A coluna vertebral é composta por vértebras (ossos da coluna) e por discos intervertebrais. As vértebras formam um arco que, em conjunto, um canal (canal vertebral) onde passa a medula espinal e as raízes nervosas responsáveis pela força muscular e sensibilidade nos membros superiores (braços) e inferiores (pernas).
O disco intervertebral é uma substância gelatinosa que se localiza entre as vértebras que funciona como um amortecedor, facilitando o movimento da coluna vertebral. Ele é formado por uma camada externa, chamada de anel fibroso, e uma camada interna, conhecida como núcleo pulposo.
A hérnia discal ou hérnia de disco é quando o núcleo pulposo se projeta (“sai”) através do anel fibroso para o canal vertebral, comprimindo as estruturas neurológicas próximas, como a medula, a cauda equina ou as raízes nervosas.Esse quadro pode gerar dor e desconforto quanto nos membros superiores como nos membros inferiores. Veja imagens.
A hérnia discal é mais comum na região lombar, mas também podem surgir na região cervical (veja adiante localização da hérnia discal). Os sinais e sintomas presentes variam de acordo com a localização da hérnia. Veja mais informação em “sintomas da hérnia discal”.
Existem vários termos para designar as condições associadas à patologia discal:
- "Abaulamento discal” é quando há uma saliência ou abaulamento do disco para o canal vertebral, sem saída do núcleo pulposo.
- “Protusão discal” ocorre quando a saliência é focalizada numa região específica do canal vertebral, mas sem fissura do anel fibroso.
- “Hérnia discal” ocorre quando há uma fissura completa do anel fibroso com extrusão do núcleo pulposo para o canal vertebral. Se o núcleo pulposo exteriorizado ficar livre dentro do canal denomina-se “sequestro ou extrusão discal”.
Localização das hérnias discais:
A coluna vertebral é dividida em quatro regiões principais (veja imagem):
- Coluna cervical: segmento mais alto da coluna, composto por sete vértebras (C1 a C7);
- Coluna torácica: localizada na região intermédia com doze vértebras (T1 a T12 ou D1 a D12);
- Coluna lombar: é constituída por cinco vértebras (L1 a L5) e é habitualmente designada por “costas”.
- Coluna sagrada(sacro): parte inferior da coluna, formada por com quatro ou cinco vértebras fundidas (S1 a S5) e termina no cóccix.
1. Hérnia discal cervical
A hérnia discal cervical, ou hérnia cervical ocorre habitualmente entre C5 e C6 (hérnia discal C5C6) ou C6 e C7 (hérnia discal C6C7). A hérnia cervical comprime as estruturas neurológicas dentro do canal vertebral provocando dor irradiada para o braço (braquialgia ou cervicobraquialgia)e outros sintomas neurológicos com formigueiros, falta de força ou diminuição da sensibilidade.
2. Hérnia discal dorsal ou torácica
Embora rara, a hérnia discal dorsal pode causar alterações na sensibilidade, perda de força no tronco e membros inferiores, mudanças na marcha e disfunção urinária ou intestinal.
3. Hérnia discal lombar
A hérnia discal lombar, ou hérnia lombar é mais frequente entre L4 e L5 (hérnia discal L4L5) ou L5 e S1 (hérnia discal L5S1). Manifesta-se por dor irradiada para a nádega e perna até ao pé conhecida por dor ciática, que pode ser acompanhada de outros sintomas como formigueiros, falta de força ou diminuição da sensibilidade.
Causas da hérnia discal
Durante a infância e adolescência os discos são altos e hidratados. No entanto, a partir da segunda década de vida, a quantidade de água nos discos diminui, levando à perda elasticidade e aumento suscetibilidade a lesões.
Fatores como predisposição genética, levantamento de pesos de forma inadequada, tabagismo, obesidade e esforços repetidos também contribuem para a sobrecarga e degeneração dos discos intervertebrais.
Sinais e sintomas na hérnia discal
Os sintomas dependem da localização da hérnia:
Sintomas na Hérnia discal lombar
O principal sintoma é a dor ciática, uma dor aguda na nádega, face lateral da coxa, perna e pé.
Adormecimento, formigueiro, alterações da sensibilidade e fraqueza muscular da perna afetada também podem ocorrer. Em determinado tipo de hérnias a dor irradia pela face anterior da coxa e habitualmente não ultrapassa o joelho (cruralgia).
Sintomas na hérnia discal cervical
O sintoma principal é a dor irradiada para o braço, por vezes até à mão (braquialgia). A compressão e inflamação do nervo causa espasmo e dor dos músculos do pescoço, ombro e braço, descrita como ardência, queimor ou pontada.
