A halitose ou mau hálito pode ser devida à inexistência de bons hábitos de higiene oral, mas pode também ser um sinal de algum problema de saúde. O tratamento passa em primeiro lugar por identificar as causas do problema, de modo a tratá-lo de forma eficaz.
Na maior parte dos casos o mau hálito tem origem na boca. A acumulação de placa bacteriana e de tártaro pode causar mau hálito e levar ao aparecimento de diversas patologias dentárias ou gengivais. Entre as principais doenças que causam mau hálito, encontram-se a cárie dentária, a gengivite e a periodontite, entre outras, como veremos adiante com detalhe. Estas patologias ocorrem frequentemente devido à acumulação de placa bacteriana e tártaro nos dentes, resultado de uma deficiente higiene oral. No entanto, o mau hálito pode também ter origem em patologias fora da boca, como veremos mais tarde.
Em casos mais simples, o mau hálito também pode resultar da ingestão de alguns alimentos, e outros hábitos ou estilos de vida pouco saudáveis. Comer alimentos com odores fortes (como por exemplo, o alho ou a cebola), podem provocar halitose temporária, e mesmo que se recorra à escovagem dentária, utilização de fio dentário e bochechos, apenas se conseguirá camuflar temporariamente o odor, pois o mesmo não vai desaparecer completamente até que os alimentos sejam metabolizados pelo organismo.
Mau hálito - causas
As causas do mau hálito ou halitose podem ser diversas. Descrevemos, de seguida, o que causa mau hálito, e que potencias riscos existem em cada uma das doenças relacionadas.
Placa bacteriana
A placa bacteriana é uma camada viscosa, incolor e pegajosa, que se deposita sobre os dentes junto da gengiva, e que é causada pela presença de restos de alimentos que ficaram na boca após as refeições, e que são processados pelas bactérias (presentes na boca).
Para além de poder ser a origem para a halitose, a placa bacteriana é a principal causa para o aparecimento de outros problemas, designadamente a gengivite e a cárie dentária. Esta última é considerada, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma das doenças mais prevalentes em todo o mundo.
Pelas razões apresentadas, deve existir a preocupação de remover diariamente a placa bacteriana através de uma higiene oral cuidada, nomeadamente através da escovagem dos dentes e do uso de fio dentário, e eventualmente complementada com a realização de bochechos com colutório ou elixir oral.
Saiba, aqui, o que é placa bacteriana.
Tártaro nos dentes
O tártaro consiste numa camada endurecida ou mineralizada, que adere firmemente à superfície dos dentes, facilmente identificável quando visível acima da margem gengival. O tártaro, também designado de cálculo dental ou “pedra”, numa linguagem mais popular, forma-se em consequência do endurecimento por mineralização da placa bacteriana ou biofilme dental que se armazena junto da margem gengival e superfícies dos dentes.
O tártaro, para além de afetar a saúde dos dentes e gengivas, constitui também um desagradável problema estético.
Devido à sua superfície porosa, o tártaro retém com maior facilidade as manchas resultantes do consumo habitual de chá, café e certos refrigerantes, entre outros. A mesma propensão ocorre com o fumo proveniente do consumo de tabaco, que também mancha com muito maior facilidade os locais onde existe tártaro. Posto isto, e também pelos motivos inestéticos inerentes, torna-se ainda mais necessário combater o problema, procurando-se evitar a formação do tártaro.
Contrariamente à placa bacteriana, os dentes com tártaro expõem uma camada mineral endurecida, facilmente visível quando situada acima do nível da gengiva. O sinal que melhor evidencia isso é o aparecimento de uma cor amarelada nos dentes, entre eles e junto à margem gengival, que não se consegue remover através dos métodos normais de higiene oral (escovagem dentária e utilização de fio dentário).
Habitualmente, o tártaro provoca mau hálito (halitose), podendo, nas situações de maior acumulação de tártaro nos dentes, provocar um cheiro acentuado, particularmente quando acompanhado de doença periodontal (gengivite ou periodontite).
Cárie dentária
A cárie dentária é um dos problemas que atualmente mais afeta a população mundial, sendo, por isso, considerado um problema de saúde pública. Este problema pode afetar tanto crianças (cárie infantil) como os adultos.
