O esporão do calcâneo (osso do calcanhar) é um crescimento anormal do osso, formando uma saliência óssea. Ou seja, no osso é formado uma protuberância óssea que corresponde a um depósito anormal de cálcio. A maioria das vezes, o esporão localiza-se na parte inferior do calcâneo (“por baixo” do “osso do calcanhar” ou na “sola do pé”) e não é visível desde o exterior. Veja imagens superiores.
O calcâneo é o maior osso do nosso pé. É o calcâneo que sustenta o peso do nosso corpo, dessa forma suporta um impacto constante e intenso. Cientificamente o esporão surge no contexto de microtraumas e inflamação crónica que favorecem a calcificação dos tecidos em volta do calcâneo.
O esporão do calcâneo desenvolve-se maioritariamente na “sola do pé”, no entanto, também poderá surgir na zona envolvente do tendão de aquiles. Por vezes, esta patologia é referida popularmente como “esporão de galo”, dadas as semelhanças da localização desta saliência óssea para as esporas dos galos.
Em alguns casos, o esporão do calcâneo pode ser assintomático (sem sintomas). Noutros casos, pode provocar dor no calcanhar que pode ser em alguns casos bastante intensa e gerar até problemas de mobilidade, pela dor ao colocar o pé no chão para andar.
Habitualmente, a dor surge porque o esporão do calcâneo se associa a inflamação da fáscia plantar (fascite plantar). A fáscia plantar é um tecido (banda espessa de tecido fibroso) que faz a união do calcanhar aos dedos do pé. Tem como função a proteção dos tendões do pé através de tecido fibroso, absorvendo os choques e suportando a arcada plantar (“planta do pé”). A fascite plantar é a principal causa de dor no calcanhar.
Causas de esporão do calcâneo
Embora as causas para o desenvolvimento de esporão do calcâneo não sejam completamente conhecidas, sabemos que existem diversos fatores de risco que facilitam o desenvolvimento desta patologia (doença), a saber:
- Praticar desportos que exijam um elevado impacto (do pé no chão). São exemplos: dançar, correr, saltar, ballet, etc;
- Usar calçado inadequado (p. ex. usar salto alto, no caso das mulheres, calçado apertado ou deformado, etc);
- A “pisada” ser desajustada;
- Permanecer muitas horas de pé;
- Estar na faixa etária acima dos 40 anos;
- Ter excesso de peso (obesidade);
- Ter o pé chato ou o pé cavo;
- Etc.
Sintomas de esporão do calcâneo
O esporão do calcâneo é na maioria das vezes (cerca de 95%) assintomático (sem sintomas) ou causa poucos sintomas, podendo permanecer longos períodos de tempo sem causar qualquer tipo de incómodo.
Porém, o sintoma mais frequente é a dor no calcanhar (“tipo pontada”). A dor não é provocada apenas e somente por existir o esporão. Para existir dor, é necessário, também, que se verifique a inflamação da fáscia (fascite plantar).
Na fascite plantar, a dor no calcanhar é, normalmente, mais forte quando nos levantamos de manhã da cama e damos os primeiros passos e/ou quando estamos muito tempo sentados e depois iniciamos, também, os primeiros passos.
Normalmente, as dores tendem a agravar-se quando subimos escadas, estamos longos períodos de tempo em pé ou pelo contrário estamos demasiado tempo em repouso. Por sua vez, a dor tende a abrandar ao deambular (andar, com atividade).
Em alguns casos, pode verificar-se algum edema (“inchaço”) do próprio calcanhar ou até mesmo do tornozelo.
Diagnóstico de esporão do calcâneo
O diagnóstico do esporão do calcâneo deve ser feito pelo médico ortopedista (especialista em ortopedia). Para diagnosticar, para além da história clínica, o médico ortopedista poderá recorrer a diversos exames (ou meios complementares de diagnóstico), a saber:
- Raio-X do pé (radiografia) - É um exame bastante útil para confirmar o diagnóstico. Se o RX for realizado em carga permite excluir doenças degenerativas;
- Ressonância magnética (RMN) - Este exame torna-se relevante no diagnóstico diferencial de outras patologias, como por exemplo, fratura de stress do calcâneo, entre outras;
- Estudo analítico – Estas análises são importantes na determinação de outas patologias, como por exemplo, infeção e/ou artrite inflamatória, etc;
- Outros exames – o médico ortopedista poderá sempre recorrer a outros exames, dependendo da história clínica, em caso de dúvidas suscitadas em algum resultado dos exames, etc.
Esporão do calcâneo tem cura?
Os tratamentos médicos para o esporão do calcâneo permitem reduzir a inflamação e aliviar a dor na fase aguda, conforme veremos adiante com detalhe. No entanto, estes tratamentos não permitem tratar definitivamente ou “curar” de forma definitiva o esporão do calcâneo. Uma vez desenvolvido o esporão, a saliência não “desaparece” com estes tipos de tratamentos.
A única forma de “curar” ou eliminar definitivamente o esporão do calcâneo é através de cirurgia (ou operação) que consiste na remoção cirúrgica da saliência óssea. Mesmo nesse caso poderá ocorrer uma recidiva (voltar a desenvolver a protuberância mais tarde). Veja mais informação em cirurgia para saber quando devemos equacionar operar o esporão do calcâneo.
