A dor na anca pode ser causada pela coxartrose (artrose na anca), pelas bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), pelas tendinites (inflamação de um tendão), entre outras patologias (doenças), que podem também provocar dor nesta região, como veremos adiante com algum detalhe.
A dor na anca é mais frequente nos idosos e nos desportistas, fundamentalmente devido aos problemas degenerativos relacionados com o envelhecimento e às lesões associadas ao desporto. Contudo, a dor na anca pode afetar qualquer pessoa, indiferentemente da sua idade e sexo.
De seguida, enumerámos algumas das principais patologias que podem provocar dor na anca. No final, elencamos formas de tratamento e de prevenção da dor na anca.
Artrose da anca
A coxartrose (artrose da anca) é uma das principais causas para a dor na anca, atingindo entre 10 a 20% das pessoas após os 60 anos de idade. Apesar de ser uma patologia degenerativa e mais frequente em idades avançadas, pode também afetar os jovens, se bem que em percentagens bastante inferiores. A coxartrose é, juntamente com a artrose do joelho (gonartrose), das artroses mais prevalentes entre a população.
A coxartrose caracteriza-se pelo desgaste da cartilagem desta articulação. O desgaste da articulação faz com que o efeito de amortecimento diminua e consequentemente os ossos “estejam mais em contacto”, provocando a dor. Tipicamente, é caracterizada por uma dor na anca que irradia para a perna (irradiação da dor para a virilha, coxa ou joelho) e que pode ser mais ou menos intensa mediante o desgaste existente. Habitualmente, as dores na anca tendem a agravar com o esforço ou com movimentos (ao caminhar, ao levantar, etc.). Algumas pessoas percecionam os primeiros sintomas quando fazem um esforço maior, como por exemplo: após caminhadas longas, subir ou descer escadas, depois de correr, etc.. No entanto, principalmente nas fases mais avançadas da coxartrose, a dor pode ser constante (uma dor que não passa ou dói sempre), mesmo quando está sentado ou deitado, impedindo muitas vezes o doente de dormir durante a noite, acarretando graves problemas adicionais de saúde.
A artrose na anca pode ser bilateral, atingindo as duas ancas. A artrose bilateral é mais frequente apesar do desgaste existente poder se diferente nas duas ancas. Pode também ser unilateral, ou seja, atingindo apenas uma das ancas (anca esquerda ou anca direita).
Saiba, aqui, tudo sobre coxartrose.
Bursites da anca
A bursite da anca é também uma das causas frequentes para a dor na anca, atingindo mais frequentemente atletas ou praticantes ocasionais de desporto. Contudo, pode também ocorrer em pessoas que não pratiquem qualquer atividade física.
Uma bursite resulta da inflamação de uma bolsa sinovial (ou bursa). Na região da anca existem quatro bolsas sinoviais (ou bursas). A bursite trocantérica (que afeta a bursa trocantérica) é o tipo de bursite mais frequente, apesar da inflamação poder ocorrer em qualquer uma das quatro bursas da anca.
Na bursite trocantérica (ou trocanterite) habitualmente ocorre dor na anca que se localiza na região lateral externa (“dor de lado na anca”) e que pode irradiar para a coxa e joelho. Geralmente, ocorre dor quando nos deitamos na cama sobre a anca afetada “de lado”, não permitindo, muitas vezes, deixar o doente dormir durante a noite. As dores na anca podem variar bastante de intensidade, intensificando-se com a realização de atividades (ao caminhar, ao subir ou descer escadas, etc.).
Saiba, aqui, tudo sobre a bursite da anca.
Tendinites da anca
Uma tendinite é uma inflamação de um tendão, sendo a dor na região afetada um dos principais sintomas. Um tendão é um género de “cordão” fibroso, constituído por tecido conjuntivo. A função de um tendão é de conectar (ligar) os músculos com os ossos.
Na anca existem os músculos glúteos (glúteo máximo, glúteo médio e glúteo mínimo). Na coxa, encontramos diversos músculos, divididos em região ântero-lateral, posterior e região póstero-medial
A inflamação de um tendão (tendinite) pode ocorrer em qualquer tendão, contudo alguns são mais propensos à lesão, dependendo obviamente das atividades desportivas ou outras praticadas. Em alguns desportos, as tendinites desta região são relativamente frequentes.
As tendinites dos glúteos (máximo, médio e mínimo) são as mais frequentes na anca. Por norma, a dor localiza-se na região lateral da anca. Em alguns casos, a dor pode irradiar para a face lateral da perna. O tendão do ílio-psoas, da fáscia lata e dos músculos adutores, especialmente do tendão do longo adutor, estão também entre os mais suscetíveis de desenvolvimento de tendinites.
