A dacriocistite é a infeção do saco lacrimal causada pela ação de vírus (dacriocistite vírica) ou bactérias (dacriocistite bacteriana), ocorrendo na maioria dos casos quando o canal lacrimal fica obstruído, impedindo a normal drenagem das lágrimas.
Como a drenagem é dificultada ocorre uma acumulação de lágrimas no saco lacrimal e nas vias lacrimais, facilitando a ação dos agentes patogénicos (vírus, bactérias).
Aparelho ou sistema lacrimal
O sistema ou aparelho lacrimal tem como função produzir e levar as lágrimas até aos olhos de modo a lubrificá-los. As lágrimas contêm vitaminas, minerais, proteínas e lipídios. A presença de todas estas substâncias permite ter lágrimas de qualidade para hidratar, alimentar e lubrificar a córnea.
As lágrimas são produzidas pelas glândulas lacrimais, situadas atrás da pálpebra superior. A sua maioria desloca-se por ação da gravidade ao longo da superfície ocular e acumula-se no fundo do saco conjuntival inferior. Os movimentos de pestanejo da pálpebra superior permitem que as lágrimas se espalhem em direção ascendente. Desta forma, a superfície externa do globo ocular é humidificada pelo filme lacrimal.
Quando a pálpebra é fechada a lágrima é empurrada para baixo na direção do canto interno, acumulando-se num espaço triangular designado por lago lacrimal. Nos vértices externos do lago lacrimal existem os pontos lacrimais. Os pontos lacrimais são dois orifícios nas extremidades dos canalículos ou canais lacrimais (superior e inferior). Através de um mecanismo de pressão, a lágrima é aspirada através dos canalículos (superior e inferior) para o saco lacrimal. A lágrima é posteriormente drenada desde o saco lacrimal até à fossa nasal, através do canal lacrimo-nasal.
Obstrução do canal lacrimal
A obstrução do canal lacrimal (dacrioestenose) ocorre sempre que não existe uma correta drenagem das lágrimas, ou seja, o canal lacrimal encontra-se obstruído ou “entupido”, impedindo a normal drenagem (“passagem”) das lágrimas.
Como a drenagem é impedida ou dificultada existe uma acumulação de lágrimas no saco lacrimal. A ação dos agentes patogénicos (vírus, bactérias) é facilitada, podendo provocar inflamação e infeção no saco lacrimal (dacriocistite) ou noutros locais do sistema lacrimal. A canaliculite é a infeção dos canalículos, que são o canal ou via com a função de conduzir as lágrimas até ao saco lacrimal.
A obstrução do canal lacrimal tanto pode ocorrer em adultos, sendo mais frequente na terceira idade, como na criança. A obstrução congénita do canal lacrimo-nasal é a alteração mais frequente do sistema lacrimal nas crianças, resultando, habitualmente, da não perfuração da membrana que separa o canal lacrimo-nasal do meato inferior da fossa nasal.
Dacriocistite - aguda, crónica
A dacriocistite pode ocorrer apenas num dos olhos (dacriocistite unilateral) ou nos dois (dacriocistite bilateral), sendo que a infeção nos dois olhos é menos frequente. A infeção pode ocorrer em qualquer idade e em ambos os sexos, sendo mais frequente na terceira idade.
A dacriocistite aguda é a infeção no saco lacrimal que ocorre de forma súbita. A dacriocistite crónica é a infeção no saco lacrimal que tem uma duração de semanas ou meses, podendo afetar apenas um olho ou então os dois olhos (dacriocistite crónica bilateral).
Dacriocistite - bebé, criança
A dacriocistite pode ocorrer na criança, desde os primeiros meses de vida, podendo manifestar-se logo à nascença (idade neonatal).
Em alguns casos o bebé recém-nascido apresenta obstrução no canal lacrimal que pode provocar a infeção na via lacrimal. A imperfeita drenagem das lagrimas está, muitas vezes, relacionada com um estreitamento congénito ou obstrução do canal nasolacrimal. Veja mais informação em obstrução do canal lacrimal em bebés e crianças.
Veja mais informação em como tratar a dacriocistite.
