Rinite

Irrigação do Nariz

O que é rinite?

A rinite é uma inflamação da mucosa nasal (do nariz), da qual resultam sintomas como a obstrução nasal (“nariz entupido”), o prurido (“comichão no nariz”), espirros, rinorreia, entre outros.

A rinite pode ser classificada em rinite alérgica e rinite não alérgica.

  • A rinite alérgica faz parte das doenças alérgicas ou atópicas que decorrem de uma predisposição genética do sistema imunitário para produzir IgEs especificas, em resposta a quantidades diminutas de alérgenos ambientais, como por exemplo, ácaros, pólenes, fungos, etc ;
  • A rinite não alérgica é uma rinite frequentemente perenal de etiologia múltipla, com testes de alergia negativos.

Neste artigo, mostramos-lhe tudo sobre as rinites não alérgicas, ou seja, as rinites que não são causadas por alergia. 

Se quer saber tudo sobre rinite alérgica, siga este link.

Para além desta classificação (alérgicas e não alérgicas), a mais usual do ponto de vista clínico, as rinites podem também classificar-se, em relação à evolução temporal dos sintomas, em agudas ou crónicas:

  • Rinite aguda - quando a sintomatologia possui uma duração inferior a 4 semanas;
  • Rinite crónica - quando a perturbação inflamatória ou infecciosa da mucosa nasal possui uma duração superior a 12 semanas.

Causas de rinite não alérgica

A rinite não alérgica resulta de um processo inflamatório da mucosa muito complexo, que altera a função nasal, como resposta a uma vasta gama de estímulos extrínsecos e intrínsecos.

Estímulos extrínsecos: excluindo os alérgenos responsáveis pela rinite alérgica, na rinite não alérgica entre os estímulos extrínsecos incluem-se agentes infecciosos, irritantes, ar frio, odores fortes, alguns medicamentos e o exercício físico.

Estímulos intrínsecos: nestes incluem-se alguns metabolitos alimentares, substratos hormonais e endócrinos, células infiltrantes, mediadores vasoativos e o sistema nervoso vegetativo.

No caso do sistema nervoso vegetativo, destaque para os sistemas nervoso simpático (adrenérgico), parassimpático (colinérgico) e para o sistema não adrenérgico, não colinérgico, que podem mediar a resposta quer aos fatores intrínsecos, quer aos extrínsecos, provocando a rinite, ou causá-la diretamente pela alteração do equilíbrio da reação vasomotora nasal.

O arco reflexo (terminações sensitivas/parassimpático) vai aumentar intensa e rapidamente a secreção das glândulas, a vasodilatação e o edema da mucosa nasal, que incrementam a resistência ao fluxo aéreo nasal. Este tipo de inflamação neurogénica também irá ter um papel relevante na fase tardia da reação inflamatória alérgica, não só pelos efeitos apontados mas também pela ativação dos linfócitos T.

A ativação dos recetores nervosos pode ser iniciada por diversas agressões inespecíficas, tais como: tabaco, substâncias voláteis, irritantes, etc., e ainda por fatores de ordem física, anatômica, ou psíquica, desencadeando ou agravando o processo inflamatório neurogénico.

Sintomas de rinite não alérgica

Os sintomas de rinite não alérgica são semelhantes aos da rinite alérgica, contudo na rinite não alérgica o prurido nasal e ocular são menos frequentes e a obstrução nasal mais comum.

Os sintomas são os seguintes:

  • obstrução nasal - devido ao edema da mucosa e engurgitamento vascular;
  • rinorreia - secundária à hipersecreção glandular e ao transudado inflamatório;
  • espirros - pelos reflexos nervosos devidos à irritação inflamatória;
  • prurido (“comichão no nariz”) – menos comum, secundário à libertação de histamina por mast cels.

Estes sintomas podem ocorrer, de forma ocasional, em qualquer pessoa, tornando difícil de distinguir a fronteira que separa o normal do patológico. É a severidade dos sintomas que ditará a necessidade de recorrermos à terapêutica médica.

