Um cisto ou quisto no ovário é, por definição, uma estrutura quística (cheia, pelo menos parcialmente, de material líquido) que se desenvolve no ovário. Entre 3 a 7% das mulheres entre os 25 e os 45 anos possuem pelo menos um quisto (corretamente identificado como tal). Apesar desta prevalência, é sempre motivo de grande preocupação para a mulher.
Todos os meses desenvolvem-se folículos no ovário normal (ver ciclo menstrual), um dos quais dará origem a um folículo com ovócito que permitirá uma gravidez. Este folículo, que pode chegar aos 25mm antes de romper, facilmente é (mal) interpretado como um “quisto” senão se tiver em atenção o contexto do ciclo. Habitualmente, essa denominação é reservada para patologia que não é compatível com o normal funcionamento do ovário (e com mais de 30mm).
Portanto, podemos dizer que uma mulher com pequenos “quistos” ou folículos não apresenta doença, na esmagadora maioria dos casos. Um ovário sem folículos (pequenos ou grandes) terá uma probabilidade muito maior de não funcionar corretamente, aparecendo mais frequentemente nas mulheres após a menopausa.
Quando se afasta deste normal funcionamento, um quisto ovárico pode desenvolver-se no ovário direito, esquerdo ou bilateralmente. Quando os quistos são múltiplos, muitas vezes pequenos e nos dois ovários (microcistos), o aspeto ecográfico leva à denominação de ovário poliquístico ou micropoliquístico. Este aspeto pode estar relacionado com uma doença - Síndrome do ovário poliquístico – mas não faz por si o diagnóstico e aparece frequentemente em mulheres sem nenhum tipo de problema.
Causas e tipos de quistos no ovário
Os quistos nos ovários podem ter diversas origens. As mais frequentes são doenças benignas do ovário. As diferentes causas podem dar origem a deferentes tipos de apresentação:
Quistos funcionais
Como o próprio nome indica, os quistos funcionais derivam do normal funcionamento do ovário, sendo dos mais frequentemente encontrados. Utilizamos este diagnóstico quando o quisto mede mais de 3cm (ultrapassa os habituais cerca de 25mm encontrados no normal funcionamento do ovário). Raramente as suas dimensões ultrapassam os 10 cm. São normalmente uniloculares (“simples”), tendo apenas uma cavidade, podendo ser anecoica (sem ecos refletidos na ecografia – conteúdo líquido simples, sem ou com poucas células) ou hiperecoica (líquido mais espesso, com conteúdo celular, como sangue).
Um quisto folicular pode ser originado de um folículo degenerado (que não ovulou). Um quisto lúteo origina-se de um folículo que, ao romper, sangrou mais que o habitual e/ou formou um hematoma (sangue coagulado) no seu interior – quisto hemorrágico, muitas vezes aumentando de tamanho. A hemorragia pode ainda aumentar as dores por se perder sangue para a cavidade abdominal.
Raras vezes estes quistos necessitam de tratamento, podendo ser usados analgésicos para controlo da dor e vigilância, na maioria dos casos, pois resolvem espontaneamente. A pílula diminui a probabilidade do seu aparecimento.
As dores podem, no entanto, motivar cirurgia para tratamento e/ou esclarecimento da causa.
Os quistos teca-luteínicos estão associados à gravidez, sendo que a maioria resolve espontaneamente e raras vezes estão associados a sintomas.
Tumores Germinativos
O quisto / cisto dermoide é uma doença benigna associada às idades mais jovens (pico nos 20 anos) contabilizando mais de 50% dos tumores ováricos nesta faixa etária. O teratoma cístico, ou cisto dermoide maduro, tem um risco de transformação maligna muito baixo (<2%) sendo mais frequente esta complicação depois dos 40 anos.
Trata-se de combinações de todos os tipos de tecidos, já que as células que lhes dão origem são passíveis de transformação para qualquer um daqueles. Podemos encontrar cabelos, gordura, músculo, cartilagem, pedaços de osso ou mesmo dentes no interior destes tumores benignos.
Muitas vezes aparecem bilateralmente e têm um aspeto ecográfico habitualmente característico, podendo a Ressonância Magnética Nuclear auxiliar no diagnóstico. Podem ser diagnosticados num exame de rotina, mas por vezes aparecem no contexto de torção anexial.
Os quistos dermoides tratam-se por cirurgia laparoscópica, na maioria dos casos.