No dente cariado ocorre uma destruição dos tecidos duros do dente, (esmalte e/ou dentina), caracterizando-se por se tratar de uma doença ou processo patológico infecioso e contagioso que ocorre nos dentes após a sua erupção na cavidade oral. Os sinais e sintomas da cárie dentária podem variar muito, dependendo da localização, e dimensão da cárie (principalmente em profundidade), e do próprio limiar de sensibilidade à dor de cada indivíduo, pois a existência de cárie no dente não implica necessariamente sintomatologia.
Os sintomas mais frequentes compreendem a sensibilidade dentária e a dor nos dentes, entre outros. O mau hálito pode ocorrer também devido à presença de cáries, se não tratadas, devido aos processos de necrose e putrefação provocados pelas bactérias envolvidas na cárie, que aumentam de sobremaneira na cavidade bucal na presença desta doença.
Este problema tem cura e o tratamento é efetuado de modo a remover a cárie e efetuar o consequente restauro ou reconstrução da cavidade dentária, no caso da estrutura afetada comprometer somente o esmalte e a dentina.
Saiba, aqui, o que é cárie dentária.
Gengivite
A gengivite consiste numa inflamação da gengiva podendo apresentar sintomas que podem variar mediante as causas subjacentes. A inflamação nas gengivas é uma situação muito frequente e surge como consequência de vários fatores predisponentes e adjuvantes. Na maioria dos casos, a gengivite é originada pela acumulação de placa bacteriana.
Os principais sinais e sintomas da gengivite prendem-se com a alteração da cor da gengiva, e o sangramento gengival (sangue na gengiva), que pode ocorrer ao escovar os dentes, ao usar o fio dentário, ao trincar ou mastigar alimentos duros, ou mesmo até de forma espontânea. O paciente pode ainda sentir as gengivas muito sensíveis, tumefactas ou inchadas, e endurecidas, ou até já um pouco descoladas dos dentes. O aparecimento de mau hálito ou halitose, pode também apresentar-se como consequência de gengivite.
Se a gengivite não for tratada de forma correta e atempada pode evoluir para periodontite ou “piorreia”.
Saiba, aqui, tudo sobre gengivite.
Periodontite
A periodontite ou doença periodontal, popularmente conhecida como “piorreia” é uma infeção bacteriana do periodonto, ou seja, dos tecidos de suporte dos dentes. É uma patologia oral algo frequente, pois uma grande percentagem dos adultos apresenta problemas periodontais.
Na periodontite, o tratamento deve ser efetuado de acordo com as causas subjacentes e do estadío da doença periodontal. Se não tratada, a periodontite progride e pode ter consequências muito graves, incluindo a perda de dentes.
Na periodontite tende a ocorrer uma halitose acentuada (cheiro forte ou mau hálito intenso), bem como outros sinais e sintomas, designadamente o sangramento da gengiva ao pequeno toque, ou mesmo de forma espontânea ou natural, a retração gengival (gengiva retraída), vermelhidão e “inchaço” da gengiva, dor e gengivas muito sensíveis ao toque, mobilidade dentária (“dentes a abanar”), etc….
Saiba, aqui, tudo sobre periodontite.
Outras causas
Outras causas dentárias podem estar na origem de mau hálito. A deficiente higienização dos aparelhos ortodônticos e próteses dentárias removíveis, constituem também causas frequentes de halitose, entre muitas outras.
Conheça, aqui, as principais doenças dos dentes e das gengivas.
O mau hálito pode também ser provocado por diversas patologias sistémicas. Estas patologias podem ser inúmeras, pelo que abordaremos, de seguida, apenas algumas das mais frequentes, quer pela sua sintomatologia, quer pela sua prevalência entre a população.
Entre as doenças que podem estar na origem de mau hálito, salientamos: diabetes, sinusite, refluxo gastro-esofágico, pneumonia, bronquite, xerostomia, problemas renais ou hepáticos, entre muitas outras patologias.
Na diabetes verificam-se níveis elevados de glicose no sangue durante um longo período de tempo. A diabetes é uma das doenças com maior prevalência em todo o mundo. Quando não tratada, pode causar diversas complicações.
