Uma tendinite ou tendinopatia é a inflamação de um tendão. Na anca e coxa podemos encontrar diversos tendões.
Um tendão é uma espécie de “fita” ou “cordão” que tem como função conectar (ligar) os músculos com os ossos.
Na anca podemos encontrar os músculos glúteos (máximo, médio e mínimo). Na coxa, podemos dividir os músculos em região ântero-lateral (tensor da fáscia lata, sartório, quadríceps), região posterior (bícepete femoral, semitendinoso, semimembranoso) e região póstero-medial (músculos adutores: gracillis, pectineo, adutor longo, adutor curto, adutor magno). Veja imagens superiores para melhor entender a localização dos principais músculos e tendões desta região anatómica.
A tendinite pode ocorrer em qualquer um dos tendões desta região. No entanto, alguns tendões são mais suscetíveis à lesão. Acresce que algumas atividades ou desportos podem ser mais frequentemente associados a determinados tipos de tendinite.
Os tendões dos músculos glúteos (máximo, médio e mínimo) são os mais afetados por tendinites na região da anca. A dor situa-se na zona lateral da anca, podendo irradiar para a face lateral da perna. Para além destes, o tendão do músculo ílio-psoas e dos músculos adutores, principalmente do tendão do longo adutor também são frequentemente atingidos por tendinites. A tendinite da fáscia lata também é relativamente frequente. A fáscia lata é o tendão da face lateral da coxa (que se estende desde a anca até ao joelho).
Atualmente, o termo tendinopatia é o mais usado e abrange as inflamações e micro roturas do tendão. Todavia, muitos são os médicos que continuam a utilizar o termo tendinite.
Uma tendinite é um problema que apresenta, normalmente, prognóstico favorável, desde que seja tratada atempada e adequadamente. Todavia, em determinados casos, podem ocorrer complicações que dificultam a reabilitação. A tendinite crónica ou tendinites de repetição são consideradas um fator de risco para as roturas do tendão (o tendão rasga de forma parcial ou total). Uma ruptura ou rotura de um tendão é uma lesão que apresenta maior gravidade quando comparada com uma inflamação (tendinite). Veja mais informação em tratamento.
Para além da tendinite, a bursite da anca é causa frequente de dor na anca e coxa. Uma bursite é uma inflamação de uma bolsa sinovial (ou bursa). Na anca existem quatro bursas. A bursite trocantérica é a que mais frequentemente ocorre na anca, provocando dor na face externa (parte de fora da anca) estando associada, frequentemente, com a tendinite da fáscia lata.
Saiba, aqui, tudo sobre bursites da anca.
Causas das tendinites da anca e coxa
Ainda que qualquer pessoa possa desenvolver uma tendinite, existem grupos de indivíduos que estão mais propensos a lesionar os tendões, como por exemplo, aqueles que realizam os mesmos movimentos repetitivamente em desportos, nas suas profissões ou atividades diárias.
A lesão sucede com maior frequência em desportistas que praticam atividades físicas que exigem o uso excessivo dos músculos / tendões atrás mencionados. Desportos como futebol, atletismo, ciclismo, etc. que exigem esforços repetitivos, podem estar na origem das tendinites. Alguns fatores de risco para as tendinites no desporto são: esforço em demasia (treino excessivo), aumento repentino da carga de treino, uso de calçado desportivo inadequado, superfícies de treino irregulares, entre outras.
Porém, a lesão pode suceder também em praticantes não profissionais e em pessoas que não praticam qualquer atividade desportiva. Os idosos também podem estar mais sujeitos à doença, devido ao desgaste progressivo das articulações.
Sintomas das tendinites da anca e coxa
Os principais sinais e sintomas são a dor na anca e/ou na coxa e a rigidez que surge gradualmente durante dias ou meses de localização variável, dependendo dos tendões afetados. Veja acima informação sobre a anatomia, para melhor perceber a localização da dor.
A dor, por norma, piora ao longo do tempo e agrava-se durante a prática de atividade física. A dor da anca pode irradiar para a perna.
Pode também sentir maior rigidez quando inicia o exercício ou quando se levanta de manhã. A região afetada pode apresentar-se vermelha, quente ou “inchada”, mediante a gravidade da inflamação.
O paciente pode sentir dificuldade em movimentar as pernas, sentir cãibras nas pernas, particularmente após longos períodos de repouso. Pode ocorrer dificuldade em caminhar, sentar-se ou ficar deitado “de lado” (dependendo dos tendões afetados).
Diagnóstico das tendinites da anca e coxa
O diagnóstico de tendinite é feito através da recolha da história clínica, do exame médico e recorrendo, se necessário, a exames complementares de diagnóstico (MCDT).
