O ceratocone ou queratocone é uma doença não-inflamatória, degenerativa da córnea. As alterações na estrutura da córnea tornam-na mais fina, modificando a sua curvatura dando-lhe, assim, uma forma mais cónica (ectasia) que o normal (veja fotos superiores).
Para melhor perceber o que é ceratocone nos olhos, observe a figura acima. Observe a imagem da esquerda e veja a curvatura típica de uma córnea normal. Como pode observar no olho com ceratocone a curvatura da córnea está modificada e consequentemente as imagens ao passarem pela córnea são distorcidas provocando alterações na visão das pessoas com ceratocone (imagem da direita). As alterações na córnea induzem miopia e astigmatismo miópico. A miopia e o astigmatismo são dois tipos de erros refrativos.
Saiba, aqui, o que é astigmatismo.
O ceratocone ocular é a distrofia mais frequente da córnea. É uma doença que afeta um indivíduo em cada mil. Esta doença, ocorre em populações de todo o mundo, contudo, alguns grupos étnicos apresentam uma maior prevalência que outros. Geralmente, é diagnosticado em doentes adolescentes (2ª década de vida) apresentando o estadío mais grave na segunda e terceira décadas de vida.
A doença pode afetar apenas um olho ou, então, ambos os olhos. O ceratocone bilateral (nos dois olhos) é mais frequente que o ceratocone unilateral (ceratocone num olho só).
O ceratocone é uma doença grave na medida em que evolui para perdas significativas de acuidade visual. Nos estadíos avançados o doente pode, inclusivamente, ficar cego.
Sintomas do ceratocone
Os sintomas de ceratocone mais comuns são a perceção de múltiplas imagens fantasmas (poliopia monocular). Estes sintomas são mais evidentes em campos de visão com altos contrastes. O doente com ceratocone vê muitos pontos espalhadas num padrão muito irregular. Este padrão geralmente não se altera, mas pode ganhar novas formas com o decorrer do tempo. Em alguns casos pode apresentar diplopia monocular (presença de imagem dupla ao invés de múltipla). O ceratocone causa dor de cabeça de forma frequente, devido ao esforço ocular que o doente tem de fazer para ver.
Habitualmente, o ceratocone causa alterações substanciais da visão como: hipovisão (baixa visão), diplopia (perceção de duas imagens) ou poliopia (imagens múltiplas) e sensibilidade exagerada à luz (fotofobia).
Geralmente, os sintomas agravam-se com o evoluir da doença. O ceratocone pode cegar, ou seja, pode levar à cegueira nos estadíos avançados da doença.
Diagnóstico do ceratocone
O diagnóstico do ceratocone é feito por observação clínica e através de exames complementares de diagnóstico. O exame no diagnóstico de ceratocone mais utilizado é a topografia corneana. A topografia de córnea é um exame ocular que permite avaliar anomalias grosseiras ou incipientes na superfície anterior ou posterior da córnea, permitindo efetuar o diagnóstico de ceratocone e de outras patologias.
Causas do ceratocone
As causas do ceratocone não estão, ainda, completamente esclarecidas. Sabe-se que o “esfregar ou coçar os olhos” pode ajudar na evolução do ceratocone, pelo que é importante evitar estes gestos. É também sabido que, habitualmente, o ceratocone evolui na gravidez.
Graus do ceratocone
Podemos identificar os seguintes graus de ceratocone:
Grau 1 - o ceratocone incipiente (ou ceratocone fruste) é o primeiro grau de ceratocone. Nesta fase, a visão está conservada e os erros refrativos (miopia e astigmatismo miopico) são diminutos.
Grau 2 - o ceratocone grau 2 é a fase seguinte em que o doente já refere alguma hipovisão e necessita de óculos ou lentes de contacto para corrigir os erros refrativos consequentes.
Grau 3 - o ceratocone grau 3 é um estadío avançado da doença em que a visão mesmo com correção ótica já está bastante afetada, podendo necessitar de correção cirúrgica, nomeadamente, anés intra estromais.
Grau 4 - O ceratocone grau 4 é o estadío mais avançado onde podemos encontrar leucomas (opacidade da córnea) ou edema (hidropsia). A única forma de tratamento é o transplante de córnea.
Ceratocone tem cura?
O ceratocone não tem cura, contudo se tratado de forma adequada pode restabelecer aos doentes uma boa acuidade visual compatível com as necessidades das tarefas diárias.
O ceratocone pode e deve ser operado, ajustando a técnica cirúrgica ao tipo e estadío do ceratocone. Quando os óculos ou lentes de contacto não corrigem a acuidade visual para valores aceitáveis e antes da córnea ficar turva (hidropsia), a técnica atualmente mais aceite é o implante de anéis na espessura da córnea, de acordo com o tipo e estadío do ceratocone. Os resultados são extremamente encorajadores.
Em situações extremas de hidropsia, o método cirúrgico de eleição é o transplante de córnea.
Saiba, de seguida, como tratar o ceratocone.
Tratamento do ceratocone
As duas formas, mais utilizadas no tratamento de ceratocone, são:
1º Tratar a hipovisão provocada pelo ceratocone através de óculos na fase inicial da doença e quando o uso de óculos não produz os efeitos desejados, deve-se experimentar o uso de lentes de contato para ceratocone, nomeadamente, lentes de contacto semi-rígidas ou rígidas.