Quistos inflamatórios do ovário
Habitualmente associados com Doença Inflamatória Pélvica, estes quistos são abcessos ou coleções líquidas resultantes de inflamação e infeção das estruturas anexiais (trompa de Falópio e ovário). No ovário são habitualmente abcessos que devem ser tratados com antibióticos e, por vezes, drenagem, que pode ser cirúrgica. Podem apresentar-se no contexto de uma infeção sintomática ou serem descobertos depois, com sintomas crónicos, como dor pélvica ou infertilidade.
Outros quistos do ovário
Quistos da trompa de Falópio, para tubares ou cistos de Morgani podem ser confundidos com quistos do ovário. Tecomas apresentam-se frequentemente após a menopausa, e produzem estrogénios (hormonas femininas), pelo que podem causar cancro endometrial, apesar de eles próprios serem benignos.
A probabilidade de patologia maligna do ovário, rara em idades jovens, deve ser avaliada por um ginecologista quando a massa/quisto é grande, com crescimento, e sem outra justificação.
A endometriose pode originar massas e quistos anexiais e no ovário.
Saiba, aqui, tudo sobre endometriose.
Sintomas de quisto no ovário
Os sinais e sintomas de quistos do ovário podem variar de nenhuns (sendo encontrados em exames de rotina) a apresentações agudas graves que necessitem de cirurgia.
Quando um quisto é grande (o risco aumenta com o tamanho) o ovário pode torcer o seu pedículo vascular (as suas veias e artéria) ficando sem fluxo sanguíneo ou com este fluxo muito diminuído. A torção origina dores agudas muito fortes e é urgente, na suspeita deste diagnóstico, efetuar cirurgia para preservar o tecido ovárico, evitando a remoção de um ovário e uma possível infertilidade ou subfertilidade futura.
A dor pélvica (dor de barriga) é muito comum e presente numa variedade grande de doenças, muitas das quais nada têm a ver com os ovários e útero, mas está muitas vezes associada a massas ou quistos grandes ou associados a um processo inflamatório (inflamação dos ovários, trompas e/ou útero).
Quistos muito grandes e assintomáticos (sem dores) podem simular um aumento de peso (a mulher pensa que engorda na barriga). Isto acontece mais frequentemente em mulheres após a menopausa.
Um quisto funcional pode ainda alterar um ciclo menstrual, tornando o mesmo irregular um ou dois ciclos (ver Irregularidades do ciclo menstrual).
A doença inflamatória pélvica pode dar dores fortes, febre, corrimento purulento e com mau cheiro, mas por vezes os sintomas são muito ténues e difíceis de identificar, tornando este problema num problema crónico. Por este motivo, um corrimento estranho, abundante, branco/amarelo e muito espesso, eventualmente com mau cheiro, deve ser motivo de visita ao médico, especialmente se associado a febre e dor pélvica.
Saiba, aqui, tudo sobre corrimento vaginal.
Uma mulher após a menopausa com perda de sangue pela vagina deve ser sempre observada por um ginecologista, e uma das possíveis causas é um quisto do ovário que produz estrogénios (hormonas femininas que estimulam o endométrio).
Saiba, de seguida, como diagnosticar / estudar um quisto no ovário.
Diagnóstico de quisto no ovário
O diagnóstico de quisto, como explicado acima, tem a ver com as características e o seu tamanho. Vários exames podem ser usados, mas o mais frequente e habitualmente suficiente nesta caracterização é a ecografia pélvica por via vaginal.
Quisto do ovário pode degenerar em cancro?
Já vimos que muitos dos “quistos” descritos às mulheres e por estas aos seus médicos fazem parte do normal funcionamento do ovário. Para além disso, a esmagadora maioria da patologia anexial quística em idade fértil é, como vimos, benigna. Por vezes a diferença entre um tumor benigno e um tumor maligno pode ser difícil de detetar. Nesses, e aqui as particularidades e contexto do caso são importantes, uma vigilância mais apertada ou uma intervenção cirúrgica (especializada) poderão ser sugeridas.
O medo de ter cancro, apesar de frequente entre as mulheres que sabem que possuem um quisto, é, geralmente, infundado. O seu ginecologista, avaliando o contexto clínico, saberá orientar da melhor maneira a forma de abordar e reavaliar a doença.
