Dispepsia, também conhecida como indigestão (ou má digestão), refere-se ao desconforto ou dor que ocorre na parte superior do abdómen, muitas vezes depois de comer ou beber.
Não é considerado doença, mas sim, um sintoma.
A dispepsia pode ser um problema passageiro e que se resolve espontaneamente, ou pode ser uma condição crónica, devendo nestes casos ser sempre estudada, pois pode estar associada a alguma patologia (veja causas da dispepsia) ou simplesmente relacionada com o estilo de vida. Neste caso, com algumas mudanças no estilo de vida podemos resolver o problema. Veja mais informação em “Tratamento da dispepsia”.
Sinais e sintomas da dispepsia
A dispepsia é um sintoma, no entanto pode vir acompanhado de outros sinais e sintomas, geralmente, esporádicos. No entanto, mesmo casos de dispepsia funcional ou crónica podem cursar com períodos mais calmos em que a sintomatologia pode desaparecer durante algum tempo e depois voltar por razões aparentemente desconhecidas.
Alguns dos sinais e sintomas que acompanham a indigestão incluem:
- Dor epigástrica - Dor na parte superior do abdómen, na transição do tórax para o abdómen. Esta região, chamada de epigastro, é onde se encontra o estômago, intestino delgado, pâncreas e fígado;
- Enfartamento (“barriga inchada”) - Sensação de enfartamento precoce ou saciedade na zona da “barriga”, especialmente depois de comer;
- Saciedade precoce ou perda de apetite - Sentir-se "cheio" muito rapidamente durante ou após as refeições;
- Azia - Dor ‘ardente’ na região entre o estômago e o esófago, geralmente devido a refluxo ácido;
- Refluxo ácido - O ácido do estômago sobe através do esófago, criando uma sensação de ardência e, muitas vezes, um desconforto e gosto azedo na boca;
- Náuseas e vómitos - Em casos graves, a saciedade e a perda de apetite podem evoluir para náuseas ou vómitos.
Dispepsia na gravidez
A dispepsia é comum durante a gravidez, especialmente no último trimestre.
Isto acontece devido às mudanças hormonais e à maneira como o feto pressiona o estômago aumentando a pressão intraabdominal, podendo causar vários dos sintomas acima referidos.
Trata-se de uma condição normal e que resolve espontaneamente após o parto.
Saiba, aqui, tudo sobre gravidez.
Causas de dispepsia
Existem inúmeros fatores que podem ser a causa subjacente de dispepsia. Estas causas podem ser graves como patologias existentes, ou apenas certas escolhas alimentares:
Algumas patologias (doenças)
Existem várias patologias que podem causar a indigestão, a saber:
- Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE);
- Úlceras;
- Gastroparesia (uma doença em que o estômago não esvazia adequadamente - geralmente ocorre em pessoas com diabetes);
- Infeções estomacais, como por exemplo pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori);
- Síndrome do intestino irritável;
- Pancreatite crónica;
- Doença da tiróide;
- Doença de vesícula biliar.
Certos medicamentos
Certos medicamentos podem também provocar a indigestão:
- Aspirina e outros analgésicos, como AINEs - ibuprofeno e naproxeno;
- Estrogénio e contracetivos orais;
- Medicamentos esteróides;
- Certos antibióticos;
- Medicamentos para a tiróide.
Estilo de vida
Várias atividades e opções no estilo de vida podem levar à dispepsia, nomeadamente:
- Comer em demasia;
- Comer muito rápido, levando à ingestão de muito ar durante a refeição;
- Ingerir alimentos ricos em gordura;
- Consumo excessivo de álcool;
- Tabagismo;
- Stress e fadiga.
Dispepsia funcional vs. gastrite?
Gastrite e dispepsia partilham muitos sinais e sintomas, e um doente pode ter ambos.
A gastrite, que é a inflamação do revestimento do estômago, contudo, tem uma causa subjacente, geralmente, fácil de identificar. Pode ser uma infeção bacteriana, uso excessivo de certos medicamentos para a dor que lesam o revestimento do estômago (AINEs) ou excesso de ácido produzido pelo estômago.
Se um doente apresentar dispepsia, a gastrite pode ser parte do problema. Ao tratar a gastrite, a sintomatologia da indigestão pode aliviar, contudo, não é um alívio total.
Saiba, aqui, o que é gastrite.
Diagnóstico da dispepsia
Se o paciente sentir indigestão frequentemente, deve marcar uma consulta com um médico gastroenterologista (especialista em gastroenterologia), de modo a diagnosticar corretamente a causa subjacente deste problema.
Para além da avaliação clínica, o médico especialista pode utilizar vários meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), de modo a identificar a causa especifica da dispepsia ou indigestão:
- Análises ao sangue;
- Radiografia ao estômago ou intestino delgado;
- Endoscopia digestiva alta;
- Exames de modo a identificar a existência de uma bactéria chamada Helicobacter pylori (H. pylori).