As tendinites de repetição podem evoluir para dor crónica e são um fator de risco para que ocorram roturas ou rupturas do tendão (quando o tendão se “rompe”), sendo esta lesão mais grave comparativamente à tendinite. Neste sentido, é muito importante que uma tendinite seja diagnosticada e tratada de forma correta e atempada
Saiba, aqui, tudo sobre tendinites da anca.
Patologias da coluna vertebral
A dor regional da anca é um sintoma que pode também estar associada a problemas na coluna vertebral, fundamentalmente da coluna lombar. Nestes casos, é frequente que a dor irradie para a região da virilha /anca.
A espondilose (artrose na coluna) é uma alteração degenerativa da coluna vertebral, que pode afetar todos os segmentos da coluna, podendo a dor de costas irradiar paras as nádegas e virilhas, no caso da espondilose lombar e lombossagrada.
Saiba, aqui, o que é espondilose.
As hérnias discais (hérnias de disco), através da compressão e inflamação dos nervos ou da medula provocam dor de costas que também pode irradiar para diversas regiões anatómicas, dependendo da localização da hérnia. No caso da hérnia lombar o sintoma mais característico é a ciatalgia (dor ciática). Trata-se de uma dor nas costas que irradia para a face lateral ou posterior da perna até ao pé. Nestes casos, podem igualmente verificar-se outros sintomas como formigueiros, adormecimento da perna, alterações de sensibilidade e fraqueza muscular.
Saiba, aqui, o que é hérnia discal.
Na coluna, os deslizamentos vertebrais (espondilolistese), a estenose vertebral, os desvios da coluna vertebral (cifose, lordose e escoliose), entre muitas outras patologias, podem também desencadear sintomatologia que, em determinados casos, poderá irradiar para a região da anca.
Saiba, aqui, tudo sobre dor na coluna.
Outras causas para a dor na anca
Para além das patologias atrás apresentadas, muitas outras podem estar na origem da dor na anca.
As fraturas (“osso partido”) são das razões mais frequentes e graves da dor na anca, visto que a maioria dos casos atinge os idosos, dada a fragilidade óssea, muitas vezes, devida à presença de problemas de osteoporose. As fraturas da anca afetam significativamente a qualidade de vida dos doentes. Menos de 50% dos doentes atingidos com fratura do colo do fémur conseguem retomar as suas atividades quotidianas com normalidade.
Para além dos idosos, também os atletas e desportistas estão muito expostos a possíveis lesões na anca, por exemplo, através de uma queda ou de um impacto violento. Os movimentos extensos e repetidos também são um fator de risco para as lesões na anca.
Nas crianças e adolescentes são mais comuns as lesões nas extremidades devido à insuficiência de ossificação nas placas de crescimento e as sinovites. Por outro lado, se a dor na anca ocorre num atleta mais velho, as lesões mais comuns são as tendinites e as bursites que já abordamos anteriormente. Os praticantes de futebol, atletismo (corrida), dança, entre outros, pelo esforço que desenvolvem e pelos movimentos extremos da anca, são mais suscetíveis a desenvolverem lesões. Alguns fatores de risco podem ser associados às lesões na anca, principalmente dois, a saber: o aquecimento realizado ser deficiente e aumentos demasiado rápidos da cadência do treino.
À semelhança das patologias da coluna que podem irradiar para a anca, outras podem também causar dor irradiada nesta região. Por exemplo, algumas patologias (ou doenças) dos joelhos podem provocar dor que pode irradiar para a região da anca. São exemplos a artrose do joelho (gonartrose), as lesões do menisco, etc.
Durante a gravidez é muito frequente que possa ocorrer dor na anca e também nas costas. Durante a gestação, ocorre na mulher grávida um conjunto de alterações hormonais e de aumento de peso, que podem desencadear dor, entre outros sinais e sintomas. Estes sintomas podem verificar-se logo no início da gravidez e estender-se até ao final, resolvendo, tipicamente, de forma espontânea após o parto.
Conheça, aqui, os sinais e sintomas da gravidez.
Para além das patologias atrás apresentadas, muitas outras poderão desencadear dor na anca. A artrite (artrite reumatóide, artrite da psoríase, osteoartrite, artrite séptica), alguns tipos de cancro ou metáteses ósseas de outros tumores, necrose avascular, doença de Paget, doença de Legg-Calve-Perthes, osteomalácia, osteomielite, são alguns exemplos de patologias.
Diagnóstico da dor na anca
Como vimos, existem inúmeras patologias capazes de provocar dor na anca. Neste sentido, é muito importante diagnosticar e instituir tratamento de forma adequada e atempada de modo a prevenir possíveis complicações.
O diagnóstico deve ser feito pelo médico ortopedista (especialista em ortopedia), tendo por base a história clínica, a observação médica e o recurso a meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT).
