Por convenção, o ciclo menstrual começa com a menstruação (período menstrual ou cataménio), que se pode entender como um reinício de todo o sistema, na ausência de gravidez no ciclo anterior. Depois um novo folículo é desenvolvido enquanto se “reconstrói” o endométrio, sob estimulação hormonal (hormonas). Eventualmente dá-se a ovulação, e iniciam-se alterações da estrutura endometrial, que voltam a desaparecer na ausência de gravidez, voltando tudo ao início. A fase folicular ocorre com maior variabilidade de tempo do que a fase lútea, justificando as diferenças entre mulheres no timing da ovulação.
Note que esta cronologia das fases do ciclo menstrual diz respeito a uma mulher com ciclos naturais e espontâneos. Uma mulher sob o efeito da pílula ou outro contracetivo hormonal, por exemplo, não tem um verdadeiro ciclo menstrual e não passa por estas mudanças.
Fase folicular ou proliferativa (primeira fase)
Ao mesmo tempo que se dá a menstruação, por causa da descida das hormonas produzidas, aumentam as hormonas estimulantes dos ovários, as gonadotrofinas (sobretudo FSH). Por vezes, este início de ciclo, em que os ovários produzem menos hormonas é referido como fase folicular precoce ou inicial.
Os ovários respondem então a esta estimulação com o desenvolvimento de alguns folículos (recrutamento folicular). Estes folículos incluem os ovócitos no início do seu processo de maturação, rodeados por líquido. Este período pode ser também chamado de fase folicular média. Nesta altura, o fluxo menstrual desaparece.
Habitualmente um dos folículos selecionados no ciclo (com crescimento inicial) desenvolve-se mais depressa e aumenta a produção de estrogénio (hormona “feminina”) ao crescer (por este motivo a fase folicular também é referida como fase “estrogénica”). O aumento de estrogénio diminui a produção de gonadotrofinas (FSH, sobretudo), o que por sua vez interrompe o processo de desenvolvimento de novos folículos. É assim que o ovário tem, habitualmente, um ovócito por ciclo. Se, por acaso, existir crescimento de dois folículos temos maior probabilidade de gravidez gemelar (gémeos “falsos”). Este período da fase folicular pode também ser chamado fase folicular tardia.
Os estrogénios produzidos pelo folículo em crescimento (o crescimento verifica-se na quantidade de líquido no seu interior) provocam o crescimento do endométrio. Esta camada, que reveste o interior do útero cresce e fica mais espessa. Este aumento dá-se dos 0,5mm até 3,5-5mm (revestindo todo o útero), correspondendo a cerca de 7 a 10 mm ou mais quando medidos na ecografia (duas camadas).
O muco cervical e vaginal, sob o efeito hormonal, fica gradualmente mais abundante e fino, claro, elástico, tipo “clara de ovo” adquirindo a capacidade de formar “fios” entre dois dedos (Spinnbarkeit).
A duração da fase folicular é a mais variável. Ou seja, esta pode ter durações muito diferentes, entre mulheres saudáveis, e é habitualmente a causa da variabilidade entre ciclos na mesma mulher.
O muco cervical e vaginal, sob o efeito hormonal, fica gradualmente mais abundante e fino, claro, elástico, tipo “clara de ovo” adquirindo a capacidade de formar “fios” entre dois dedos (Spinnbarkeit).
Observe, acima, uma imagem ecográfica de ovário na Fase folicular – folículos “candidatos” a desenvolvimento em ecografia.
Ovulação - altura da ovulação
Não existe uma fase de ovulação ou fase ovulatória, propriamente dita. A ovulação e os eventos que a despoletam são parte da fase lútea (ou fase lútea inicial/precoce). Separamos este evento aqui pela sua importância.
Quando o folículo atinge o tamanho adequado (chamando-se folículo de Graaf) dá-se a ovulação. Este tamanho é muito variável de mulher para mulher, mas em média ronda os 20-26mm. Se uma mulher fizer uma ecografia antes de ovular, terá então um quisto ou “cisto” com estas dimensões. Este “quisto” não é mais do que um folículo pré-ovulatório, perfeitamente normal, e, neste caso, expectável e desejável.
A forma como este processo é despoletado é bastante complexa e depende de um equilíbrio entre várias hormonas. Uma subida da hormona LH faz com que o ovócito complete a sua maturação, rompendo o folículo, e sendo libertado na cavidade abdominal onde se dirige à trompa de Falópio. É esta hormona (LH) que é medida nos testes de urina para determinar a ovulação (testes de fertilidade), e a sua subida determina o início da fase lútea, ou segunda fase do ciclo menstrual.
Os dias imediatamente antes da ovulação constituem a altura (“fase”) mais fértil do ciclo. Estas mudanças fisiológicas levam muitas vezes a uma maior vontade de contacto sexual nesta altura, notada por muitas mulheres.
Algumas mulheres “sentem” o evento da ovulação, por causa da dor (habitualmente ligeira) causada pela libertação de líquido e sangue na cavidade abdominal, durante poucas horas, numa altura do ciclo compatível com a mesma (Mittelschmerz – do alemão “dor no meio”).