A sinusite é a inflamação da mucosa de um ou mais, dos seios perinasais. Para além da halitose, na sinusite são patentes alguns sinais e sintomas como a dor de cabeça ou pressão facial, obstrução nasal (nariz entupido), perturbações do cheiro (hipósmia, anósmia, cacósmia), as epistaxis (“sangue ou sangramento pelo nariz”), entre outros. Trata-se de uma doença que tanto pode afetar o bebé ou crianças em qualquer idade como os adultos.
Saiba, aqui, o que é sinusiste.
A doença do refluxo gastro-esofágico é bastante frequente nos adultos. Ocorre quando o refluxo do conteúdo gástrico para o esófago ultrapassa os valores normais, provocando sintomas ou danos no esófago. A hérnia de hiato é uma das causas mais frequentes na doença de refluxo, que consiste na passagem de parte de órgãos abdominais (geralmente estômago) para dentro do tórax.
Saiba, aqui, o que é a doença do refluxo gastroesofágico.
A boca seca (xerostomia) também pode estar na etiologia do mau hálito. A saliva é necessária para humedecer a boca, neutralizar o Ph dos ácidos produzidos pelas bactérias presentes na placa bacteriana, e ajudar a remover as células mortas que se armazenam na língua, gengivas e bochechas. Se não forem removidas, essas células participam também ativamente na presença de mau hálito. Na origem da boca seca podem estar vários problemas, como por exemplo, um efeito colateral de vários medicamentos, problemas das glândulas salivares ou respiração essencialmente feita através da boca e não do nariz.
Adicionalmente, fumar ou mascar produtos derivados de tabaco, também pode causar mau hálito, tornar os dentes amarelos ou amarelados ou manchar os dentes, reduzir a intensidade do paladar e irritar as gengivas.
Para além destas, muitas outras doenças podem desencadear halitose. O diagnóstico correto e atempado da patologia responsável pelo problema é de enorme importância, tendo em vista a eficácia dos tratamentos. Veja mais informação em cada uma das doenças relacionadas.
Saiba, de seguida, como tratar o mau hálito.
Halitose - tratamento
O tratamento da halitose depende obviamente da causa que lhe está subjacente.
Numa grande parte dos casos, a realização de uma correta higiene oral será suficiente para resolver o problema, ou seja, através da remoção eficaz da placa bacteriana. Uma correta higiene oral diária permite remover ou “tirar” a placa bacteriana e desta forma combater eficazmente a halitose proveniente destes casos.
Nos casos mais avançados, onde já se verifica a mineralização dessa placa bacteriana, torna-se imprescindível a intervenção do médico dentista para proceder à remoção do tártaro que se forma resultante dessa mineralização, através de um procedimento designado por destartarização (limpeza de dentes).
Saiba, aqui, o que é uma destartarização ou tartarectomia.
Quando as causas envolvem a cárie dentária, a gengivite ou a periodontite, entre outras patologias dos dentes e gengivas, deverá, após diagnóstico por parte do médico dentista, efetuar-se o tratamento apropriado, de acordo com a respetiva patologia e severidade do problema. Leia mais sobre tratamentos em cada uma das doenças dos dentes e gengiva relacionadas com a halitose.
Veja mais informação em: Tratamento da cárie dentária; Tratamento da gengivite; Tratamento da periodontite; etc
Nas situações em que o mau hálito tem como causas subjacentes outras doenças, deverá, após efetuado o diagnóstico, ser definido e seguido o respetivo plano de tratamento estabelecido pelo médico especialista, ajustado a cada caso, individualmente. Esses tratamentos podem passar por tratamentos médicos e em alguns casos cirúrgicos (cirurgia ou operação), dependendo obviamente das causas subjacentes. Veja mais informação em outras causas para a halitose.
Medicamentos para a Halitose
A halitose não deve ser mascarada com certas substâncias ou produtos, como algumas existentes em spray ou líquido, e muito menos ignorar o problema, pois o mau hálito pode ser sinal de alguma afeção ou doença sistémica encoberta, e não só de um problema ou afeção dos dentes e/ou gengiva, já por si só igualmente importante. Ou seja, o mau hálito que persiste no tempo (“que não passa”), mesmo após uma correta higiene oral, possui alguma patologia mais ou menos grave associada. Essa patologia deverá ser sempre diagnosticada e tratada de forma adequada, sob pena de um possível agravamento com possíveis riscos e complicações para a saúde do doente.