Devemos ter bem presente que as intervenções (cirurgias) desnecessárias são também prejudiciais, e isto é tido em conta ao avaliar a necessidade de operar em cada caso.
A ecografia, realizada corretamente e aplicando critérios específicos, tendo em conta as características do quisto/massa, deteta até 90% dos cancros e descarta corretamente até 80% da patologia benigna.
Complicações dos quistos do ovário
Uma das complicações mais graves de um quisto benigno (funcional ou outro) do ovário é a torção anexial (torção do ovário e trompa), que consiste na interrupção (por torção) do fluxo nos vasos (veias e artérias) que irrigam o ovário e trompa. Será o equivalente a torcer uma mangueira de jardim, e acontece porque o ovário, pequeno, está relativamente solto na cavidade abdominal e, ao ficar maior e mover-se do seu local habitual pode causar este fenómeno. Esta complicação deriva do seu tamanho, sendo mais provável quando os quistos são maiores. Apesar de rara, pode causar a perda de todo o ovário por isquemia (falta de oxigénio nas células) se o fluxo sanguíneo for completamente interrompido por muito tempo. Esta complicação provoca dores muito intensas, não passando, habitualmente, despercebida.
A rotura de um quisto pode causar dores, dependendo também do líquido que o constitui.
Dependendo do seu tamanho, os quistos podem ainda “empurrar” e comprimir outros órgãos e causar sintomas nos mesmos.
Algumas patologias que originam por si quistos (como endometriose) cursam com outros sintomas, relacionados com a doença.
Quisto no ovário e gravidez
Como vimos acima, alguns quistos benignos (teca-luteínicos) são característicos da gravidez. Outros que apareçam ou sejam diagnosticados nesta fase poderão requerer apenas vigilância.
Alguns quistos no ovário podem ser causa de infertilidade. Nomeadamente, a síndrome do ovário poliquístico (que inclui muitas vezes ovários com múltiplos quistos pequenos), pode ser causa de dificuldade no desenvolvimento dos folículos e ovulação. As mulheres que sofrem desta patologia poderão não menstruar durante meses.
Saiba, aqui, o que é a síndrome do ovário poliquístico.
A endometriose está muitas vezes também associada a infertilidade ou subfertilidade e, muitas vezes, cursa com quistos característicos – os endometriomas.
Saiba, aqui, o que é endometriose.
Isto não quer dizer que a gravidez não seja possível: quem tem quisto no ovário pode engravidar sem nenhuma dificuldade. Tudo depende do que deu origem ao quisto, das complicações associadas e não da sua presença.
Quisto no ovário tem cura?
Como já foi explicado, pequenos “quistos” são habituais e fazem parte do normal funcionamento do ovário. Há que perceber também que a esmagadora maioria dos “verdadeiros” quistos no ovário correspondem a doenças benignas e, em muitos casos, resolvem espontaneamente.
Saiba, de seguida, como tratar o quisto no ovário.
Quisto no ovário - tratamento
O tratamento pode, de acordo com a origem etiológica, sintomas e gravidade dos mesmos, variar entre esperar e observar até operar e eventualmente remover um dos ovários.
Massas com grande suspeição de malignidade devem, no entanto, ser sempre encaminhas para especialistas em ginecologia oncológica, para se determinar a melhor abordagem nesses casos.
Tratamento médico
Como explicado acima, uma mulher que repetidamente desenvolva quistos funcionais poderá usar uma pílula para diminuir o seu aparecimento. Por vezes, analgesia e vigilância é o suficiente em boa parte dos quistos encontrados.
Qualquer medicamento ou remédio usado neste contexto deve ter em atenção o contexto e deve ser equacionado o desejo reprodutivo da mulher, os sintomas e a suspeição de doença maligna. Não existe qualquer tipo de tratamento natural ou caseiro com efeitos comprovados. A utente nunca se deve automedicar ou tentar qualquer tipo de solução sem aconselhamento médico sob pena de poder agravar o seu estado de saúde.
No caso de estarmos perante uma mulher com a Síndrome do Ovário Poliquístico, a patologia deve ser avaliada pelo ginecologista e definido o tratamento em conformidade.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia (ou operação) deve ser equacionada quando o quisto é suspeito de malignidade, produz sintomas importantes ou o tratamento o implica (como no caso dos abcessos).
A hipótese de cirurgia deve ainda ter em conta o potencial destrutivo para, por exemplo, uma mulher sem filhos.