A vaginose bacteriana é uma infeção vaginal da mulher que consiste na substituição da flora normal da vagina por várias bactérias anaeróbias.
Neste tipo de infeção genital há um aumento exagerado e variado das bactérias potencialmente patogénicas (que provocam doença) e uma diminuição dos Lactobacillus (bactérias que promovem a proteção da vagina), podendo estar associado a sintomas da área genital.
A vaginose bacteriana ocorre em cerca de 5-15% das mulheres e faz parte das infeções que ocorrem na mulher, denominadas de vulvovaginites, onde se inclui também a tricomoníase e a candidíase.
Causas da vaginose bacteriana
Este tipo de infeção vulvovaginal (da vulva e da vagina) pode ser causada por múltiplas bactérias anaeróbias como a Gardnerella vaginalis, Ureaplasma, Mycoplasma hominis, Prevotella sp., Mobiluncus sp. Assim, a vaginose bacteriana é uma infeção vulvovaginal (da vulva e da vagina) polimicrobiana que pode ter mais do que um agente etiológico.
A vaginose bacteriana não é considerada uma infeção sexualmente transmissível mas está associada à frequência da atividade sexual. Existe uma maior prevalência nas mulheres com múltiplos parceiros sexuais, com novo parceiro sexual, que não utiliza preservativo, que realiza duches vaginais (que leva à diminuição de lactobacilos vaginais) ou nas mulheres que têm relações sexuais com mulheres. No entanto, as mulheres que nunca tiveram relações sexuais podem também contrair este tipo de infeção.
A ocorrência de recorrências, a vaginose bacteriana de repetição, pode dever-se ao desaparecimento dos lactobacilos por fatores ambientais (duches vaginais ou alteração do pH da vagina) ou à dificuldade dos lactobacilos recolonizarem a vagina (algumas infeções por vírus) que levam ao crescimento excessivo das bactérias anaeróbias.
Sinais e sintomas na vaginose bacteriana
Em cerca de 50% das mulheres afetadas pela vaginose bacteriana podem ser assintomáticas (sem sintomas).
No entanto, os sintomas habituais são o corrimento branco-acinzentado abundante com cheiro a peixe, que agrava com a menstruação ou com as relações sexuais, e o ardor vulvovaginal (da vulva e da vagina). Os sinais clássicos que caracterizam esta infeção é o corrimento descrito, homogéneo e fino, que reveste as paredes da vagina e a vulva, a ausência de sinais inflamatórios (edema ou inchaço, eritema ou vermelhidão).
A vaginose bacteriana não está associada ao prurido (comichão) não havendo áreas de coceira e feridas vulvares associadas.
Saiba, aqui, tudo sobre corrimento vaginal.
A vaginose bacteriana é contagiosa?
A vaginose bacteriana não é considerada uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), ou seja, a transmissão da doença não ocorre através do contacto sexual.
No entanto, a vaginose bacteriana pode ter como complicação a sobreposição de outro tipo de infeções que podem ser transmissíveis, ou seja, a doença “passa” ou “pega-se” através das relações sexuais. Nestes casos, a infeção é transmitida pelo ou para o homem se não houver a utilização de métodos para evitar esta forma de contágio, como o preservativo.
Diagnóstico da vaginose bacteriana
O diagnóstico da vaginose bacteriana é feito através da avaliação clínica e de análises laboratoriais.
Os critérios clínicos para o diagnóstico da vaginose bacteriana são:
- Corrimento vaginal homogéneo branco-acinzentado;
- Corrimento vaginal com odor a peixe, intensificado por gotas de KOH 10%;
- pH vaginal > 4,5;
- Presença de clue cells no exame microscópico a fresco, feita colheita do corrimento das paredes da vagina e observado ao microscópio.
O método laboratorial gold standard para o diagnóstico é o exame Gram, em que é possível detetar as bactérias Gardnerella e/ou Mobiluncus, clue cells (células do epitélio da vagina com aspeto pontiagudo por se encontrarem com bactérias aderentes na sua superfície) e verificar a escassez ou ausência de Lactobacillus.
Vaginose bacteriana na gravidez
A vaginose bacteriana pode ocorrer também na gravidez. O tratamento da vaginose bacteriana na mulher grávida está recomendado de forma a aliviar os sintomas da infeção e para prevenir o risco de complicações infeciosas associadas ao parto pré-termo e a morte fetal.