Torna-se portanto essencial, diagnosticar a causa do problema, para posteriormente se atuar na génese do mesmo, e só depois se definirem quais as substâncias e produtos a considerar para complementar o tratamento.
Remédio caseiro para mau hálito
O doente deve ter cuidado com algum tipo tratamento caseiro ou solução caseira para o mau hálito, pois pode ser perigoso usar determinadas substâncias, como é exemplo a água oxigenada, bicarbonato, chãs, etc., por vezes, descritos em alguns blogues na Internet e que prometem livrar rapidamente o doente do problema. Estas “dicas ou receitas” que supostamente permitem eliminar o mau hálito de uma forma rápida e eficaz, podem ser perigosas por dois motivos, a saber:
- Na maioria dos casos, não permitirem tratar a causa subjacente, mascarando assim o problema. Como vimos, existem múltiplas patologias relacionadas com a halitose, algumas delas potencialmente graves;
- Alguns destes “tratamentos naturais” podem ser completamente inofensivos, no entanto, alguns podem ser potencialmente perigosos para a saúde. O uso de determinados produtos e em determinadas concentrações pode acarretar algumas consequências nefastas para a saúde do doente.
Neste sentido, o doente nunca se deve automedicar e deve consultar sempre o seu médico antes de recorrer a qualquer tipo de medicação (de venda em farmácia ou produtos naturais).
Como vimos, em casa, um bom princípio passa por uma cuidada higiene oral como forma de prevenir e combater a halitose eficazmente.
Quem trata o mau hálito?
Na maior parte das situações, o médico dentista será o profissional de saúde mais habilitado para tratar a causa do mau hálito, pois como referido, a proveniência do problema está relacionado, em grande parte, com doenças dos dentes e gengiva.
Na eventualidade de o médico dentista considerar que está perante uma boca saudável e que a halitose não é de origem oral (causas fora da boca), deverá encaminhar o seu paciente para o médico de família ou para um especialista capaz de determinar a causa do odor e estabelecer o respetivo plano de tratamento. Outras especialidades médicas como Endocrinologia, Medicina Interna, Pneumologia, Otorrino, Cirurgia Geral, etc., devem ser consideradas no diagnóstico e tratamento da patologia que provoca a halitose.
Como prevenir o mau hálito?
Acabar com o mau hálito, ou preveni-lo de preferência, implica a prática de várias medidas, tais como:
- Boa higiene oral. Escovar os dentes seguindo uma técnica correta, de preferência após as refeições, com pasta de dentes fluoretada, para remoção de restos alimentares e placa. Deverá escovar a língua e usar também fio dentário para remoção das partículas de alimentos e placa existentes entre os dentes, uma vez por dia. Poderá complementar com bochechos com um elixir antibacteriano duas vezes por dia. Os aparelhos ortodônticos removíveis, as próteses dentárias ou dentaduras devem ser retiradas e limpas cuidadosamente antes de serem colocadas novamente na boca;
- Consultar o médico dentista regularmente, pelo menos duas vezes por ano. Através da realização de um exame oral, o profissional avaliará a necessidade de ser efetuada uma limpeza (destartarização) ou qualquer outro tratamento médico-dentário, nomeadamente o tratamento de cáries, doença periodontal, xerostomia (boca seca), ou outros problemas que podem ser a razão do mau cheiro da boca;
- Evitar bebidas alcoólicas e fumar, ou mascar produtos derivados de tabaco, assim como o consumo excessivo de café;
- Beber muita água. Esta medida manterá a boca húmida, estimulando a produção de saliva. As pastilhas elásticas (de preferência sem açúcar), também estimulam a produção de saliva, que ajuda a eliminar partículas de alimentos e bactérias.
- Fazer uma alimentação saudável e comer regularmente (evitar ficar muitas horas sem comer), e efetuar uma lista dos alimentos que come, e, se considerar que eles podem estar na origem do mau hálito, deverá levá-la ao seu médico para avaliar. Da mesma forma, faça uma lista dos medicamentos que toma, pois determinados medicamentos podem causar maus odores orais.
- Estilo de vida saudável. Controlar o nível de stresse e praticar exercício físico com regularidade.
Veja mais informação sobre prevenção em cada uma das patologias relacionadas com a halitose.