O neuroma de Morton, síndrome ou metatarsalgia de Morton é uma entidade clínica caracterizada por dor nos pés, plantar, nos espaços intermetatarsianos distais (os metatarsianos são os ossos que unem o tarso aos dedos), junto à base dos dedos.
Esta situação é mais frequente no 3º espaço intermetatarsiano, entre o 3º e o 4º metatarsianos (MT), ocorre com frequência no 2º espaço intermetatarsiano (IMT), sendo muito rara no 1º espaço (neuroma de Joplin).
É mais prevalente nas mulheres, numa proporção quatro vezes superior aos homens e que ocorre com maior frequência na década dos cinquenta anos, sendo bilateral (afetando o pé esquerdo e direito em simultâneo) em 15% dos casos.
O neuroma de Morton é um nódulo num nervo IMT, pode atingir 10 mm de diâmetro, caracterizado por fibrose e desorganização das fibras nervosas. Não é considerada lesão tumoral.
Causas do neuroma de Morton
No Neuroma de Morton, as causas do seu aparecimento são várias, não estando totalmente estabelecida a sua etiologia (origem).
São fatores associados ao aparecimento da patologia: o sexo feminino, idade superior a 50 anos, uso de calçado de tacão alto e de caixa estreita (bicudos), calçado com solas finas e pouco flexíveis, modificação da atividade física com aumento da intensidade de marcha ou corrida, excesso de peso.
Existem pormenores anatómicos que indiciam a sua maior prevalência no 3º espaço intermetatarsiano. O 4º MT é mais móvel do que os 2º e 3º MT, o nervo que corre no 3º espaço IMT é de maior diâmetro, havendo por isso maior facilidade de fricção e aperto (impingment) local.
As lesões nervosas são degenerativas, provocadas por compressão crónica com o ligamento transverso intermetatarsiano, com fibrose peri-neural e aumento de volume progressivo. Formando uma lesão nodular, pseudo-tumoral, sem cápsula definida e muitas vezes aderente aos tecidos vizinhos.
Sintomas do neuroma de Morton
A dor local é o sintoma mais importante, aparece com a marcha (ao caminhar, andar), agrava com uso de calçado apertado e pode irradiar para os dedos adjacentes. Os doentes podem referir sensação de queimadura, choque elétrico ou de “pisar vidro”. A dor no pé agrava com a marcha prolongada, com a corrida e com o desporto em geral.
Mais rara é a sensação de aumento de volume local, sinais inflamatórios ou edema (inchaço).
Diagnóstico do neuroma de Morton
O diagnóstico do Neuroma de Morton é clínico, a história clínica e o exame físico são, normalmente, suficientes para uma correta aferição da patologia. A descrição do tipo de dor, da sua localização e da forma como irradia são elementos importantes.
No exame clínico é muito sugestivo: dor à palpação da região plantar intermetatarsiana (no 3º e 2º espaços IMT), sinal de Mulder (compressão axial das cabeças dos MT), palpação de ressalto ao mobilizar o neuroma.
Os exames complementares de diagnóstico são importantes, para certificação do diagnóstico e para eliminação de diagnósticos diferenciais (outras causas de dor local).
A radiografia (raio X) serve para eliminar outras causas de metatarsalgias como: doença de Freiberg, patologia articular ou óssea.
A ecografia (ou ultrassonografia) é o exame de eleição, permite o diagnóstico, a sua localização e avaliação das suas dimensões. É um exame barato e de fácil acesso.
A ressonância magnética (RM) é um exame muito preciso, útil em caso de dúvida na ecografia, em caso de recidiva pós-cirúrgica. Como ponto negativo tem o seu preço elevado.
Neuroma de Morton tem cura?
O neuroma de morton é uma doença de tratamento acessível, deve ser delineado um esquema terapêutico progressivo, sendo a cirurgia o último recurso.
Saiba, de seguida, como tratar o neuroma de morton.
Tratamento do neuroma de Morton
O tratamento inicial do Neuroma de Morton consiste na modificação do tipo de calçado. Uso de sapatos mais amplos, de tacão mais baixo e com palmilha de borracha e flexível. Calçado onde o pé esteja “à vontade”, com piso suave e que permita uma melhor proteção da planta dos pés.