Complicações da dispepsia
Em casos raros, a indigestão grave e persistente pode levar a várias complicações, a saber:
- Esofagite - A exposição persistente ao ácido pode causar o desenvolvimento de lesões no esófago denominadas erosões, que não são mais que pequenas feridas causadas pela exposição constante ao ácido;
- Esófago de Barrett - A exposição persistente ao ácido pode não só levar a esofagite, mas também ao desenvolvimento de esófago de Barrett, uma lesão do esófago com potencial maligno que se caracteriza pela substituição da mucosa do estômago por mucosa intestinal e que obriga a um seguimento apertado;
- Estenose esofágica - A exposição persistente ao ácido do estômago pode causar cicatrizes no trato gastrointestinal superior. O trato pode ficar estreito e apertado, causando dificuldade de deglutição e dor torácica. A cirurgia pode ser necessária para ampliar o esôfago;
- Estenose pilórica - Em alguns casos, o ácido do estômago pode causar irritação a longo prazo do piloro (passagem entre o estômago e o intestino delgado). Se o piloro ficar com cicatrizes, ele pode estreitar, podendo causar a incapacidade de digerir os alimentos adequadamente e eventualmente a necessidade de uma operação;
- Úlceras gástricas ou duodenais - A exposição constante ao ácido no estômago e duodeno pode levar ao desenvolvimento de úlceras que podem causar hemorragia ou mesmo perfuração. A presença de uma úlcera gástrica obriga sempre ao diagnóstico diferencial com cancro do estômago.
A dispepsia tem cura?
A dispepsia quando isolada tem um prognóstico bastante favorável e é fácil de tratar.
Para a maioria das pessoas com indigestão crónica, é crucial efetuar um diagnóstico atempado, de modo a facilitar a identificação de fatores que possam piorar a situação e também para o paciente aprender, de forma precoce, a lidar com a sua própria sintomatologia e realizar tratamento adequado.
Tratamento da dispepsia
O tratamento da dispepsia depende da causa e da gravidade da situação. Muitas vezes, tratar uma causa subjacente ou mudar a medicação de uma pessoa melhora, por si só, a sintomatologia, causando um maior conforto ao doente
Mudanças no estilo de vida
Para sintomas ligeiros e pouco frequentes, as alterações do estilo de vida podem ajudar e prevenir a indigestão. Estas incluem:
- Evitar ou limitar a ingestão de alimentos que possam afetar o doente, como fritos, chocolate, cebola, alho e limão, por exemplo;
- Beber água em vez de refrigerantes;
- Limitar a ingestão de cafeína e álcool;
- Comer refeições com menores quantidades, mas maior frequência ao longo do dia;
- Comer devagar;
- Manter um peso saudável (evitar a obesidade);
- Evitar roupas apertadas;
- Esperar 3 horas ou mais após uma refeição, antes de ir para a cama;
- Se é fumador, parar de fumar imediatamente.
Tratamento medicamentoso
Apenas após um diagnóstico conclusivo é que o médico pode instituir o tratamento de acordo com a causa subjacente.
Para sinais e sintomas graves ou frequentes, o médico especialista pode recomendar alguma medicação. Existem vários medicamentos (remédios) e tratamentos disponíveis, dependendo da causa subjacente da dispepsia:
- Antiácidos - Estes contrariam os efeitos do ácido gástrico. O médico especialista geralmente recomenda um medicamento antiácido como um dos primeiros tratamentos para a dispepsia;
- Antagonistas de recetores H-2 - Estes reduzem os níveis de ácido gástrico e são mais eficazes do que os antiácidos. Alguns podem ter um risco de efeitos secundários;
- Inibidores da bomba de prótons (IBPs) - Os IBPs reduzem o ácido estomacal e são mais fortes que os antagonistas dos recetores H-2, sendo a principal arma terapêutica;
- Pró-cinética - Estes podem ajudar a impulsionar o movimento do alimento através do estômago. Os efeitos secundários podem incluir cansaço, depressão, ansiedade e espasmos musculares;
- Antibióticos - Na presença de infeção por Helicobacter pylori, o médico especialista deve prescrever um antibiótico para a sua erradicação;
- Antidepressivos - Às vezes, um problema no sistema nervoso central pode levar a problemas digestivos. Uma baixa dose de um antidepressivo pode ajudar a melhorar.
Se a medicação de uma pessoa parece ser um fator para indigestão, o médico gastroenterologista pode recomendar o ajuste da dose ou tipo de medicamento. É importante mudar o tratamento apenas sob a supervisão de um médico gastroenterologista.
O doente nunca se deve automedicar ou tentar qualquer tipo de tratamento natural sob pena de poder agravar o quadro clínico.