No caso de ocorrer inflamação da fáscia (fascite plantar) pode demorar mais algum tempo até que os sintomas desapareçam. Contudo, nos casos de maior sucesso, ao fim de dois meses de tratamento já são visíveis resultados muito positivos. Infelizmente, nas situações menos favoráveis, o processo de recuperação pode estender-se até um ano. E, caso não seja adoptado um tratamento adequado, a dor pode vir a tornar-se crónica.
Saiba, de seguida, como tratar o esporão do calcâneo.
Tratamento de esporão do calcâneo
O tratamento para o esporão do calcâneo deve ser prescrito pelo médico ortopedista após diagnóstico e individualizado a cada utente.
Como primeira e principal medida para o tratamento e prevenção do esporão do calcâneo encontram-se as alterações no estilo de vida. A perda de peso (através de uma alimentação adequada, evitar o sedentarismo, etc), de forma a diminuir a pressão exercida sobre o calcâneo, é uma importante medida nos casos onde existe obesidade associada.
Se o doente pratica alguma atividade física, o mais certo é que o médico aconselhe a sua restrição temporária, fundamentalmente, em desportos em que exista impacto com o solo, incentivando o repouso até que exista melhorias na sintomatologia. Porém, se não sentir dor, o retorno à atividade física pode ser equacionado, mas, de forma gradual.
Durante e após a fase aguda deve evitar a caminhada de longa duração. Porém, após, mais ou menos 6 semanas e na ausência de dor, realizar caminhadas poderá tornar-se benéfico para a recuperação.
Existem diversas opções de tratamento, que podem ser prescritas pelo médico ortopedista, por forma a aliviar a dor e facilitar a recuperação, a saber:
- Prescrição de medicamentos (ou remédios) anti-inflamatórios - por exemplo, o ibuprofeno, geralmente sob a forma de comprimidos e/ou pomada, atua de forma a aliviar a dor e a reduzir a inflamação. A utilização deste tipo de tratamento medicamentoso deve ser sempre realizada de acordo com a prescrição médica. O doente nunca deve automedicar-se, sob pena de poder agravar, ainda mais, o seu quadro clínico;
- Uso de uma palmilha ortopédica - também conhecida como “calcanheira” ou “almofada para o calcanhar”, feita em silicone ou outro material, tem como função fulcral distribuir eficazmente a pressão exercida no calcanhar, aliviando as dores. Encontra facilmente estas palmilhas ortopédicas em farmácias e nas lojas de produtos ortopédicos;
- Uso de uma “bota walker” - permite também distribuir a carga e desta forma um alívio imediato da dor quando o pé entra em contacto com o solo, tornando-se assim uma boa opção para permitir a mobilidade e melhorar a qualidade de vida;
- Fisioterapia - através da realização de exercícios de alongamento (que permitam o estiramento) adequados e em alguns casos a aplicação de ondas de choque – para os casos onde após 6 meses ainda continue a ocorrer sintomatologia (dor crónica).
Como tratamento caseiro ou natural poderá na fase aguda fazer a aplicação de gelo que permite reduzir a inflamação e aliviar as dores. Por sua vez, para aliviar as dores, na fase menos aguda, o mais indicado já não é o contacto com o frio, mas sim, o contacto com o calor. Devendo, assim, por exemplo, colocar o pé em contacto com a água quente. Esta ação ajuda os músculos a relaxar e vai acabar por permitir reduzir a inflamação existente e reduzir a dor.
Usar calçado adequado e cuidar da saúde dos seus pés, através de ações de higiene pessoal também é muito importante na prevenção e tratamento desta e de outras patologias. No calçado, se a sola, que é parte que amortece as colisões com o solo, não é maleável, não vai executar bem o seu papel e os impactos mal amortecidos vão prejudicar a sua recuperação. Assim, não deve usar botas, sapatos, ténis, sandálias, chinelos, etc. que possuam uma sola “dura” (devem ser maleáveis). Por último, mas não menos importante, deve evitar, de todo, andar descalço, essencialmente durante a manhã que é quando inicia os primeiros passos.
O cumprimento com os tratamentos indicados é muito importante para uma boa recuperação. Pois, caso não realize o tratamento corretamente, poderá vir a sofrer complicações no futuro, nomeadamente, vir a padecer de dor crónica no calcanhar. Porém, se os tratamentos acima mencionados fracassarem, deve ser equacionado o tratamento cirúrgico, conforme veremos de seguida.
Cirurgia de esporão do calcâneo
A cirurgia (ou operação) de esporão do calcâneo deve ser considerada só quando os tratamentos médicos atrás descritos falharem.
A intervenção tem como objetivo realizar a exérese do esporão (“remover o esporão”) e libertar a fáscia plantar. Pode ser realizada por cirurgia aberta ou por artroscopia.
A cirurgia é geralmente realizada sob anestesia local ou loco-regional.
Apesar de ser uma cirurgia segura, comporta algumas complicações à semelhança de qualquer procedimento cirúrgico. A dor neuropática por lesão do nervo, alterações de sensibilidade (hipostesias), fibrose e infeção são as principais complicações após a cirurgia.
A recuperação no pós operatório implica um período de descarga (sem exercer força no pé afetado), habitualmente, entre 3 a 6 semanas. No entanto, o doente não necessita de realizar repouso neste período.
O risco de recidiva (“o esporão aparecer de novo”) é considerável e que deve ser ponderado antes da decisão de operar.