A labirintite é uma inflamação do ouvido interno ou labirinto. Esta inflamação acontece quando microorganismos ou mediadores inflamatórios “atacam” o labirinto e o “lesionam” causando alterações do equilíbrio e da audição.
O ouvido interno ou labirinto está inserido na porção petrosa do osso temporal e encontra-se anatomicamente muito próximo do ouvido médio, mastóide, sistema nervoso central e espaço subaracnoideu.
O labirinto é constituído por um esqueleto ósseo (o labirinto ósseo) que contém no seu interior um conjunto de espaços membranosos (o labirinto membranoso). O Labirinto membranoso contém os órgãos sensoriais do equilíbrio e audição.
Saiba, de seguida, o que provoca a labirintite.
Causas da labirintite
Genericamente podemos considerar os seguintes tipos de labirintite : a labirintite inflamatória e a labirintite infecciosa.
1. Labirintite de causas Infecciosas
1.1) Labirintite viral ou vírica - a labirintite vírica ocorre quando o agente causal é um vírus.
- 1.1.1) Congénita: as causas mais comuns são a Rubéola e a infeção por Citomegalovirus no período pré-natal, ou seja, “na barriga da mãe”.
Os casos congénitos de labirintite vírica manifestam-se na infância. Isto não quer dizer que são hereditários ou genéticos. A labirintite congénita ocorre por infeção materna no período gestacional por determinados vírus que são transmitidos ao feto in útero e que podem ser nocivos para o bebé.
- 1.1.2) Adquirida: estas infeções ocorrem no período pós-natal, ou seja, depois do nascimento. A papeira e o sarampo apresentam-se como causas possíveis.
O Síndrome de Ramsay-Hunt, uma forma única de labirintite vírica, ocorre por reativação do virus varicella-zoster (vírus que provoca a Varicela). Geralmente, ocorre com perda auditiva, vertigem/desequilíbrio, paralisia facial e vesículas no pavilhão auricular/canal auditivo.
As infeções víricas podem também ser causa de surdez idiopática neurossensorial súbita.
Outros exemplos de vírus implicados na labirintite são o Influenza, Parainfluenza, Virus Sincicial Respiratório, Adenovirus, Herpes simplex tipo 1, Virús Coxsackie.
1.2) Labirintite Bacteriana - a labirintite bacteriana ocorre quando o agente causal é uma bactéria. É uma consequência potencial de uma meningite ou de otite média aguda ou crónica.
Várias bactérias podem causar labirintite entre elas: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Neisseria meningitidis, Staphylococcus, Proteus, Escherichia coli, Mycobacterium tuberculosis, entre outros.
A labirintite bacteriana causada por meningite ou por otite são mais frequentes na criança. No entanto, as causas otogénicas são também responsáveis por labirintite em jovens, adultos e idosos como complicação de otite média aguda não tratada ou como complicação de otite média crónica.
Atualmente, em que o acesso aos antibióticos está difundido, este tipo de labirintite é mais rara.
- 1.2.1) Supurativa - A Labirintite bacteriana supurativa ocorre quando o agente causal é uma bactéria e há invasão bacteriana directa do labirinto.
- 1.2.2) Serosa - A labirintite bacteriana serosa ocorre no decurso de uma infeção bacteriana mas por passagem de mediadores inflamatórios para o ouvido interno que lesionam o labirinto, sem invasão bacteriana direta.
2. Labirintite de Causas inflamatórias
- 2.1) Labirintite pós traumática ou pós-cirurgica - As labirintites podem ocorrer por contaminação do labirinto com sangue ou ar, o que pode ocorrer num traumatismo ou cirurgia.
- 2.2) Labirintite auto-imune - A Labirintite auto-imune é rara e acontece quando o nosso sistema imune “ataca” partes do nosso corpo. Esta pode ocorrer numa forma mais localizada e estar restrita ao ouvido interno ou como parte de um síndrome sistémico, ou seja, com manifestações em outras regiões do corpo.
Por último, as alterações emocionais, o stress e a ansiedade podem levar a alterações do equilíbrio e ao aparecimento/agravamento de sintomas auditivos como o zumbido. Não se trata de uma labirintite (de causa) emocional ou nervosa, no entanto convém lembrar que o stress e a ansiedade podem mimetizar alguns sintomas de labirintite. O diagnóstico correto é fundamental para uma orientação adequada.
Saiba, de seguida, quais são os sintomas da labirintite.
Sintomas da labirintite
Uma crise de labirintite tem como principais sinais e sintomas:
- perda auditiva ou hipoacusia (geralmente de tipo neurosensorial ou misto);
- vertigem ou tonturas.
Podem estar presentes outros sintomas como: acufeno (ou “zumbido no ouvido”), dor de ouvido, dor de cabeça, febre, mal estar, náuseas e vómitos, otorreia (pús a sair pelo ouvido), paralisia facial, entre outros.
