O antebraço, segmento do membro superior, compreendido entre o cotovelo e o punho (pulso), é constituído por dois ossos: rádio e cúbito. O rádio localiza-se lateralmente e tem como principais funções dar suporte e estabilidade a esta região anatómica, bem como permitir o normal movimento articular.
As fraturas do rádio, podem ocorrer em qualquer parte do osso, seja no colo, diáfise ou extremidade distal, sendo que as últimas (fraturas do rádio distal) são as mais comuns.
As fraturas do rádio distal, afetam a articulação do punho, que conecta os ossos do antebraço, com os ossos da mão. Como consequência, o doente perde a capacidade de realizar vários movimentos do punho, nomeadamente, flexão, extensão, desvio cubital e radial e pronosupinação (rotação). Portanto, fica impossibilitado de realizar as atividades da vida diária e/ou profissionais, como escrever, agarrar, segurar ou manipular objetos.
Causas da fratura do rádio distal
As fraturas do rádio distal constituem uma das lesões ósseas mais frequentes, uma vez que representam cerca de 20% de todas as fraturas, podendo surgir em qualquer idade. Tem uma distribuição bimodal: jovens, do sexo masculino, estando associada a acidentes de alta energia, designadamente quedas em altura e acidentes de viação ou desportivos.
Por outro lado, as fraturas mais comuns associam-se a indivíduos mais velhos (idosos), do sexo feminino, quando ocorrem quedas da própria altura e frequentemente relacionadas com a osteoporose. Estas últimas, ocupam o segundo lugar das fraturas osteoporóticas, depois do fémur proximal.
Sintomas na fratura do rádio distal
O mecanismo mais comum das fraturas do rádio distal é uma queda com apoio, sobre a mão estendida (extensão do punho). O doente, tipicamente, refere dor e edema (inchaço), dificuldade em mexer a mão e o punho e, deformidade devido à perda do alinhamento das estruturas ósseas. Pode apresentar também alterações da sensibilidade e formigueiro nos dedos, e ainda, numa fase mais tardia, um hematoma (mancha roxa), decorrente da hemorragia interna na zona da fratura.
Se as fraturas do rádio distal resultarem de traumatismos de alta energia, devem ser pesquisadas lesões concomitantes. No punho podem estar presentes fraturas associadas, como as do cúbito ou dos ossos do carpo e também lesões ligamentares (exemplo - lesão do ligamento escafolunar). Nestes casos, por vezes ocorrem também fraturas expostas, isto é, lesões em que o osso partido atravessa os tecidos moles e a pele e fica em contacto com o exterior.
Deve ser feito ainda um despiste de lesões de outras regiões anatómicas, nomeadamente coluna, bacia, membros inferiores e traumatismos abdominais, torácicos e cranianos.
Diagnóstico da fratura do rádio distal
O diagnóstico das fraturas do rádio distal inicia-se com a colheita da história clínica e realização do exame físico detalhados. No exame físico procura-se sinais característicos destas fraturas.
De seguida, são solicitados exames de imagem. O Raio-X, exame basilar, que é realizado em todos os doentes, permite confirmar a fratura, localizá-la e avaliar lesões associadas.
A tomografia computorizada (TAC) fornece uma melhor caracterização e detalhe da fratura. A ressonância magnética nuclear (RMN) é um ótimo método de imagem, para a avaliação de lesões dos tecidos moles. No caso das fraturas do rádio distal,
sobretudo naquelas que estão associadas a traumatismos de alta energia, é particularmente útil na avaliação de lesões em torno da fratura, tais como ligamentares, tendinosas, capsulares e neurovasculares.
Tratamento conservador na fratura do rádio distal
A escolha entre o tratamento conservador ou cirúrgico depende de vários fatores, entre os quais as características da fratura (estável versus instável, articular versus extra-articular, localização e lesões ósseas ou de tecidos moles associadas).
Deveremos também ter em conta as características do doente (idade, estado geral, grau de exigência do punho afetado) e claro, a vontade do próprio.
O tratamento conservador geralmente assenta na imobilização com gesso ou ortótese, que deverá envolver a mão, punho e antebraço e, por vezes, o cotovelo.
O repouso relativo do membro, com evicção de atividades físicas intensas, é essencial para a correta cicatrização do osso e controlo da dor. É importante o incentivo à mobilização ativa dos dedos e do cotovelo (caso este não esteja envolvido pela imobilização com gesso), para evitar o edema e a rigidez das articulações.
A reabilitação é relevante, sobretudo após a imobilização. Permite que o doente recupere a força e funcionalidade do membro afetado e, portanto, que regresse aos níveis de atividade prévia.
Nos casos das fraturas que ocorrem devido à fragilidade óssea, é importante que seja avaliada a necessidade de terapêutica (remédios), para controlo da osteoporose.