Observe, acima, imagem de Folículo pré ovulatório – aspeto ecográfico.
Fase lútea ou secretora (segunda fase)
Após a ovulação (e até pouco antes desta), as células das paredes do folículo iniciam a produção de outra hormona, a progesterona. Nesta altura chamamos a este folículo pós-ovulatório o corpo lúteo ou corpo amarelo. Amarelo porque tem realmente aparência pigmentada amarela.
A produção desta hormona (progesterona) leva a uma série de alterações no endométrio que melhor se podem descrever como “amadurecimento”, ao contrário do crescimento característico da fase folicular. Este amadurecimento permite a implantação (nidação) do potencial embrião, criando condições ótimas para o seu desenvolvimento inicial. Tem também efeitos em outros órgãos, nomeadamente mamas. É por este motivo que, na fase lútea, sintomas como maior tensão mamária e algumas alterações intestinais (maior obstipação ou “intestino preso”) são habituais. A temperatura basal aumenta ligeiramente (cerca de 0,5 grau celsius). Esta subida de temperatura basal (matinal, ao acordar) é sugestiva de ter existido ovulação. Não serve, no entanto, para melhorar o método do calendário, seja para contraceção ou para engravidar, porque se dá depois da ovulação.
Quando o corpo lúteo deixa de produzir progesterona em quantidade suficiente, ao final de uma média de 14 dias, e se não houve fecundação do ovócito e implantação de um embrião, dá-se o início de um novo ciclo – menstruação. Se ocorrer gravidez, o embrião implantado manterá o corpo lúteo ativo, através da produção da hormona Gonadotrofina Coriónica humana (hCG).
A fase lútea é a mais constante entre mulheres, com duração de cerca de 14 dias, sem grande variação.
Saiba, aqui, tudo sobre menstruação.
Duração das fases do ciclo
A média da duração do ciclo menstrual, ou seja, o intervalo entre uma menstruação e outra, também chamado interlúnio, é habitualmente referido como 28 dias. No entanto, este é um valor indicativo e médio.
Uma mulher saudável e adulta, entre os 25 e 35 anos, terá ciclos habitualmente entre os 28 a 35 dias. Uma jovem poucos anos após a menarca (primeira menstruação) poderá ter maior variação (21 a 45 dias) e uma mulher adulta após os 35 anos terá tendência a encurtar os seus ciclos, sendo habituais entre os 21 e 35 dias. Este último será o intervalo considerado normal, para as mulheres adultas saudáveis, de forma geral .
Saiba, aqui, tudo sobre a duração do ciclo menstrual.
Já vimos que a fase mais constante do ciclo é a fase lútea (segunda), e é de cerca de 14 dias, e tem pouca variação entre mulheres. A primeira fase é muito variável e é, habitualmente, esta a causa de diferenças na duração total dos ciclos entre mulheres (ver irregularidades menstruais).
Eixo hipotálamo-hipófise-ovário
O hipotálamo e a hipófise regulam uma série de sistemas hormonais. Neste contexto, e de uma forma simplificada, o hipotálamo estimula a hipófise, que liberta gonadotrofinas (hormonas, nomeadamente FSH e LH) que estimulam os ovários. As hormonas produzidas nos ovários, por sua vez, regulam o hipotálamo, completando o ciclo.
O equilíbrio deste sistema é frágil, pelo que pequenas alterações, nomeadamente relacionadas com stress, medicação, exercício físico intenso, obesidade, etc., podem interferir na regularidade do ciclo menstrual.
Fases do ciclo menstrual e o útero
O ciclo menstrual causa alterações no útero (e sobretudo no endométrio), sendo este indispensável para uma gravidez. De facto, o sinal mais visível de todas as mudanças hormonais do ciclo menstrual é a menstruação (período), resultante da desintegração da camada endometrial do útero.
As mudanças hormonais nos ciclos menstruais acontecem, no entanto, na ausência do útero. Por isto uma mulher não entrará na menopausa se remover o útero, desde que conserve os ovários (ou pelo menos um deles).
Saiba, aqui, tudo sobre a otimização da fertilidade.
Qual o período fértil para engravidar?
Percebe-se, agora, a complexidade (e beleza) do fino equilíbrio hormonal, dos órgãos reprodutivos e mudanças associadas, cuja função é permitir a gravidez em cada ciclo menstrual. Um ciclo menstrual é, de certo modo, um “ciclo” hormonal, um “ciclo” uterino e um “ciclo” ovárico.
Mas a probabilidade de gravidez com a relação sexual muda ao longo do ciclo, fato conhecido historicamente, e na origem dos métodos de contraceção baseados no calendário menstrual, ou naturais. Apesar de existir variabilidade entre ciclos e, por isso, entre alturas de ovulação, é possível otimizar a probabilidade de gravidez com: conhecimento da história menstrual da mulher (datas de menstruação prévias); alguns sinais e exames simples que podem documentar as alterações ao longo do ciclo. Isto com o objetivo de identificar a data provável da próxima ovulação e, com isso, o período fértil.
Pode ler, neste artigo, como identificar o seu período fértil e otimizar a sua fertilidade.