atempado, o tratamento adequado pode ser administrado, não revertendo as lesões existentes, mas evitando ou retardando a progressão da doença.
Tratamento da cirrose
O tratamento da cirrose visa tratar a causa subjacente da doença, podendo também variar dependendo da gravidade da doença hepática.
Se a doença ainda estiver nos estágios iniciais, é possível minimizar a criação de cicatrizes no fígado através da adoção de um estilo de vida mais saudável, a saber:
- Parar imediatamente o consumo de bebidas alcoólicas;
- Fazer uma dieta saudável, rica em frutas e vegetais. Evitar alimentos com alto teor de sódio e gorduras saturadas;
- Manter um peso saudável;
- Fazer exercício regularmente;
- Tratamento de outras causas de doença no fígado.
Quando a cirrose está numa fase mais avançada, o médico gastrenterologista (especialista em doenças do aparelho digestivo) pode optar por prescrever alguma medicação para controlar a progressão da fibrose, melhorar o desconforto causado pelos sintomas (prurido, fadiga, etc.) e prevenir o desenvolvimento de complicações.
O tratamento é, geralmente, feito com recurso a medicamentos (remédios) como betabloqueadores, de modo a controlar a hipertensão criada na veia porta, reduzindo assim o risco de algumas das principais complicações.
Nos casos mais graves de cirrose, quando o fígado deixa completamente de funcionar, pode ser necessário recorrer à cirurgia de transplante de fígado.
Transplante do fígado
O transplante de fígado é feito em último recurso e nem todas as pessoas são elegíveis para o transplante hepático.
O transplante de fígado é uma operação de substituição do fígado danificado, por um saudável proveniente de um dador (uma pessoa recentemente falecida ou parte de um doador).
A cirurgia é realizada através de uma incisão no abdómen, de forma a criar uma passagem onde é retirado o fígado danificado e colocado o saudável. A colocação do novo fígado é seguida de uma reconstrução das vias biliares através do ducto biliar do doente ou com um segmento do intestino.
É importante manter um estilo de vida saudável após a cirurgia, de modo a evitar possíveis complicações na recuperação (rejeição do transplante) e/ou novo surgimento da doença.
Prevenção da cirrose
Como vimos anteriormente, a cirrose possui várias causas associadas, sendo uma das mais frequente o consumo de álcool.
Em muitas pessoas, o consumo excessivo de álcool é uma adição (dependência), sendo considerado um grave problema de saúde pública e que pode provocar inúmeras complicações, onde se inclui a cirrose. É possível através de um acompanhamento adequado reduzir ou mesmo eliminar o consumo de álcool, sendo este desígnio extremamente importante na saúde do adito.
Saiba, aqui, tudo sobre dependência do álcool.
A obesidade é outro fator importante a considerar na cirrose. É essencial, por isso, adotar medidas que permitam prevenir a obesidade, como adotar um estilo de vida saudável, nomeadamente, fazer exercício físico regularmente e efetuar uma alimentação rica e equilibrada. Em caso de excesso de peso, é muito importante adotar uma dieta que lhe permita reduzir o peso para os valores normais.
Saiba, aqui, tudo sobre emagrecimento saudável.
A hepatite é uma doença com muito impacto no desenvolvimento da cirrose hepática. Trata-se de uma doença contagiosa, ou seja, transmite-se ou “pega-se” de pessoa para pessoa se não forem adotadas algumas medidas preventivas - as principais formas de transmissão são por via sanguínea (partilha de seringas, contacto com objetos contaminados com sangue) ou por via sexual.
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Veja mais informação sobre prevenção em cada uma das causas associadas com a cirrose hepática.