Epidemiologia de rinite não alérgica

É difícil de definir valores exatos para a prevalência da rinite não alérgica, porque existe uma zona cinzenta entre o normal e o patológico.

Enquanto que a rinite alérgica perenal se inicia usualmente na infância a rinite não alérgica inicia-se habitualmente na idade adulta.

Classificação de rinite não alérgica

Por uma questão metodológica classificamos as rinites não alérgicas em infecciosas e não infecciosas.

Rinites infecciosas:

  • Rinite aguda - síndrome gripal;
  • Rinites crónicas especificas - tuberculose, síflis, lepra, fungos;
  • Rinites crônicas não específicas - rinite bacteriana e rinite atrófica.

Rinites não infecciosas:

  • Doenças granulomatosas - doença de Wegner, sarcoidose;
  • Rinite medicamentosa;
  • Rinite vasomotora ou idiopática;
  • Rinite de causa metabólica ou hormonal - gravidez, diabetes, hipotiroidismo...;
  • Doença de Fernando Widal;
  • outras - mucoviscidose, disquinesia ciliar, alterações estruturais das fossas nasais, ....

Entre esta enorme variedade de etiologias na rinite não alérgica, vamos destacar nesta abordagem as seguintes:

Síndrome gripal de rinite aguda

O síndrome gripal é uma doença viral causada habitualmente pelo rhinovírus, adenovírus, vírus influenza, parainfluenza e vírus respiratório sincial.

Tem como fatores predisponentes o frio, a humidade e a poluição ambiente.

É uma doença contagiosa, efetuando-se a propagação ou contágio através do contacto direto e por partículas suspensas no ar.

O síndrome gripal evolui por quatro fases:

  • 1ª fase - prodrómica ou isquémica, caracterizada por febre, mau estar, prurido e irritação nasal, espirros ocasionais;
  • 2ª fase - irritativa, hiperémica, com início da obstrução nasal e da rinorreia. Os espirros tornam-se mais frequentes;
  • 3ª fase - infeção secundária, em que a rinorreia aquosa se transforma em rinorreia mucopurulenta;
  • 4ª fase - de resolução, com desaparecimento gradual dos sintomas e que dura, habitualmente, entre 8 a 10 dias.

Não tem tratamento específico, para além do sintomático. Nesta perspetiva, para além do repouso, aconselha-se:

  • Medicamentos ou remédios anti-inflamatórios não esteróides, tais como o paracetamol;
  • Tratamentos ou remédios caseiros tais como as irrigações nasais com soluções salinas, (aerossóis) para humidificação das vias respiratórias;
  • Tomar chás e fazer efusões naturais ou caseiras, o que é bom para permitir uma boa hidratação e que vai acabar por assegurar uma melhor fluidificação das secreções nasais e assim permitir melhorar a sintomatologia;
  • Vasoconstritores nasais de venda em farmácia, como por exemplo, inalação de neosinefrina duas vezes por dia com um máximo de 5 dias;
  • Vitamina C.

A profilaxia do síndrome gripal consiste em evitar o contacto com o doente afetado, estando a utilização da vacina da gripe particularmente indicada nas populações de risco, como os doentes alérgicos, idosos, diabéticos, etc.

Rinite bacteriana

A rinite bacteriana é uma doença causada por infeção habitualmente a Pneumococcus, Haemophilus influenza, Streptococcus e Staphylococcus.

Manifesta-se frequentemente após uma gripe ou um exantema viral como o sarampo ou a rubéola. Clinicamente apresenta-se com obstrução nasal e rinorreia mucopurulenta espessa, estando frequentemente associada a sinusite.

O diagnóstico, as complicações e o tratamento são iguais aos da sinusite / rinosinusite aguda.

Saiba, aqui, tudo sobre o tratamento da sinusite.