A imobilização com gesso e/ou ortótese tem uma duração média de 6 semanas. Durante este período, o doente deve realizar controlos radiográficos (Raio-X) seriados, para avaliar a evolução da consolidação (cicatrização) da fratura.
Cirurgia na fratura do rádio distal
A cirurgia (ou operação) está indicada nas fraturas do rádio distal instáveis, complexas, expostas e naquelas que têm lesões de partes moles associadas, quando estas últimas precisam de tratamento cirúrgico.
Em situações de perda de redução, isto é, quando uma fratura inicialmente alinhada e, por isso, elegível para tratamento conservador, se “desmonta” durante o período de recuperação, é necessária a alteração da abordagem de tratamento, para o cirúrgico.
Em algumas situações, o tipo de doente exige a adoção do tratamento cirúrgico em virtude da necessidade de uma recuperação mais célere, por exemplo, em atletas ou indivíduos com um estilo de vida muito ativo/exigente.
Como é feita a cirurgia nas fraturas do rádio distal?
A cirurgia nas fraturas do rádio distal é realizada com recurso a anestesia geral ou anestesia locorregional, em que é induzido um bloqueio dos nervos periféricos, criando um adormecimento do membro. Relativamente ao tipo de anestesia a aplicar, é tomada em conta a vontade do doente e opiniões do anestesista e ortopedista. A cirurgia normalmente é realizada em regime de ambulatório, ou seja, o doente tem alta no próprio dia.
Durante o procedimento, a fratura é geralmente fixada com placas e parafusos metálicos. Dependendo do padrão da fratura, este material pode ser colocado na região anterior do punho (mais frequentemente), ou no dorso. Em fraturas mais simples e, em indivíduos mais jovens, é possível aplicar apenas parafusos. No caso de fraturas mais complexas e/ou expostas, pode ser necessário o uso temporário de fixadores externos.
A artroscopia tem cada vez mais um papel importante no tratamento das fraturas do rádio distal. Possibilita a avaliação da complexidade e extensão das mesmas, auxilia no processo de redução da fratura, isto é, no realinhamento ósseo, e permite diagnosticar e tratar lesões associadas como a reparação do ligamento escafolunar, fibrocartilagem triangular ou articulação radiocubital distal.
Complicações na cirurgia da fratura do rádio distal
As complicações das fraturas do rádio distal, submetidas a tratamento cirúrgico, são raras. As mais frequentes são a dor na região da cicatriz e/ou punho e a rigidez articular. A rigidez articular pode resultar da impossibilidade do restabelecimento da anatomia óssea prévia, sobretudo quando a fratura atinge a superfície articular, ou da imobilização prolongada do membro, que muitas vezes resulta do receio do doente em mobilizá-lo.
De forma semelhante ao que acontece no tratamento conservador, embora com menor frequência, pode ocorrer a perda da redução da fratura.
A síndrome do canal cárpico pós fratura, também é uma complicação descrita, podendo ocorrer no tratamento cirúrgico e conservador.
Por vezes, verificam-se lesões dos tendões, responsáveis pela flexão e extensão dos dedos, que atravessam o local da fratura. Esta lesão pode ser consequência da remodelação óssea, que acontece ao longo da cicatrização da fratura ou por conflito com o material metálico colocado. Esta complicação também ocorre nas fraturas tratadas de forma conservadora.
Pós-operatório da cirurgia de fraturas do rádio distal
Nos dias seguintes à cirurgia, é recomendável que o doente realize drenagem postural do membro (coloque o “braço ao peito”) e que mobilize ativamente os dedos, punho e cotovelo, para reduzir a dor e o edema, bem como para prevenir a rigidez articular.
As atividades permitidas nesta fase, estão circunscritas a pequenas tarefas como lavar os dentes, comer ou escrever. Pretende-se, assim, que o doente faça um repouso relativo do membro operado, estimulando a mobilidade com atividades de baixa intensidade e que envolvam pouca carga (menos de 1 quilograma). A aplicação destas medidas vai determinar o sucesso do tratamento.
O material de sutura (os pontos) é removido ao fim de duas semanas.
Recuperação após a cirurgia da fratura do rádio distal
O tempo de recuperação após o tratamento cirúrgico é variável e depende essencialmente das características do doente, das características da fratura e das lesões associadas. O doente vai progressivamente retomando as suas atividades diárias e, normalmente, às 10 a 12 semanas, pode realizar as suas funções, sem limitações, incluindo a prática desportiva.
É importante que seja iniciado, desde as primeiras semanas, um programa fisiátrico (fisioterapia) eficaz, para fortalecimento muscular, controlo da dor, redução do edema e para ganho da mobilidade, de forma a prevenir a rigidez articular.