As lentes de contato para ceratocone devem ser semi rígidas ou rígidas dependendo do estadío (ceratocone incipiente ou avançado), tipo de ceratocone e da capacidade de adaptação do doente. Cada doente possui uma sensibilidade diferente de adaptação às lentes de contacto. Enquanto que para uma determinada pessoa a adaptação pode ser fácil, para uma outra, a adaptação pode revelar-se bastante complicada.
2º Outra forma de tratamento do ceratocone é tratar a patologia, isto é, recorrendo à cirurgia, nomeadamente, através da colocação de anéis corneanos no estroma da córnea de modo a modificar a sua curvatura, obtendo assim excelentes resultados visuais. Quando a córnea não tem condições físicas ou está muito cónica ou turva, o que está indicado é o transplante de córnea, de forma a restabelecer a transparência dos meios óticos.
A cirurgia de anéis corneanos é realizada, habitualmente, com dois tipos: anéis de Paulo Ferrara (anel de ferrara) e INTACS.
Anel de ferrara e INTACS
Como vimos, a cirurgia de anéis corneanos pode ser realizada através de anéis de Paulo Ferrara (implante de anel de ferrara) ou por INTACS.
A diferença entre os dois métodos prende-se com o facto de os primeiros apresentarem menor raio de curvatura, isto é, são mais pequenos que os INTACS.
A utilização de uns ou de outros vai ser definida pela experiência do oftalmologista, pelas condições e localização do ceratocone, já que este pode ser central, infero- temporal (o mais frequente) ou superior (o menos frequente).
Para saber mais sobre a cirurgia de colocação de anéis corneanos, veja cirurgia de ceratocone e conheça as principais vantagens desta cirurgia quando comparada com o transplante de córnea.
Crosslinking da córnea
Existem, atualmente, novos tratamentos para o ceratocone, sendo o crosslinking da córnea um dos que tem revelado melhores resultados, permitindo aumentar a rigidez da córnea.
Este tratamento para ceratocone é realizado através de um tipo de laser (luz UV) numa córnea que foi previamente regada com riboflavina (vitamina B2).
A maior parte da córnea é constituída por fibras de colegénio tipo IV. Estas fibras, encontram-se agrupadas em camadas paralelas e perpendiculares. A riboflavina é um composto que está presente no nosso organismo e que absorve a luz UV. Ao aplicarmos a riboflavina na córnea, associando-lhe a luz UV, conseguimos aumentar a rigidez da córnea, estabilizando a ectasia.
Com o passar do tempo, a córnea torna-se progressivamente mais rígida (Crosslinking).
Cirurgia de ceratocone
A cirurgia de ceratocone pode ser realizada através da colocação de anéis corneanos no estroma da córnea de modo a corrigir a sua curvatura. A cirurgia de ceratocone com implante de anel intra estromal ou anéis corneanos possui menores riscos e complicações intra e no pós-operatório, uma recuperação mais rápida, entre outras vantagens, quando comparada com o transplante de córnea. Nos doentes com ceratocone, os resultados cirúrgicos obtidos com implante de anel intra estromal são muito bons e normalmente melhores que os alcançados com transplante de córnea, por várias razões:
- A acuidade visual após anéis corneanos é, normalmente, superior ao esperado no transplante de córnea;
- Os erros refrativos, após anel intracorneano, são muito menores que após transplante de córnea e a recuperação é muito mais rápida;
- A cirurgia dos anéis é reversível, ao passo que a de transplante é irreversível, podendo verificar-se descompensação corneana ao fim de algumas semanas ou ao fim de 20 anos, por exemplo;
- A cirurgia para ceratocone com anéis corneanos é mais fácil que a de transplante, podendo ser realizada com anestesia local e a convalescença é muito menor, embora não esteja isenta de complicações ou riscos intra ou pós-operatório;
- A cirurgia de anéis corneanos possui vantagens relativamente ao transplante mesmo se considerarmos as idades destes doentes, que de um modo geral são pessoas jovens, não estando sujeitas a uma descompensação corneana;
- A cirurgia com anéis é uma cirurgia extra ocular, enquanto a de transplante de córnea é a céu aberto, sujeita a algumas complicações graves, nomeadamente, hemorragia da coróide, descolamento da retina, infeção endocular (endoftalmite), cataratas secundárias, glaucoma secundário, sinéquias da íris, irregularidade pupilar, edema macular cistóide, etc.
- Embora os resultados da cirurgia com anéis sejam encorajadores, esse resultado só é possível com muita experiência, com um boa anamnese, com bons e adequados exames complementares de diagnóstico, um bom plano cirúrgico e uma técnica cirúrgica perfeita e ausente de erros;
- É de salientar que os resultados atingidos com a colocação de anel intra estromal são bons, embora possa haver algumas complicações pós cirúrgicas, nomeadamente, a extrusão do anel em situações traumáticas ou úlceras de córnea.
Quando não existem condições para esta operação, o que está indicado é o transplante de córnea.
Saiba, aqui, tudo sobre transplante de córnea.
Quanto custa uma cirurgia?
O preço da cirurgia de ceratocone pode variar de acordo com a técnica cirúrgica, o subsistema ou seguro de saúde associado ao paciente, etc.
Depois de avaliar o doente na consulta, o Oftalmologista poderá definir o plano cirúrgico e estimar o valor da intervenção cirúrgica.