A ecografia (ou ultrassonografia) pode permitir-nos visualizar um espessamento por edema do tendão. A ressonância magnética (RM) não é, habitualmente, usada para diagnosticar a tendinite, pelo menos numa fase inicial. No entanto, a RM é um exame com excelente acuidade diagnóstica quer nas tendinites quer no diagnóstico diferencial de outras patologias. A RM pode também ser importante para quantificar a lesão e permitir-nos planear uma possível intervenção cirúrgica.
A radiografia (raio x) não permite diagnosticar uma tendinite, mas é um exame que pode ser usado no diagnóstico diferencial de outras patologias (para excluir outras doenças como por exemplo a coxartrose (artrose da anca), fracturas, etc.).
Saiba, aqui, o que é coxartrose.
Para além dos exames atrás referidos, o médico ortopedista (especialista em ortopedia) pode requisitar outros MCDT.
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Tendinite da anca e coxa tem cura?
As tendinites da anca e da coxa possuem, geralmente, bom prognóstico desde que seja realizado tratamento médico adequado e evoluem sem sequelas.
Em certos casos, os tratamentos médicos podem por si só não ser suficientes, sendo assim necessário recorrer a tratamento cirúrgico. Se o tratamento não for instituído de forma correta e atempada, o doente pode vir a padecer de dor crónica e de algum tipo de incapacidade física.
Tratamento das tendinites da anca e coxa
Na grande maioria dos casos, os diferentes tipos do tratamento médico têm como objetivo: minorar a inflamação e o alívio da dor, ainda que possa levar alguns meses para que os sintomas diminuam e a recuperação seja completa. Mesmo com tratamento precoce, a dor pode perdurar por meses.
O tratamento, habitualmente, instituído é o seguinte:
- Descanso - a primeira medida passa pela redução das atividades (desportivas ou outras), ou até, pela sua interrupção temporária. Em alguns casos, a interrupção pode não ser total, podendo limitar a atividade física e substituir as atividades por outras que provoquem menos tensão nos tendões afetados.
- Gelo - deve aplicar gelo na região mais dolorosa. O gelo (frio) é fundamental para permitir a redução da inflamação e para aliviar a dor. Pode aplicar gelo caseiro, envolto numa toalha, ou numa fronha de almofada durante 15 minutos seguidos e parar para impedir queimaduras na pele. Pode, mais tarde, repetir a aplicação de gelo por mais 15 minutos e fazê-lo várias vezes durante o dia. Nunca aplique o gelo diretamente sobre a pele (pode provocar queimaduras).
- Medicação anti-inflamatória - os medicamentos (ou remédios) anti-inflamatórios não-esteróides (AINE’s), como por exemplo o ibuprofeno ou naproxeno permitem aliviar a dor e o edema (inchaço). Estes medicamentos, geralmente, são prescritos em comprimidos. Podem ser usados na forma tópica, como pomada , para fazer a aplicação na região afetada. No entanto, estes medicamentos não permitem reduzir o espessamento do tendão degenerado. Este tratamento medicamentoso pode ter efeitos adversos, pelo que o doente deverá tomar a medicação sempre de acordo com a receita médica.
- Injeções de cortisona - a cortisona é uma poderosa medicação anti-inflamatória. As injeções de cortisona são, no entanto, pouco recomendadas porque podem conduzir à rotura do tendão.
- Injeções de PRP - o plasma rico em proteínas (PRP) é uma fração de sangue autólogo (do próprio doente) que possui uma concentração de plaquetas acima do valor normal, permitindo acelerar a cicatrização das lesões e aliviar a dor. É uma opção nas lesões que não respondem aos tratamentos conservadores, ainda antes da cirurgia. No entanto, ainda não existem indicação especificas sobre a sua utilização, uma vez que os resultados não são homogéneos.
- Fisioterapia - a fisioterapia poderá revestir-se de grande importância no tratamento da tendinite. O médico deverá estabelecer um programa de reabilitação individualizado que vá de encontro às queixas e particularidades do doente. Este poderá, posteriormente, realizar facilmente na sua própria casa, alguns exercícios de reabilitação, de acordo com as instruções do médico. As ondas de choque extracorporal são um procedimento, não invasivo, que através de impulsos de alta energia incita o processo de cicatrização do tendão afetado.
Nos casos cujos tratamentos médicos atrás descritos falhem, pode ser ponderado o tratamento cirúrgico. A cirurgia (ou operação) deve ser equacionada apenas nos casos em que a dor não ceda após seis meses de tratamento médico, atrás descrito. O tipo específico de cirurgia depende da localização da tendinite e da quantidade de danos no tendão.
Em casos de tendinites de repetição, o médico poderá avaliar as suas atividades (desportivas ou outras) e ajudá-lo na prevenção de futuros episódios.