Um quisto renal (dos rins) é uma bolsa arredondada, preenchida com um líquido aquoso. Com o avançar da idade, os quistos podem formar-se na superfície ou dentro da própria estrutura dos rins.
Os quistos são geralmente inofensivos e, na sua grande maioria, são assintomáticos (não apresentam nenhum sinal ou sintoma). No entanto, podem estar relacionados com distúrbios graves que podem prejudicar a função renal, como veremos adiante.
Quistos renais simples
Quistos simples são o tipo mais comum e, geralmente desenvolvem-se individualmente nos rins (no rim direito ou no esquerdo). Estes quistos possuem paredes finas e contêm um líquido fluído e aquoso.
Estes quistos podem ser superficiais (quisto cortical) quando se desenvolvem na região do córtex renal, mas podem também surgir numa zona mais profunda e interna como a pélvis renal (quisto parapiélico).
Este tipo de quisto não provoca danos nos rins nem afeta a sua função, contudo é importante diagnosticar a doença sempre que existam queixas, como dor lombar (ver adiante).
Quistos renais complexos
Estes quistos também surgem na região cortical do rim, mas têm algumas características que obrigam a um estudo adicional. Algumas dessas características são uma parede mais espessa ou irregular, a presença de septos (divisões dentro do quisto), de calcificações, de componentes sólidas, ou de conteúdo heterogéneo. Estes tipos de quistos devem ser muito bem estudados e vigiados, para termos a certeza de que não se tratam de tumores malignos que adquirem a forma de quisto.
Doença renal poliquística
A doença renal poliquística (DRP) é uma patologia genética (hereditária) que faz com que múltiplos quistos se desenvolvam nos rins. Estes quistos podem danificar os rins à medida que crescem, provocando várias complicações como a insuficiência renal. Veja mais informação em “Complicações do quisto do rim”.
Existem casos em que a doença é adquirida devido a outras patologias subjacentes, como é o caso da insuficiência renal crónica ou doença renal crónica.
Sinais e sintomas do quisto do rim
Os quistos renais, como dito anteriormente, são frequentemente assintomáticos (não originam qualquer sinal ou sintoma). No entanto, nalguns casos, estes quistos podem desenvolver-se ou complicar, e originar sinais e sintomas como:
- Dor lombar, entre as costelas ou estômago;
- Febre;
- Hematúria (sangue na urina);
- Urina escura;
- Edema (inchaço) do abdómen (barriga);
Em casos de doença renal poliquística, os sinais e sintomas podem ser ligeiramente diferentes, a saber:
- Hipertensão arterial;
- Disfunção renal;
- Dores de cabeça;
- Infeções urinárias recorrentes;
Causas do quisto do rim
Os quistos renais ocorrem quando um túbulo num nefrónio (estruturas encarregues de eliminar resíduos provenientes do sangue) “incha” e começa a encher com fluido. O agente que provoca o nefrónio a aumentar de tamanho ainda é desconhecido, no entanto, existem algumas possibilidades:
- Bloqueio de um túbulo dentro do próprio nefrónio;
- As “bolsas” chamadas divertículos desenvolvem-se em áreas enfraquecidas dos túbulos e enchem-se de líquido.
Embora a causa subjacente à formação destes quistos seja desconhecida, existem fatores comprovados que aumentam o risco de desenvolvimento da doença, tais como:
- Idade: como os quistos se desenvolvem gradualmente, é mais provável ser portador da doença em idades mais avançadas, sendo a doença mais frequente nos idosos;
- Sexo masculino: os homens estão em maior risco do que as mulheres de desenvolver quistos renais;
- Hereditariedade (genética): a doença renal poliquística, como referido anteriormente, é uma doença hereditária, o que significa que é causada por alterações nos genes que são transmitidos de pais para os filhos.
Diagnóstico do quisto do rim
O diagnóstico dos quistos renais é habitualmente realizado pelo médico de família ou pelo médico urologista (especialista em urologia) e começa pela análise da história clínica do doente.
Para chegar a um diagnóstico conclusivo o profissional pode também recomendar algum dos seguintes meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT):
- Exames de imagem como uma ecografia renal, um TC ou TAC ou uma ressonância magnética (RM). Estes exames permitem determinar se a massa renal existente é um quisto ou um tumor com suspeição de malignidade. Veja mais informação, de seguida, em “Classificação Bosniak”;
- Exame de função renal. Este exame permite avaliar uma amostra de sangue, de modo a determinar se o quisto renal está a prejudicar a função renal;
- Entre outros.
Frequentemente, muitos dos quistos do rim são diagnosticados em exames de rotina, como por exemplo na realização de ecografia renal.
Saiba, aqui, o que é ecografia renal.