Em quase todos os casos o uso de palmilha ortopédica de descarga, moldada e personalizada, bem adaptada ao tipo de pé, é também muito importante.
É importante o controlo do peso em excesso (obesidade), na maioria dos casos uma diminuição do peso e a modificação do calçado / palmilha aliviam a sintomatologia de forma radical.
A terapêutica oral ou local, com medicamentos (ou remédios) anti-inflamatórios não esteróides (AINES) e analgésicos, apesar de permitir aliviar a dor no imediato, possui um efeito pouco duradouro.
A infiltração com corticóides e analgésicos é barata, com poucos efeitos laterais, permitindo em 35% dos casos uma quase completa remissão da sintomatologia.
O doente não deve em caso algum automedicar-se ou tentar qualquer tipo de tratamento caseiro ou natural sem que exista previamente uma prescrição médica, sob pena de poder agravar o seu quadro clínico.
Fisioterapia do neuroma de Morton
O recurso à fisioterapia no tratamento do Neuroma de Morton pode ser importante no alívio da dor, mas não interfere na evolução do curso da doença. O tratamento fisioterapêutico deve, por isso, ser reservado para doentes que não tolerem as infiltrações e que não sejam candidatos à cirurgia.
Cirurgia no neuroma de Morton
A cirurgia (ou operação) no neuroma de morton é proposta ao doente após falhanço do tratamento conservador, por período de 4 a 6 meses. Depois de modificação do calçado, uso de palmilha moldada, diminuição da atividade física e ciclo de infiltrações sem sucesso opta-se pela cirurgia.
Os tratamentos cirúrgicos podem ser executados com anestesia local, raqui anestesia ou anestesia geral ventilatória. Como são procedimentos cirúrgicos de curta duração, a anestesia pode ser superficial, permitindo a sua realização em ambulatório (o doente não necessita de ficar internado).
A cirurgia, considerada gold standard, consiste na exérese do neuroma (neurectomia) por via dorsal. É feita uma abordagem longitudinal dorsal, secção do ligamento transverso, identificação do neuroma e sua exérese (remoção do Neuroma). O tratamento cirúrgico possui uma elevada taxa de sucesso, acima dos 85%.
É possível a realização de técnicas percutâneas, com diminuição da compressão nervosa (neurolise) como sejam: secção do ligamento transverso por endoscopia e osteotomia das cabeças dos metatarsianos. Estas técnicas estão ainda dependentes de estudo, são atrativas mas têm uma menor eficácia e uma maior percentagem de recidivas.
Todos os procedimentos cirúrgicos podem ser realizados em ambulatório.
Cirurgia de neuroma de Morton - complicações
À semelhança de qualquer intervenção cirúrgica, existem riscos inerentes ao ato cirúrgico, pela anestesia e pela agressão cirúrgica.
As complicações são raras e evitáveis por uma boa programação e prática cirúrgica. No pós operatório imediato podem haver hematomas, problemas de cicatrização e infeções.
Tardiamente, pode surgir dor por recidiva do neuroma (neurectomia insuficiente) local ou no espaço adjacente.
Cirurgia de neuroma de Morton - pós operatório
No pós-operatório, é realizado penso ao 8º dia e retira-se suturas ao 15º dia.
A reabilitação por fisioterapia pode ser útil, para treino de marcha, para evitar rigidez articular e para o controlo da dor e edema do pé (pé inchado).
O tempo de recuperação é variável, tipicamente entre 4 a 8 semanas. É permitida carga imediata, parcial com 2 canadianas e sapato de pós-operatório, de sola rígida, tipo Barouk. Apenas é permitida carga protegida durante 3 semanas. A seguir recomenda-se o uso de calçado confortável até às 8 semanas.
No caso dos desportistas, o regresso progressivo à prática desportiva deve ocorrer após as 10 semanas.
Quanto custa uma cirurgia de neuroma de Morton?
O preço ou valor da cirurgia pode variar de acordo com a técnica cirúrgica, do subsistema ou seguro de saúde associado ao doente, entre muitos outros fatores.
Apenas o médico ortopedista, especialista em pé, poderá estimar com exatidão o custo da cirurgia, após avaliação em consulta.