Causas na dacriocistite
Na dacriocistite, as principais causas estão relacionadas com a obstrução do canal lacrimal. Esta obstrução impede a normal drenagem das lágrimas, permitindo que os vírus (dacriocistite vírica) ou bactérias (dacriocistite bacteriana) se propaguem e provoquem a infeção do saco lacrimal. Ou seja, as lágrimas que deveriam ser drenadas desde o saco lacrimal até ao nariz ficam retidas permitindo, assim, a propagação de bactérias ou vírus.
Sintomas na dacriocistite
Na dacriocistite o saco lacrimal encontra-se infecionado surgindo alguns sintomas como a dor intensa na comissura interna da fenda palpebral, epífora (produção excessiva de lágrimas ou olhos lacrimejantes) e tumefação.
Na dacriocistite crónica, os sintomas são mais discretos, nomeadamente, uma constante secreção purulenta (pús), lacrimejamento e pouca ou nenhuma dor.
Dacriocistite tem cura?
A dacriocistite tem cura, sendo que em alguns casos o problema é resolvido de forma espontânea, ou seja, sem qualquer intervenção. Em alguns casos, é necessária intervenção no sentido de resolver a infeção e a causa que lhe deu origem.
Tratamento na dacriocistite
Na dacriocistite, o tratamento depende do tipo de infeção presente, da sua causa subjacente e do tempo de evolução.
Se a infeção for provocada por um vírus o tratamento deve ser efetuado com anti-inflamatórios. Por sua vez, se a infeção for provocada por bactérias o seu tratamento deve ser efetuado através da prescrição de antibióticos.
Em casa, como tratamento caseiro ou natural pode o médico oftalmologista aconselhar o uso de compressas quentes aplicadas sobre a tumefação e massagem no saco lacrimal, de modo a estimular a drenagem das lágrimas.
Na dacriocistite aguda, o tratamento passa pela prescrição médica de anti inflamatórios e / ou antibióticos orais e analgésicos.
Nas crianças em idade neonatal o problema é ultrapassado normalmente aos 9 /12 meses de idade. Pode ser efetuada massagem sobre o saco lacrimal, que deve começar com a limpeza ou lavagem da cavidade conjuntival. Devemos efetuar pressão sobre o saco com o dedo e fazer desliza-lo na direção ascendente (de baixo para cima), de modo a expulsar do saco lacrimal as secreções purulentas e /ou mucosas. A seguir, o sistema lacrimo-nasal deve ser massajado no sentido descendente (de cima para baixo), forçando o fluído que resta a fazer pressão sobre a membrana que provoca a obstrução. Este procedimento deve ser repetido três ou quatro vezes seguidas e deve ser realizada várias vezes ao longo do dia.
Estes procedimentos nas crianças devem ser efetuados pelos pais com aconselhamento médico. Deve ser efetuada a colocação de colírio de antibiótico (gotas) de acordo com a prescrição do oftalmologista. Os antibióticos tópicos reduzem o componente infecioso, mas não possuem qualquer efeito na desobstrução do canal lacrimo-nasal.
Em alguns casos, é necessário realizar tratamento cirúrgico (cirurgia), de modo a desobstruir o canal lacrimal. Esta operação é designada por sondagem das vias lacrimais, sendo introduzida uma sonda metálica através do canalículo até ao saco lacrimal, por forma a desobstruir a passagem. A decisão de efetuar a sondagem da via lacrimal deve ser tomada em função da gravidade da obstrução, da idade da criança, e se ocorrem ou não complicações como a dacriocistite, podendo a sondagem ser efetuada logo que os sinais inflamatórios diminuam.
A dacriocistorrinostomia é uma cirurgia que permite a desobstrução do canal lacrimal ou criar uma nova comunicação entre o saco lacrimal e a cavidade nasal, com o objetivo de normalizar a drenagem das lágrimas. Esta operação é geralmente simples, habitualmente, realizada sob anestesia local, no caso do adulto, sendo na criança, normalmente, necessário recorrer a anestesia geral. O pós operatório é praticamente isento de complicações sendo a recuperação rápida e simples, podendo os doentes levar um vida perfeitamente normal imediatamente após a cirurgia.