A gastrite é o termo que define um conjunto de situações que se caraterizam por inflamação do revestimento interno (mucosa) do estômago.
É uma situação clínica muito frequente, e o seu diagnóstico baseia-se na realização da endoscopia digestiva com observação direta do estômago e colheita de amostras de tecido (biópsias) para exame histológico.
Gastrite aguda, crónica
As gastrites podem ocorrer de uma forma súbita, designando-se neste caso de gastrite aguda, e resultam geralmente do efeito nocivo de certos químicos e agentes infeciosos sobre a mucosa gástrica.
As gastrites crónicas, que são situações mais frequentes do que as anteriores, evoluem lentamente ao longo do tempo e podem ser totalmente assintomáticas. A inflamação crónica da mucosa gástrica pode resultar na sua atrofia, definida pela perda das glândulas e diminuição da espessura total da mucosa, condições que proporcionam a formação de úlceras e aumentam a probabilidade de desenvolvimento de cancro gástrico.
Tipos de gastrite
A existência de vários tipos de gastrite assim como a descoberta do Helicobacter pylori (Hp) como seu principal agente etiológico levaram à criação de um sistema de classificação para uniformizar a classificação das gastrites. Este sistema designa-se por Sistema de Sydney cuja intenção é orientar o modo com se devem classificar as gastrites, tendo em consideração os fatores etiológicos, topográficos, clínicos e morfológicos. Este sistema engloba uma divisão histológica, baseada nos achados de biópsia e uma classificação endoscópica baseada nos achados endoscópicos.
Na divisão endoscópica, a gastrite pode estar localizada predominantemente no antro, corpo ou em todo o estômago designando-se neste caso de pangastrite.
Consoante a categoria endoscópica que melhor se coaduna com o aspeto observado, a gastrite pode ser classificada como eritematosa, exsudativa, erosiva ou hemorrágica. Por fim, atribui-se um grau de intensidade às alterações observadas, designadamente, ligeiras, moderadas ou marcadas.
Na divisão histológica são avaliados outros aspetos como a presença de atrofia, metaplasia intestinal (substituição do epitélio gástrico por epitélio do tipo intestinal) e a presença de infeção pelo Hp.
Conjugando os vários aspetos, as gastrites podem ser classificadas em:
1. Gastrites agudas:
- Hemorrágicas;
- Fleimonosas;
- Relacionadas com o Hp.
2. Gastrites crónicas (habitualmente associadas ao Hp);
3. Formas especiais de gastrite:
- Linfocítica;
- Granulomatosa;
- Eosinófilica;
- Colagénica;
- Radiação;
- Infeciosa.
Causas da gastrite
A gastrite pode ser causada por ingestão de agentes agressivos como bebidas alcoólicas, uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), ou infeção por agentes infeciosos como o Hp.
Por vezes, a gastrite desenvolve-se depois de uma grande cirurgia, lesão traumática, queimadura ou infeção grave. Algumas doenças, como anemia perniciosa, doenças autoimunes e refluxo crónico de bile também podem causar gastrite.
Sintomas da gastrite
Muitas das gastrites podem permanecer assintomáticas, no entanto os principais sinais e sintomas referidos pelos doentes são: epigastralgia (dor na região central do abdómen), náuseas e vómitos, distensão abdominal e sensação de queimor.
A presença de sangue no vómito ou nas fezes pode indicar uma complicação que requer atenção médica imediata.
Diagnóstico da gastrite
A gastrite pode ser diagnosticada através de um ou mais exames:
- Endoscopia digestiva alta. Consiste na inserção de um endoscópio, um tubo fino contendo uma pequena câmara, através da boca (ou às vezes pelo nariz) para observação do revestimento do estômago. O exame verificará se há inflamação e possibilita a remoção de uma pequena amostra do tecido para testes;
- Teste sanguíneo. A presença de anemia pode ser um indicador de sangramento no estômago;
- Exame de fezes. Este teste verifica a presença de sangue nas fezes, um sinal de sangramento.
Saiba, aqui, tudo sobre endoscopia digestiva alta.
Complicações da Gastrite
As complicações da gastrite, que podem surgir quando o tratamento não é feito corretamente, são:
- Úlcera péptica;
- Anemia;
- Gastrite atrófica;
- Cancro gástrico.
Gastrite tem cura?
O tratamento da causa é a forma mais eficaz para atenuar ou resolver a gastrite. Por exemplo, se a causa da gastrite é infeção por Hp o tratamento com antibióticos pode resolver a infeção e a gastrite associada. Se a causa é o uso de medicações como por exemplo os AINEs, a suspensão do seu uso geralmente resolve a situação.
No entanto, nas situações de gastrite crónica, mesmo após tratamento podem persistir alterações na mucosa gástrica que necessitam de vigilância pelo risco associado de complicações.
Tratamento da gastrite
O tratamento da gastrite deve ser orientado pelo médico gastrenterologista (especialista em doenças do aparelho digestivo). Esse tratamento passa, geralmente, pela prescrição de medicamentos que reduzem a acidez do estômago ou antibióticos para erradicar a infeção pelo Hp.
O doente nunca se deve automedicar, ou seja, tomar qualquer medicação de venda em farmácia ou outra sem prescrição médica, pois esta atitude pode mascarar ou atrasar o diagnóstico de complicações associadas à gastrite.
Dieta para quem tem gastrite
Ingerir pequenas refeições frequentemente e evitar certo tipo de alimentos que são picantes, ácidos ou com grande teor de gordura pode ajudar a reduzir os sintomas de gastrite. O controlo de fatores emocionais, como o stress, também pode ajudar. Exemplo de alguns alimentos que podem ajudar a aliviar os sintomas e retardar o crescimento do Hp incluem:
- Frutos vermelhos;
- Vegetais verdes;
- Alho e cebola;
- Sumo de cenoura;
- Certo tipo de cereais.
Devem ser evitadas as bebidas alcoólicas pois elas agravam os sintomas e podem desencadear complicações.
Como prevenir a gastrite?
Condições de higiene e sanitárias adequadas, aliadas a uma dieta alimentar saudável e equilibrada, podem garantir o bem-estar e evitar que a gastrite surja.
Algumas formas de evitar a gastrite de maneira saudável:
- Consumir verduras, legumes e frutas;
- Evitar o consumo exagerado de gorduras, cafeína, álcool e condimentos ácidos e picantes;
- Fazer no mínimo três refeições ao dia em ambiente tranquilo;
- Não exagerar na quantidade de alimentos por refeição e mastigar bem os alimentos;
- Evitar temperaturas extremas (muito quente ou muito gelada);
- Beber líquidos com frequência, exceto nos horários das refeições;
- Evitar o consumo de AINEs sem prescrição médica.