A litotrícia consiste num tratamento que visa fraccionar (“partir”) um cálculo (“pedra”) que se encontre presente em algum órgão do trato urinário, designadamente, rim, ureter, bexiga ou uretra. Veja mais informação em “indicações da litotrícia”.
Esta técnica é efetuada através da aplicação de ondas de choque, externamente ao corpo - litotrícia extracorporal por ondas de choque (LEOC). Estas ondas são geradas por um aparelho designado de litotritor e podem ser de distintos tipos, conforme o método de produção (eletromagnéticos, electro-hidráulicos, piezo-elétricos, etc.). Trata-se de uma técnica menos invasiva e executada em ambulatório, tendo cada sessão a duração aproximada de 1 hora.
Por vezes, para se obter a fragmentação completa dos cálculos poderá ser necessária a realização de várias sessões, dependendo do tamanho, localização, consistência do cálculo e distância que a onda de choque terá de percorrer até atingir a pedra (menos sucesso em doentes muito obesos). As ondas de choque são dirigidas para a pedra mediante orientação facultada por Rx e/ou por Ecografia.
Indicações da litotrícia extracorporal
A fragmentação dos cálculos está aconselhada em pacientes que sejam portadores de cálculos volumosos (superiores a 1/1,5 cm) e que apresentem um crescimento progressivo, em determinadas profissões de risco (ex. pilotos, condutores de longa distância). Está ainda recomendada quando surgem complicações associadas a estes como a obstrução do trato urinário, infeções urinárias de repetição, sangue na urina ou dor crónica.
O médico especialista tem ao seu dispor para o auxiliar no diagnóstico destes cálculos os exames mais comumente realizados são: Tomografia computorizada (TC ou TAC) do trato urinário, a Ecografia, o RX ou a Uretrocistoscopia (exame que serve para observar o interior da uretra e da bexiga).
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Preparação para a litotrícia extracorporal
A preparação para a realização de litotrícia extracorpórea não é complicada.
O doente não necessita de vir em jejum, mas deve evitar comer em excesso ou imediatamente antes do procedimento. Algumas Unidades podem recomendar que seja iniciada medicação analgésica oral e/ou antibioterapia antes do procedimento, dependendo do tipo de cálculo e das características do doente (o grau de tolerância, outras doenças preexistentes, etc.).
A medicação que aumente o risco de hemorragia (anticoagulantes e antiagregantes) deve ser suspensa ou substituída previamente, de acordo com as indicações do seu médico.
Recomenda-se que mantenha uma boa ingestão hídrica nos casos de tratamento da litíase renal para evitar o crescimento do cálculo e diminuir as consequências do tratamento com ondas de choque. Beber grandes quantidades de água nos casos de tratamento a cálculos obstrutivos no ureter pode ser contraproducente para o doente.
Como é realizada a litotrícia extracorpórea?
A litotrícia é feita através de um aparelho chamado litotritor que utiliza energia para criar ondas de choque. Estas ondas de choque, aplicadas externamente ao corpo, dirigem-se até à pedra e vão promover a sua fragmentação. O cálculo divide-se assim em vários fragmentos mais pequenos que posteriormente serão eliminados na urina.
Este procedimento geralmente não requer anestesia e é realizado em ambulatório. Demora aproximadamente 30 a 60 minutos e costuma ser bem tolerado.
Em alguns casos pode ser necessário administrar medicação (analgesia oral ou endovenosa) para que seja mais tolerável.
Em crianças também pode ser realizado este procedimento, mas pode haver necessidade de sedar a criança (fica a dormir) para evitar os movimentos durante o procedimento.
A litotrícia extracorpórea dói?
Geralmente, o desconforto ou a dor provocados pelas ondas de choque podem ser bem toleráveis se forem utilizadas energias baixas. No entanto, mesmo com baixa intensidade existem algumas pessoas mais suscetíveis à dor e que não toleram a realização do procedimento sem analgesia. Nestes casos os utentes podem fazer medicação oral ou endovenosa para controlo das queixas.