A coxartrose, geralmente, é de fácil diagnóstico. A radiografia (Raio-X) é um exame relativamente simples e que permite realizar o diagnóstico. Caso se confirme a coxartrose, nos casos mais comuns, a anca apresenta uma redução da interlinha articular, a presença de esclerose subcondral e, osteófitos. Caso se verifique uma coxartrose mais avançada, constata-se que a cabeça femoral perdeu a sua esfericidade normal.
Quer na coxartrose quer nas restantes patologias, o médico pode solicitar muitos outros exames. Dependendo do quadro clínico subjacente, do resultado do exame objetivo, das suspeitas do médico, entre outros, o médico poderá recorrer a diversos exames / análises, a saber:
- Raio X (radiografia);
- Tomografia computorizada (TC ou TAC);
- Ressonância magnética (RM);
- Densitometria óssea;
- Análises de sangue, análises de urina, …
- Etc..
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Tratamento da dor na anca
O tratamento da dor na anca depende da causa subjacente. Ou seja, após diagnóstico, o médico deverá delinear um plano de tratamento de acordo com a patologia (ou doença) responsável por originar a dor.
No caso da coxartrose, numa primeira fase, o tratamento passa por um determinado conjunto de medidas que são análogas a outros tipos de artrose primária: fazer repouso, realizar apoio durante a marcha (uso de canadianas) e a perda de peso, estão entre as medidas iniciais. A prescrição de medicamentos (ou remédios) analgésicos e anti-inflamatórios permitem aliviar a dor. O tratamento medicamentoso pode incluir também suplementos de sulfato de glucosamina e condrointina, ácido hialurónico, entre outros. O recurso à fisioterapia com exercícios que permitam manter a mobilidade coxofemoral, contrariar a atrofia muscular, fazer alongamentos dos músculos isqueotibiais (músculos do lado posterior da coxa), condicionamento aeróbico, entre outros, permitem evitar contraturas, posturas viciosas da anca e coluna vertebral, bem como, favorecem a recuperação, o atraso da progressão da patologia e diminuir a dor.
Se após o tratamento convencional o paciente continuar a sentir dor e incapacidade de mobilidade, poderemos ter de avançar para tratamento cirúrgico (cirurgia). A cirurgia na artrose da anca consiste classicamente em três tipos de intervenções cirúrgicas, a saber: as artrodeses, as osteotomias de reorientação, e as artroplastias da anca (colocação de próteses da anca) que vieram praticamente substituir as 2 anteriores em face dos excelentes resultados e sobrevidas longas.
Saiba, aqui, tudo sobre artroplastia da anca.
Como descrevemos anteriormente, existem diversas outras patologias para além da coxartrose que podem desencadear dor na anca. O tratamento deve sempre ser orientado de acordo com as causas subjacentes. Veja mais informação em cada uma das patologias relacionadas.
No caso dos atletas, a cessação da atividade física, a redução da sua intensidade ou a substituição por outras atividades pode ser necessária. A natação é um exemplo de uma atividade de substituição.
O médico deverá avaliar as causas e ajudar o desportista a prevenir as lesões. Por exemplo, no caso dos atletas que apresentam disparidade no comprimento dos membros inferiores, o médico especialista, por norma, aconselha o uso de palmilhas específicas ou calçado adequado. Para além disso, pode ajudar a identificar alguns fatores de risco e a instruir algumas medidas preventivas, conforme veremos de seguida.
Como prevenir a dor na anca?
Infelizmente algumas patologias não podem ser totalmente prevenidas. No entanto, existem alguns comportamentos de risco que podem e devem ser precavidos.
Um desses fatores de risco é o excesso de peso (obesidade) que sobrecarrega as articulações. Evitar um estilo de vida sedentário e fazer uma alimentação rica e equilibrada são duas medidas muito importantes, não só para evitar o excesso de peso, mas também para prevenir muitas doenças. Neste sentido, praticar exercício físico, como fazer caminhadas é muito importante. Por outro lado, a prática excessiva de exercício físico, com um ritmo muito assíduo e árduo, também é um fator de risco, pois o “excesso” de exercício físico pode conduzir a um desgaste articular precoce, para além de poder originar algumas patologias, tal como descrito anteriormente.
Correr em superfícies inclinadas ou com irregularidade é também um fator de risco. Acresce que o uso inadequado de calçado desportivo, problemas na “pisada” ou com a diferença de comprimento nos membros inferiores podem também dar origem a lesões na anca.
A prevenção de lesões passa também por fazer sempre um “bom aquecimento” e precaver aumentos repentinos do ritmo de treino ou situações de treino excessivo.
Veja mais medidas de prevenção em cada uma das patologias relacionadas.