Rinite medicamentosa

Uma das causas mais frequentes de rinite medicamentosa é a utilização abusiva de descongestionantes nasais tópicos, que produzem um efeito rebound após cada aplicação, ficando a mucosa nasal cada vez mais edemaciada, eritematosa e congestionada. Pode inclusive ocorrer metaplasia epitelial, esclerose vascular e fibrose submucosa, conduzindo a uma rinite atrófica.

Convém também referir que a irrigação persistente e prolongada da mucosa nasal pode causar rinite crónica.

Entre outros exemplos de agentes causadores de rinite medicamentosa sistémica, destacam-se, pelo seu uso frequente, os seguintes:

  • Anti-hipertensores, que pela alteração do equilíbrio do sistema nervoso simpático/parassimpático, podem promover os sintomas da rinite;
  • Anti-depressivos;
  • Contracetivos orais;
  • Álcool, que aumenta a atividade parassimpática para além de causar instabilidade vasomotora;
  • Tabaco;
  • Etc.
Clínica de Otorrinolaringologia

Rinite vasomotora (não alérgica idiopática)

A rinite vasomotora é um tipo de rinite perenal, não alérgica, não infecciosa, causada pela perda do equilíbrio do sistema nervoso vegetativo. Caracteriza-se por obstrução nasal e rinorreia, não estando presentes geralmente as crises esternutórias (espirros) e o prurido nasal.

Irritantes não específicos e alterações de foro psíquico (ansiedade, stress, depressão, ... ) podem potenciar a instabilidade do sistema neurovegetativo.

O diagnóstico é feito por exclusão de outras causas de rinite.

O tratamento médico é sintomático incluindo a administração de:

  • Descongestionantes orais ( ex: fenilepinefrina e a pseudo-efedrina ) - diminuem de uma forma eficaz a obstrução nasal. Estes medicamentos devem ser utilizados com reservas devido aos seus efeitos secundários (palpitações, taquicardia, hipertensão, cefaleias… );
  • Descongestionantes tópicos nasais – possuem uma ação rápida e eficaz na obstrução nasal. No entanto, a sua utilização deve ser cautelosa, não só pelo efeito rebound que provocam (ver rinites medicamentosas), como pelos efeitos secundários idênticos aos das formas orais;
  • Anticolinérgicos como o brometo de ipratrópio ( derivado da atropina ) - pela ação anti-secretora, tanto nas rinites alérgicas como nas não alérgicas, mas pouco relevante nos restantes sintomas da rinite. Contudo, apenas produzem efeitos secundários em doses elevadas;
  • Corticóides de aplicação tópica nasal - possuem uma ação potente anti- inflamatória e são muito eficazes na rinite alérgica, sendo frequentemente benéfica a sua associação com os anti- histamínicos. Possuem pouca ação ao nível do prurido (comichão) nasal e ocular mas são raros os efeitos secundários. É de destacar como efeitos secundários a irritação local e as epistáxis (sangramento pelo nariz) como os mais comuns.

Rinite de causa metabólica e hormonal

Neste grupo destacam-se:

  • Rinite na gravidez - afeta 20% das mulheres grávidas e deve-se ao aumento da produção de estrogénios, que estimulam o sistema nervoso parassimpático. O tratamento é sintomático e os sintomas desaparecem após o parto;
  • Rinite no hipotiroidismo - que se deve aos mecanismos que levam ao edema dos cornetos nasais, congestão do tecido subcutâneo e hipertrofia das glândulas submucosas;
  • Rinite na diabetes mellitus.

Doença de Fernando Widal

É uma doença caracterizada pela tríade de rinite não alérgica, asma e intolerância aos anti-inflamatórios não esteroides, particularmente à aspirina. Aproximadamente 50% dos doentes desenvolvem polipose naso-sinusal.

É uma doença rara, com fisiopatologia complexa e de difícil tratamento.

O tratamento inclui cirurgia e corticoterapia sistémica e tópica nasal. Por se tratar de uma doença não alérgica a dessensibilização é ineficaz.

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