A artrose do tornozelo resulta de um desgaste progressivo da cartilagem que leva a que a articulação perca a sua congruência e fique “osso com osso”, o que provoca dor quando se move a articulação ou se faz carga. Em alguns casos pode mesmo levar a uma deformação do tornozelo.
A artrose do tornozelo é uma doença pouco frequente, sobretudo se compararmos com a artrose da anca ou do joelho, que são muito mais frequentes.
A osteoartrose do tornozelo pode afetar tanto o tornozelo esquerdo como o direito, não existindo uma preponderância de um lado em relação ao outro. Em muitos casos, dependendo da causa, podemos ter uma artrose do tornozelo bilateral.
Causas da artrose do tornozelo
Podemos ter 3 principais causas para a artrose do tornozelo. A artrose do tornozelo primária, a causa menos frequente, a artrose do tornozelo pós-traumática, a mais frequente, e ainda uma artrite inflamatória.
Denominamos como artrose do tornozelo primária aquela que não tem uma causa conhecida e, de um modo geral, associamos ao “desgaste da idade”. Apesar de poder ocorrer em diferentes idades, é rara em pessoas jovens. Não é fácil definir fatores de risco para a artrose primária porque a causa é desconhecida.
Por sua vez, nos casos em que conseguimos identificar uma causa, designamos por artrose do tornozelo secundária.
A causa secundária mais comum é a pós-traumática. Isto inclui casos que ocorrem após uma fratura, casos em que há uma instabilidade do tornozelo, casos em que após uma entorse ou um acidente ocorre uma lesão da cartilagem que depois pode progredir, ou mesmo outros casos em que por algum motivo há um desequilíbrio do alinhamento normal da perna, provocando a destruição acelerada da articulação do tornozelo.
O excesso de peso, antecedentes de fratura do tornozelo, instabilidade crónica do tornozelo, entorses de repetição, malformações do tornozelo, deformidades do joelho, desportos de impacto, são tudo fatores de risco para o desenvolvimento de uma osteoartrose do tornozelo ou para a aceleração da sua evolução.
Temos ainda, como causas secundárias, as artrites inflamatórias. Doenças inflamatórias como a artrite reumatoide, o lúpus, a psoríase ou a gota, entre outras, podem levar a uma destruição da cartilagem articular e ao desenvolvimento de uma artrose do tornozelo. Uma artropatia inflamatória pode ser considerada fator de risco para o desenvolver de uma artrose do tornozelo.
Sintomas na artrose do tornozelo
A artrose do tornozelo origina os seguintes sinais e sintomas:
- Dor no tornozelo que surge com o movimento e alivia com o repouso;
- Dor com o caminhar ou o correr;
- Dor à palpação e mobilização do tornozelo;
- Limitação progressiva da mobilidade do tornozelo;
- Edema (inchaço) do tornozelo e do pé;
- Deformidade do tornozelo e do pé;
- Alteração da marcha (mancar) quer pela dor quer pela limitação do movimento;
- A limitação da mobilidade do tornozelo pode ainda levar a uma sobrecarga das articulações do pé e pode também manifestar-se com dor no pé.
Diagnóstico da artrose do tornozelo
O diagnóstico é feito pela associação entre os exames e a avaliação do médico ortopedista.
O diagnóstico começa sempre com uma avaliação do médico ortopedista (especialista em ortopedia), em que são ouvidas as queixas do paciente e é realizado o exame físico. Com estes dados é, muitas vezes, possível fazer um diagnóstico inicial e identificar possíveis causas secundárias.
Posteriormente, serão necessários exames para melhor identificar e caracterizar a artrose.
Com uma radiografia em carga (Rx de face e de perfil), conseguimos uma primeira avaliação e, nos casos em que a artrose é mais avançada, uma confirmação do diagnóstico.
Ainda assim, na presença de um rx normal, se o exame clínico indicar a possibilidade de artrose, a ressonância magnética (RMN ou RM) permite avaliar os estádios iniciais da artrose, em que temos algum desgaste da cartilagem que ainda não é visível no Rx. A RM permite ainda identificar outros problemas que possam estar associados e ajuda a excluir outros motivos de dor.