Em casos raros pode ser necessário proceder a anestesia ou sedação, nomeadamente nos casos de idades jovens (crianças) ou pessoas que não consigam manter-se imoveis durante o procedimento.
Quem pode realizar a litotrícia extracorpórea?
A litotrícia pode ser realizada por pessoas de todas as idades e sexos, não existindo nenhuma limitação específica para a faixa etária ou para o género. No entanto, existem várias contra-indicações específicas à sua realização:
- Mulheres grávidas;
- Infeção urinária não tratada;
- Problemas de coagulação;
- Obesidade severa e malformações ósseas que impeçam o sucesso da fragmentação;
- Presença de aneurismas nas proximidades do cálculo;
- Presença de obstrução do trato urinário, distalmente ao cálculo.
Quanto tempo demora o procedimento?
A duração média ronda entre os 30 e 60 minutos, variando consoante a cooperação do doente, a intensidade e frequência das ondas de choque e a eficácia do tratamento.
Alguns cálculos são mais suscetíveis de serem partidos com ondas de choque extracorporea, nomeadamente quando são moles, como por exemplo os de ácido úrico ou estruvite (“cálculos de infeção”). Podem ser necessárias várias sessões (em dias distintos) até ocorrer a fragmentação completa do cálculo.
O que pode sentir após o procedimento?
Durante e após o procedimento é comum as pessoas referirem algumas dores na região abrangida pela litotrícia. Também pode surgir associadamente náuseas e mesmo vómitos, mais frequentes em casos de cólica renal pós-LEOC.
Algumas pessoas também podem urinar sangue durante algumas horas ou mesmo dias, geralmente em baixa quantidade e que resolve com o aumento da ingestão de água.
Outra possível complicação é o aparecimento de febre, indício de que existe uma infeção do trato urinário. Para estas situações é importante que converse com o seu médico, pois poderá ser necessário realizar análises de urina e iniciar antibioterapia.
Imediatamente após o procedimento as pessoas, geralmente, ficam em repouso por alguns minutos, e devem evitar os esforços físicos intensos nas 12h seguintes.
As complicações/efeitos secundários possíveis mais graves relacionadas com a LEOC são o aparecimento de cólica renal (obstrução do trato urinário por um cálculo), hematoma renal/fígado/baço, infeção urinária/infeção sistémica, perfuração de intestino. A relação entre LEOC e o desenvolvimento de hipertensão arterial ou diabetes permanece controverso, sendo que a maior parte dos estudos não encontrou nenhuma relação entre estas duas patologias.
O tempo de recuperação após LEOC depende de individuo para individuo, mas a maior parte das pessoas retoma as suas atividades diárias no dia seguinte.
Limitações da litotrícia extracorpórea
As principais limitações da litotrícia extracorpórea são:
- Incapacidade em fragmentar todos os cálculos: o sucesso depende bastante do executante e do litotritor, da técnica usada, do grau de obesidade do utente e das características da pedra como: localização, o tamanho ou a composição;
- Impossibilidade em se removerem os resíduos litiásicos, o que aumenta a probabilidade de cólica renal após o procedimento;
- Necessidade frequente de realização de várias sessões para fragmentação completa;
- O direcionamento das ondas de choque para o cálculo depende do posicionamento através do RX ou de ecografia. Após o procedimento podem ser realizados outros exames para confirmar a fragmentação completa do cálculo, nomeadamente com RX, ecografia ou tomografia;
- No caso de falência da LEOC ou quando esta não está indicada existem outras alternativas de tratamento, nomeadamente a quimiodissolução do cálculo (indicado apenas para tipos específicos de cálculos) ou algumas cirurgias específicas como a fragmentação intracorporea do cálculo (percutânea ou por orifício natural) e a cirurgia laparoscópica ou aberta.