A perda auditiva é frequentemente súbita (nas causas infeciosas) mas também pode ser de instalação mais progressiva (por exemplo, nas causas auto-imunes).
Habitualmente, a labirintite inicia-se com uma fase aguda onde há perda auditiva e vertigem súbitas. O tempo de duração de sintomas é variável. As queixas de vertigem, tontura, náuseas e vómitos geralmente duram dias a semanas.
Após um período de recuperação, que pode demorar semanas, segue-se a fase crónica cujos sintomas podem ser difíceis de descrever.
A perda auditiva é variável (na grande maioria das vezes ocorre com sequelas permanentes) e pode permanecer uma alteração do equilíbrio, não tão intensa e por vezes difícil de descrever – o doente não se sente bem, sente desconforto e dificuldade em realizar tarefas como estar de pé de olhos fechados, andar no meio de muita gente ou em ambientes muito confusos, virar a cabeça bruscamente, ente outros. Estas alterações podem diminuir significativamente a qualidade de vida do doente.
Relativamente à intensidade dos sintomas, a labirintite pode ser grave ao ponto de levar à perda auditiva e desequilíbrios incapacitantes.
Diagnóstico da labirintite
Quando há suspeita de labirintite deve sempre ser consultado um médico especialista em otorrinolaringologia.
É importante saber que não existem exames específicos para diagnosticar a labirintite.
O diagnóstico é feito pela avaliação clínica (sinais e sintomas) com a ajuda de determinados meios auxiliares de diagnóstico.
O exame essencial para detectar a perda auditiva é o audiograma. Este pode revelar uma perda auditiva neurossensorial (por exemplo, numa labrintite vírica) ou mista (por exemplo, numa labirintite por otite média aguda ou crónica). A perda auditiva pode ser leve a moderada (mais frequente nos casos víricos) ou severa a profunda (mais frequente na labirintite bacteriana supurativa).
Os Potenciais Evocados do Tronco Cerebral podem ser usados nos doentes que não conseguem realizar ou colaborar num audiograma.
No que diz respeito à avaliação do equilíbrio, a videonistagmografia pode revelar hipofunção ou ausência de respostas no lado afetado.
Outros exames como análises sanguíneas, punção lombar e exames de imagem como a Tomografia Computorizada e a Ressonância Magnética podem ter interesse em casos selecionados.
Complicações da labirintite
A labirintite por si só pode ser considerada uma complicação de uma inflamação/infeção subjacente.
Podem ocorrer também as complicações associadas ao quadro inflamatório/infecioso que levou à labirintite. A morte associada à labirinte é rara. O risco de morte é maior nos casos associados a meningite ou sépsis grave.
Labirintite tem cura?
A labirintite é uma doença que possui um prognóstico favorável se diagnosticada e tratada de forma atempada e adequada. No entanto, a labirintite pode deixar sequelas auditivas e no equilíbrio que podem variar desde sintomas ligeiros a moderados e, por vezes, sequelas graves e incapacitantes.
Saiba, de seguida, como tratar a labirintite.
Tratamento da labirintite
Como qualquer inflamação ou infeção o repouso e uma boa hidratação, bebendo bastantes líquidos como água, chãs, entre outros, são fundamentais.
Existem algumas classes de medicamentos (ou remédios) que podem ter interesse no tratamento sintomático da vertigem como as benzodiazepinas (como por exemplo o diazepam que funciona como depressor do sistema nervoso central), a
Beta-histina, os Antagonistas dos canais de cálcio (como a cinarizina ou flunarizina), entre outros.
As náuseas e vómitos devem ser tratados com medicação antiemética como a metoclopramida e o ondansetrom. A alimentação ou dieta não interferem diretamente na labirintite. Claro está que sobretudo na presença de náuseas e vómitos devem-se evitar os alimentos que possam agravar esses sintomas. Nos casos mais graves pode ser necessária a pausa alimentar e soros endovenosos.
Dado que a na labirintite existe uma inflamação do labirinto, o tratamento com corticosteróides pode ajudar a reduzir este efeito.
Os antivíricos, como o aciclovir e valaciclovir, podem ser usados nas infeções víricas.
As labirintites bacterianas requerem tratamento antibiótico e fazer a drenagem da infecção do ouvido médio/mastóide. Para isso pode ser necessária a colocação de um tubo de ventilação para drenar o pus/efusão do ouvido médio. A mastoidite e a otite média crónica colesteatomatosa requerem também tratamento cirúrgico.
Nos casos em que a crise aguda de vertigem já resolveu mas mantém-se uma alteração do equilíbrio a reeducação ou reabilitação vestibular podem melhorar estas queixas. Alguns exercícios para o domicílio também podem dar ao doente um bem estar adicional.
O doente nunca deve automedicar-se ou tentar qualquer tipo de tratamento caseiro ou natural sem consultar primeiro um otorrinolaringologista, sob pena de poder agravar o seu quadro clínico. A medicação referida deve ser sempre prescrita pelo seu médico assistente que deverá tomar sempre de acordo com a receita médica.