Veja mais informação em tratamento da vaginose bacteriana.
Complicações da vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana não tratada pode ser complicada por outro tipo de infeções. As bactérias provenientes da vagina podem subir para o trato genital superior (útero, trompas uterinas e cavidade pélvica), o que pode provocar uma doença mais grave como a endometrite ou a doença inflamatória pélvica. Na gravidez, este tipo de infeção ascendente pode ter como consequências o maior risco de morte fetal tardia e o parto pré-termo (parto antes das 37 semanas).
A vaginose bacteriana aumenta o risco de infeção por outros agentes de transmissão sexual como:
- Trichomonas vaginalis;
- Neisseria gonorrhoeae;
- Chlamydia trachomatis;
- HSV-2 (herpes vírus tipo 2);
- VIH-1.
Algumas destas infeções podem provocar complicações no futuro quando a mulher pretende engravidar.
A vaginose bacteriana recorrente ou crónica ocorre em muitas mulheres. Nestes casos a infeção repete-se dentro de 3 a 12 meses, mesmo quando realizado um tratamento adequado. Nas infeções de repetição (quando a infeção volta a ocorrer) pode estar indicado o tratamento prolongado, o que impede que ocorram algumas complicações. Veja mais informação em tratamento.
Vaginose bacteriana tem cura?
A vaginose bacteriana tem cura se for diagnosticada de forma correta e tratada com fármacos (medicamentos) adequados, conforme discutiremos de seguida.
Tratamento da vaginose bacteriana
O tratamento da vaginose bacteriana tem como objetivo o alívio dos sintomas e a diminuição dos riscos de complicações, como as infeções sexualmente transmissíveis. Deve ser feito o tratamento das mulheres com sintomas e das mulheres assintomáticas (que não apresentam sintomas) mas vão ser submetidas a uma cirurgia (operação).
Os medicamentos de toma oral (comprimidos) e os que são tópicos (pomada) têm uma eficácia semelhante no tratamento desta infeção. Os fármacos (medicamentos) indicados são a clindamicina e o metronidazol (antibióticos).
Nos casos de vaginose bacteriana recorrente pode estar indicado o tratamento contínuo com metronidazol durante 4 a 6 meses. Para a prevenção de recorrência (repetição) da infeção a aplicação de probióticos durante 6 meses em associação com o tratamento antibiótico pode ser útil. Nestes casos, a mulher deve utilizar o preservativo durante o tratamento.
Na vaginose bacteriana não está indicado o tratamento dos parceiros sexuais.
Na gravidez, a vaginose bacteriana deve ser tratada com o metronidazol ou a clindamicina durante 7 dias.
A mulher deve tomar a medicação atrás descrita sempre de acordo com a receita médica, na posologia indicada e até acabar, executando escrupulosamente o plano terapêutico estipulado. É importante realçar que a mulher não se deve, em caso algum, automedicar e que não existe qualquer tipo de tratamento caseiro ou natural com eficácia comprovada no tratamento da vaginose bacteriana. Existem, no entanto, algumas medidas preventivas que devem ser tomadas em consideração, conforme descrevemos de seguida.
Como se previne a vaginose bacteriana?
Nas situações de infeção vaginal deve ser promovido o tratamento específico e adequado ao tipo de infeção. Cuidados com a higiene íntima genital podem ter indicação para um alívio dos sintomas e deve ser encarada como preventiva, mas não pode ser considerada como tratamento.
Atitudes que possam dificultar o tratamento da infeção, promover a sobreposição de outro tipo de infeções ou fragilizar a mucosa da vagina e da vulva devem ser evitadas, como a utilização de penso higiénico e de tampões.
Devem ser evitados os comportamentos sexuais de risco como a promiscuidade sexual (vários parceiros sexuais) e relações sexuais sem utilização de preservativo.
Na vaginose bacteriana há um défice de lactobacilos que favorecem o crescimento de agentes patogénicos (que provocam doenças) e a recorrências (repetição) da infeção. Alguns estudos demonstraram que a toma oral ou intravaginal de lactobacilos através dos próbióticos pode melhorar o ambiente normal da vagina levando a uma maior taxa de cura e à prevenção de novas recorrências.