Classificação de Bosniak
Após a realização de uma TC ou TAC ou ressonância magnética (RM), é possível qualificar o tumor renal através da classificação de Bosniak, a saber:
- Bosniak I (1) - Corresponde ao quisto renal simples, é benigno e não é perigoso. Tem uma parede fina e regular, fluído homogéneo no seu interior, não tem septos nem calcificações;
- Bosniak II (2) - O quisto é também benigno, mas contém ligeiras calcificações (acumulação de cálcio) ou alguns septos;
- Bosniak IIF (2F) - O quisto tem mais septos e as paredes são mais grossas que na categoria II, mas não tanto como na categoria III. A letra “F” vem da palavra “follow-up”, o que significa que este tipo de quisto deve ser vigiado regularmente.
- Bosniak III (3) - As paredes do quisto são espessas e encontram-se vários septos. Pode ser um cancro ou um quisto que sangrou ou que está infetado. Estes casos requerem uma análise mais profunda, sendo frequentemente recomendada a sua remoção, pois podem corresponder a um cancro;
- Bosniak IV (4) - Os quistos na fase IV têm todas as características de um cancro, são considerados malignos e requerem a sua remoção imediata.
O diagnóstico e classificação definitiva pode ser apenas conseguida após cirurgia, com remoção do quisto e posterior avaliação em laboratório de anatomia patológica. Geralmente, a biópsia de quistos renais complexos ou de tumores renais quísticos não é recomendada.
Complicações do quisto do rim
Os quistos renais, embora raramente, podem provocar complicações, tais como:
- Infeção do quisto;
- Rutura do quisto, o que pode provocar infeções nas imediações do rim;
- Hidronefrose: um quisto renal pode obstruir o fluxo normal de urina levando à dilatação do rim;
- Entre outras.
Um quisto do rim pode evoluir para cancro?
Um quisto renal simples (Bosniak I) ou minimamente complexo (Bosniak II) não é certamente um cancro, nem pode evoluir para um cancro. No entanto, no caso dos quistos mais complexos, existe a probabilidade deste já ser um cancro no momento em que é identificado (só que, ao contrário dos cancros habituais, este tem um aspeto quístico). Esta probabilidade, de serem um cancro, é de cerca de 5% para os quistos IIF , 50 % para os quistos Bosniak III, e de 90% para os quistos Bosniak IV.
Ou seja, os quistos não “evoluem” para cancro. Simplesmente, alguns já são um cancro quando são detetados, e a probabilidade depende da classificação de Bosniak.
Saiba, aqui, tudo sobre cancro do rim.
O quisto do rim tem cura?
A maioria dos quistos renais simples não requer tratamento. No entanto, nos casos em que a sintomatologia provoca um grande desconforto, deve ser procurado aconselhamento médico. Nestes casos, o tratamento é simples e o prognóstico é bastante favorável.
Nos casos mais graves, nos quistos são complexos ou múltiplos, o tratamento é mais delicado, mas ainda assim com boas perspetivas de cura. Para isso, é extremamente importante efetuar um diagnóstico atempado e administrar um tratamento adequado de modo a evitar possíveis consequências.
Tratamento do quisto do rim
Na maioria dos casos, os quistos renais simples não necessitam de tratamento. No entanto, se o quisto for doloroso ou se estiver a afetar a forma como o rim funciona, pode ser necessário recorrer à sua remoção.
Existem dois procedimentos que são frequentemente utilizados, de modo a eliminar eficazmente este tipo de quistos, a saber:
Drenagem e escleroterapia
O médico especialista insere uma agulha, guiada através de meios de imagem médica (habitualmente ecografia), de modo a perfurar o quisto e drenar o fluido. Uma solução forte é então injetada no quisto para este “secar” e encolher.
Cirurgia de remoção
A operação para remover um quisto é, geralmente, realizada por via laparoscópica (laparoscopia), isto é, instrumentos cirúrgicos finos são inseridos e guiados até ao rim, através de pequenas incisões no abdómen. Durante a cirurgia, o urologista aspira o conteúdo do quisto e retira uma grande porção da sua parede, por forma a que a cavidade do quisto fique aberta para as imediações do rim, evitando-se que o quisto se volte a formar. É a chamada marsupialização laparoscópica de quisto renal – uma cirurgia relativamente simples, minimamente invasiva, e que permite uma rápida recuperação.
Nos casos em que existe um quisto renal complexo, que se suspeita poder corresponder a um cancro do rim, é fundamental remover o quisto, com vista ao tratamento e à sua análise em laboratório. Esta remoção também pode ser realizada por via laparoscópica, e neste caso o urologista remove o quisto com o máximo cuidado para tentar não perfurá-lo. Quando o quisto é mais volumoso ou numa localização mais difícil, pode ser necessário removê-lo por via aberta ou robótica.
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Tratamento medicamentoso
Nos casos em que o quisto provoca sintomas como dor, o médico pode também prescrever alguma medicação para aliviar a sintomatologia. Medicamentos (remédios) como analgésicos para melhorar o desconforto provocado pelo quisto renal podem ser prescritos. O uso de antibióticos pode ser recomendado no caso de se verificarem infeções.