Outros sintomas presentes são: dor de cabeça (cefaleias), adormecimento, formigueiro, alterações da sensibilidade e fraqueza muscular do membro afetado. Por vezes, a dor cervical pode irradiar para os músculos em redor das omoplatas ou para as costelas. Noutras situações a dor pode irradiar para regiões da face (cefaleia cervicogénica). Em casos excecionais há perda do controla da bexiga e dos intestinos, podendo indicar uma compressão grave da medula, pelo que se deve recorrer a observação médica urgente.
Diagnóstico nas hérnias discais
O diagnóstico é feito com base na avaliação clínica complementada por exames de imagem, como a Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da coluna. O Raio X (RX), a Tomografia Axial Computorizada (TAC) da coluna e a Eletromiografia (EMG) podem ser úteis para complementar o diagnóstico.
Hérnia discal tem cura?
Na maioria das pessoas os sintomas da hérnia discal diminuem ao fim de 4 a 6 semanas.
Tratamento da hérnia discal
O tratamento conservador, não cirúrgico, deve ser tentado sempre que não existirem défices neurológicos e durante as primeiras semanas. Reduzir a atividade física, especialmente movimentos de flexão e transporte de pesos, períodos curtos de repouso, e medicação analgésica é, por norma, suficiente. Adicionalmente podem ser prescritos medicamentos anti-inflamatórios e relaxantes musculares.
O tratamento fisiátrico visa a realização de técnicas de relaxamento, fortalecimento dos músculos do pescoço, das costas e abdominais. Caminhadas, pilates, ioga e piscina são exercícios recomendados e que podem ajudar a prevenir novos episódios.
As infiltrações de corticoides na coluna podem estar indicadas reduzir a inflamação nervosa e produzir um alívio dos sintomas. Outras técnicas percutâneas, como a nucleoplastia por coblação ou plasma, IDET e ozonoterapia não têm validação clínica nem científica, pelo que a sua aplicação não deverá ser recomendada.
Evolução e prognóstico nas hérnias discais
Muitas hérnias discais deixam de provocar sintomas ao fim de algumas sintomas. Isto acontece devido à resolução da inflamação e adaptação das estruturas da coluna. Nestes casos, é possível viver com o diagnóstico de uma hérnia discal sem que ela seja fonte de quaisquer sintomas.
Noutros casos, em que haja persistência dos sintomas apesar do tratamento conservador e sempre que haja alterações neurológicas, deve ser realizado o tratamento cirúrgico.
Quando operar uma hérnia discal?
A cirurgia está indicada nos casos em que o tratamento conservador falha (persistência, recorrência ou agravamento de sintomas) ou em pessoas que se apresentam inicialmente com dor não controlada, alterações neurológicas significativas ou disfunção urinária ou intestinal.
Saiba, aqui, tudo sobre cirurgia de hérnia discal.
Cirurgia à hérnia discal
Ao contrário do tratamento conservador que é bastante semelhante independentemente da localização da hérnia, o tratamento cirúrgico da hérnia discal cervical e lombar é muito distinto.
A cirurgia a uma hérnia discal consiste na remoção do fragmento que comprime as estruturas nervosas da forma menos invasiva possível, evitando o seu reaparecimento (recidiva). Nas hérnias discais cervicais a abordagem mais utilizada é a via anterior (através do pescoço). Trata-se de uma abordagem simples, praticamente sem lesão muscular e que permite remover de forma completa o disco intervertebral e a hérnia. O disco é substituído por uma prótese (artroplastia) ou por um implante que promove a união das vértebras (fusão ou artrodese). Ambas as técnicas são muitos eficazes no alívio dos sintomas, sendo que a prótese (artroplastia) pode ajudar a evitar a degeneração dos discos intervertebrais adjacentes. Menos frequentemente, as hérnias cervicais podem ser removidas por via posterior.
O tratamento das hérnias discais lombares realiza-se, habitualmente por via posterior (pelas costas). As técnicas minimamente invasivas como a microdiscectomia por via tubular ou microdiscectomia endoscópica permitem uma recuperação rápida com menos agressividade que as técnicas clássicas ou abertas. Nalguns casos específicos poderá ser necessário a outras técnicas como a artrodese ou fusão da coluna vertebral após a remoção da hérnia. Também aqui as técnicas minimamente invasivas permitem uma recuperação mais rápida e um regresso mais rápido à atividade laboral e desportiva.