A cirurgia de endometriose (ou operação) é o procedimento que visa diagnosticar e/ou tratar a endometriose. Apesar de englobar um conjunto de procedimentos usados noutras circunstâncias em cirurgia ginecológica, apresenta, habitualmente, dificuldade técnica e clínica acrescida. É mais difícil de realizar pelas alterações anatómicas e dos tecidos que a doença provoca, e implica por vezes basear a decisão de operar e/ou tratar radicalmente a doença não só nos critérios de gravidade da doença, mas também nos seus desejos e necessidades.
A cirurgia de endometriose tem indicações muito específicas, e constitui um desafio clínico e técnico. Clínico porque a extensão da doença e as queixas da doente muitas vezes não se relacionam, ou seja, não é certo que uma endometriose com critérios de gravidade provoque mais dores, ou vice-versa. Desafio técnico porque é habitualmente difícil operar, por causa de todos os fenómenos relacionados com a doença e que provocam, em primeiro lugar, a necessidade de cirurgia.
A operação neste contexto deve ser executada por um ginecologista conhecedor do contexto e objetivos da doente. Pela dificuldade cirúrgica, é por vezes mais fácil retirar um anexo (trompa e ovário) do que um quisto, o que pode até ser adequado no contexto da doente com mais de 40 anos que não pretende mais filhos. Uma atitude menos radical na cirurgia é habitualmente desejável, por outro lado, na doente em contexto de infertilidade.
A cirurgia na endometriose profunda apresenta vários desafios suplementares, como já vimos no diagnóstico, mas também cirurgicamente. Não raras vezes envolve órgãos como intestino grosso (reto, sigmóide) ou bexiga que necessitarão de ser envolvidos e requererão atos específicos com os quais o cirurgião estará familiarizado, ou com a participação de outros especialistas que ajudarão no procedimento. Por vezes a abordagem será feita por várias especialidades. Em situações muito particulares e raras, nem será um ginecologista a realizar o procedimento, nomeadamente numa endometriose do pulmão.
Em casos bem selecionados (e graves), a cirurgia pode ser radical, no sentido de tentar a cura. A cirurgia neste caso pode passar por retirar o útero e ovários, bem como toda a doença visível, o que provoca a menopausa e, com isso, a cura da doença (com excepção das lesões relacionadas com fibrose já existentes. Esta será sempre uma solução que terá de ser muito bem ponderada, pelos seus riscos acrescidos, mas sobretudo pelo potencial de prejudicar mais do que ajudar, quando a doença puder ser bem controlada de outro modo (tratamento médico).
A cirurgia será frequentemente feita por laparoscopia ou video laparoscopia, que, como já abordamos, permite o diagnóstico e tratamento da doença, com uma série de vantagens ao nível das complicações, recuperação e estética, por ser minimamente invasiva. A abordagem consiste habitualmente em preencher a cavidade abdominal com um gás, sendo feita de uma a quatro incisões, onde se inserem os instrumentos que permitem a visualização e intervenção nos órgãos pélvicos (ver imagem superior). São poucas as contraindicações para este tipo de cirurgia na endometriose, e, pelo contrário, será altamente recomendável na maioria das situações.
Saiba, aqui, o que é endometriose.
Indicações da cirurgia de endometriose
Parte do elevado desafio que a endometriose apresenta é decidir quando operar. A cirurgia poderá não resolver as queixas, e, em situações particulares, estas poderão até aumentar, pelo que a abordagem deve ser individualizada ao caso particular.
Por vezes uma lesão de endometriose é grande ou incómoda o suficiente para causar uma diminuição significativa da qualidade de vida. Nestes casos, a cirugia poderá ser uma opção, tal como poderá ser vantajoso retirar as trompas no contexto de tratamento de infertilidade, quando estas se encontram muito dilatadas (hidrossalpinge).
De uma forma esquemática, poderão ser indicações de cirurgia a falha dos medicamentos em controlar a doença, massa(s) grande(s) ou cujo diagnóstico é incerto e infertilidade, na presença de alterações relevantes (massas, trompas dilatadas, etc).
É importante lembrar que o contexto de infertilidade ou de uma mulher que pretende vir a ter filhos é muito específico e implica ainda maior cuidado na indicação e planeamento cirúrgico. A gravidez e tratamentos de fertilidade com gâmetas (células – ovócitos) da própria mulher dependem da correta conservação dos ovários (ambos), para que seja maximizada a probabilidade de atingir os objetivos reprodutivos da mulher no futuro. A doença é já muito agressiva para a reserva ovárica, pelo que a cirurgia não deve ser um fator prejudicial adicional até a mulher ter os filhos que pretende.
Saiba, aqui, tudo sobre o tratamento da endometriose.
Veja fotos superiores (útero e anexos visualizados por laparoscopia).
Cirurgia de endometriose - riscos, complicações
Como já foi abordado, a cirurgia de endometriose é de planeamento muitas vezes complexo, difícil tecnicamente e engloba estruturas, como os ovários, cuja preservação é de extrema importância em grande parte das mulheres afetadas.
Como tal, a ponderação necessária na decisão de operar prende-se com os riscos envolvidos.
Como qualquer outra cirurgia deste tipo, tem os riscos associados ao procedimento anestésico. Tem ainda os riscos específicos ao local abordado cirurgicamente e da técnica envolvida (cirurgica clássica ou por laparoscopia). A doença grave e a cirurgia em endometriose profunda aumenta os riscos de perfuração intestinal ou de outra estrutura ou orgão pélvico.
As alterações expectáveis com a doença e que dão origem à maioria das manifestações, como as aderências e fibrose, que provocam a dor, dificultam também, e muito, a execução técnica, pelo que uma cirurgia habitualmente simples, como retirar uma trompa, um ovário, ou ambos, poderá ser muito mais difícil no contexto de endometriose, o que aumenta o risco de complicações.
O correto planeamento cirúrgico, com um cirurgião experiente na doença, diminui estes riscos, e, sobretudo, permite que as complicações que surjam sejam mais facilmente ultrapassáveis. Reservar a cirurgia para situações que realmente possam beneficiar do procedimento é também importante neste contexto.
Cirurgia de endometriose - pós operatório
A recuperação de uma cirurgia sem complicações imprevistas é habitualmente rápida, tendo em conta que a maioria das doente são relativamente jovens, especialmente se a técnica usada foi laparoscópica.
A gravidez após cirurgia deverá ser discutida com o ginecologista, já que poderá haver indicações específicas dependendo do caso ou procedimento realizado. Por vezes, em contexto de infertilidade, pode haver benefício em programar um tratamento pouco tempo após a cirurgia (poucos meses), eventualmente com medicação já específica neste contexto, pelo que deve ser coordenada a cirurgia com o especialista em fertilidade, se não fôr o mesmo que opera.
Cirurgia de endometriose - preço
Depois da decisão da cirurgia como melhor opção para a doente, a localização, extensão da doença e necessidades verificadas no planeamento cirúrgico definem a complexidade, procedimentos envolvidos e, com isso, o preço do procedimento.
Tratam-se de procedimentos tão variados quantas as apresentações possíveis da doença.
Apenas o médico poderá, após avaliação em consulta, discutir as opções terapêuticas e, eventualmente, a opção cirúrgica. Poderá verificar na informação desta página que se trata de uma decisão que requer muita ponderação e individualização ao caso particular da doente, e, por isso, envolve sempre as preferências e necessidades específicas desta.