A tomografia computorizada (TC ou TAC) é um exame que podemos usar também para o diagnóstico, apesar de menos útil com a facilidade atual em fazer uma RM. No entanto, a TC poderá ser um exame importante para o planeamento cirúrgico, nos casos em que a cirurgia esteja indicada.
Artrose do tornozelo tem cura?
Não há uma cura para a artrose do tornozelo, no entanto, com tratamento adequado é possível melhorar muito significativamente a qualidade de vida dos doentes.
Tratamento da artrose do tornozelo
Na artrose do tornozelo temos um grande leque de opções e o tratamento passa pela escolha das melhores opções para cada caso. O médico especialista do tornozelo deverá, em conjunto com o doente escolher o tratamento mais adequado.
Tratamento conservador (não cirúrgico)
Numa primeira fase, devemos sempre tentar o tratamento conservador.
Identificar as atividades que provocam mais dor e substituí-las por outras poderá ser uma boa opção. Exercício físico que seja menos exigente para o tornozelo, como por exemplo atividades na água (natação, hidroginástica) ou fazer caminhada, poderá ser um bom substituto à corrida. Evitar desportos de impacto no solo também é importante pois ajuda a atrasar a evolução da doença. A estas medidas chamamos modificação das atividades diárias.
Numa segunda fase, temos o ajuste do calçado e a utilização de ortóteses (talas). Sapatos com a sola em balancé (rocker) ajudam a tirar pressão da articulação do tornozelo. Nos casos em que a dor surge, sobretudo com o movimento, poderá ser ponderada a limitação da mobilidade com recurso a talas imobilizadoras.
A prescrição de medicamentos (remédios) analgésicos e anti-inflamatórios deve ser sempre abordada com cuidado. Dado a osteoartrose do tornozelo ser um problema crónico, a utilização crónica de anti-inflamatórios pode ser problemática e provocar efeitos secundários graves. Nos casos em que é necessário a utilização crónica de anti-inflamatórios, deverá ser usado um medicamento tópico local (gel, creme, loção, etc.).
A fisioterapia é também uma arma muito importante no tratamento da artrose. O tratamento fisioterapêutico ajuda a melhorar a mobilidade e a diminuir a dor e a inflamação do tornozelo. Ajuda, ao mesmo tempo, a reforçar os músculos para apoiar melhor a articulação e a otimizar a forma como utilizamos as outras articulações para compensar o tornozelo.
Ainda dentro do tratamento conservador, mas já mais invasivo, temos as infiltrações do tornozelo. Há muitas opções de infiltrações. Corticoides, ácido hialurónico ou fatores de crescimentos (PRP’s) são algumas das opções disponíveis. A sua utilização não é totalmente consensual e deverá ser sempre avaliada caso a caso. O ideal será discutir estas opções com o médico especialista para perceber se será recomendado no seu caso.
Tratamento cirúrgico (cirurgia)
A cirurgia na artrose do tornozelo é uma opção que deve ser equacionada quando o tratamento conservador falha. Uma operação pode ser a única opção para melhorar a qualidade de vida do doente. Dependendo da causa da artrose e do desgaste da articulação, podemos considerar 3 principais cirurgias:
- A cirurgia conservadora da articulação, que poderá ser uma osteotomia (realinhamento da articulação), um transplante de cartilagem, utilização de cartilagem artificial, ou simplesmente uma artroscopia para “limpar” a articulação e diminuir a inflamação;
- A segunda opção, é a colocação de uma prótese do tornozelo. Uma cirurgia exigente que tem vindo a evoluir muito nos últimos anos e consegue atualmente melhorar a dor e ao mesmo tempo manter a mobilidade do tornozelo;
- A terceira opção é a artrodese (fusão) do tornozelo. Neste caso os ossos do tornozelo são unidos e o tornozelo fica imóvel (deixa de mexer). É uma boa opção nos casos mais graves e tem bons resultados no controlo da dor mantendo uma boa função. Não implica necessariamente que deixe de andar ou que fique a “mancar”.