A artrite reumatóide é uma doença autoimune que provoca uma inflamação crónica do revestimento das articulações (membrana sinovial) e danos em várias partes do organismo, como pele, olhos, pulmões, coração e vasos sanguíneos.
As articulações são o local de conexão entre dois ou mais ossos ou destes com as cartilagens. São exemplos o ombro, o cotovelo, o joelho, tornozelo, etc. As articulações permitem a movimentação dos segmentos do corpo, mantendo os ossos do esqueleto juntos e estáveis.
Numa doença autoimune, como é o caso da artrite reumatóide, o sistema imunitário ou imunológico (nosso sistema de defesa contra ameaças externas) ataca erroneamente as células do próprio organismo, no caso da artrite reumatóide afetando as articulações.
Sinais e sintomas da artrite reumatóide
A artrite reumatóide é uma doença crónica marcada por sintomas de inflamação e dor nas articulações. Estes sinais e sintomas ocorrem durante períodos intermitentes e podem variar em gravidade, a saber:
- Dor, sensibilidade e edema (inchaço) nas articulações sobretudo das mãos e pés, persistentes e habitualmente simétricos;
- Sensação de rigidez e “calor” nas mesmas, frequentemente, e com predomínio matinal, durando mais de 30 minutos;
- Dificuldade de movimento nos dedos, joelhos, ombro, tornozelo, etc.;
- Fadiga inexplicável;
- Perda ponderal;
- Febre;
- Deformação das articulações em casos mais avançados;
- Entre outros.
A sintomatologia apresentada varia bastante ao longo do tempo, existindo períodos em que a doença está controlada apresentando quadros leves e períodos de agravamento da doença e exacerbação da sintomatologia degradando consideravelmente a qualidade de vida dos doentes.
Causas da artrite reumatóide
O sistema imunitário de uma pessoa saudável combate invasores externos, como bactérias e vírus. Nos casos de doenças autoimunes como a artrite reumatóide, o sistema imunitário confunde as células do próprio corpo com invasores e liberta compostos químicos inflamatórios que atacam, no caso da artrite reumatóide, a membrana sinovial. Esta membrana reveste as articulações e produz um fluido para ajudar as mesmas a moverem-se suavemente.
Quando as células do sistema imunitário chegam à membrana sinovial, criam a inflamação nas articulações que se tornam dolorosas, com edema (inchadas) e quentes ao toque.
Com o tempo, a inflamação desgasta a cartilagem, que consiste na camada de tecido que cobre as extremidades dos ossos. À medida que o doente perde cartilagem, o espaço entre os ossos diminui podendo desaparecer de todo e provocar deformações nos mesmos.
Na ausência de controlo, a inflamação na artrite reumatóide pode perpetuar-se e afetar órgãos em todo o organismo como os olhos, coração, pulmões, rins, vasos sanguíneos e até mesmo a pele.
O agente que inicia este processo, ainda não é conhecido, no entanto existem vários fatores de risco que podem desencadear o desenvolvimento da artrite reumatóide, a saber:
- Sexo feminino - Mulheres são mais propícias do que os homens a desenvolver artrite reumatóide.
- Idade - A artrite reumatóide pode ocorrer em qualquer idade, mas desenvolve-se mais frequentemente em pessoas na meia-idade, ou seja, entre os 40 e 50 anos de idade.
- Hereditariedade (genética) - Se existem membros da família com artrite reumatóide, então existe um risco aumentado de desenvolvimento da doença.
- Tabagismo - Fumar cigarros ou qualquer outro tipo de tabaco aumenta o risco de desenvolver artrite reumatóide, particularmente se o doente tiver uma predisposição genética para a doença.
O tabagismo também parece estar associado a uma maior gravidade da doença.
- Exposições ambientais - Algumas exposições como ao amianto ou sílica podem aumentar o risco de desenvolver artrite reumatóide.
- Obesidade (excesso de peso) - Pessoas (especialmente mulheres por volta dos 55 anos de idade) com excesso de peso parecem ter um risco mais elevado de desenvolver artrite reumatóide.
- Entre outros.
Diagnóstico da artrite reumatóide
Efetuar o diagnóstico o mais rapidamente possível é o primeiro passo para tratar a artrite reumatóide de forma eficaz, evitando a progressão da doença, nomeadamente lesão das articulações.
Inicialmente, o diagnóstico é realizado através da história clínica do doente e do exame físico onde são avaliadas as articulações na procura de edemas (inchaços), deformidades e limitação no movimento nestas áreas ou sensação de “calor nas mesmas”, entre outros sinais e sintomas.
O médico especialista pode, então, recorrer a outros meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), de modo a diagnosticar conclusivamente a doença, a saber:
- Análises ao sangue - Pessoas com artrite reumatóide, muitas vezes, têm uma taxa elevada de sedimentação de eritrócitos (ou hemácias) ou proteína C-reativa (PCR), o que pode indicar a presença de um processo inflamatório no organismo. Outros exames de sangue comuns procuram por fatores reumatóides (anticorpos específicos) e anticorpos peptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP).
- Exames de imagem - O médico especialista pode prescrever uma radiografia (raio X) para ajudar a acompanhar a progressão da artrite reumatóide. Exames como ressonâncias magnéticas (RM) e ecografias (ultrassonografias) podem também ajudar a avaliar a gravidade da doença.
- Entre outros.
Os danos articulares provocados pela artrite reumatóide, geralmente, ocorrem de forma bilateral, isto é, se uma articulação é afetada num dos braços ou pernas, por exemplo, a mesma articulação no outro braço ou perna provavelmente será também afetada. Assim, no diagnóstico diferencial, o atingimento unilateral ou bilateral pode indiciar outros tipos de doenças que provocam sintomatologia semelhante mas que, por norma, afeta apenas um dos membros.
Complicações da artrite reumatóide
A artrite reumatóide tem muitas consequências físicas e sociais e pode reduzir a qualidade de vida do doente. Entre as várias complicações associadas, podemos destacar:
- Nódulos reumatóides - Estes “solavancos” firmes de tecido formam-se frequentemente à volta de pontos de pressão, tais como os cotovelos. No entanto, estes nódulos podem formar-se em qualquer parte do corpo, incluindo os pulmões.
- Infeções - A doença em si e muitos dos medicamentos utilizados para combater a artrite reumatóide, podem prejudicar o sistema imunitário, levando a um aumento do risco de desenvolvimento de infeções.
- Problemas cardiovasculares - A artrite reumatóide pode aumentar o risco de artérias “endurecidas” e bloqueadas, bem como a inflamação do tecido que envolve o coração (pericardite).
- Obesidade - Doentes com artrite reumatóide que possuem excesso de peso, têm também um risco cardiovascular aumentado por potenciar os fatores de risco de doenças cardiovasculares, tais como: hipertensão arterial, colesterol elevado e outras doenças crónicas como diabetes.
- Entre outras.
Como referido anteriormente, existem períodos intermitentes em que os sinais e sintomas podem ser muito fortes ou não existentes (períodos assintomáticos). Esta incerteza pode provocar outro tipo de complicações, a saber:
A artrite reumatóide tem cura?
Não existe uma cura definitiva para a artrite reumatóide e o prognóstico da doença é extremamente variável. No entanto, já existem várias opções terapêuticas capazes de retardar a progressão e aliviar a sintomatologia da doença, fazendo com que o doente consiga melhorar a sua qualidade de vida.
Muito importante: Um diagnóstico atempado e uma instituição de um tratamento precoce ajuda a prevenir várias complicações e aumentar os períodos de remissão, ou seja, períodos assintomáticos da doença.
Tratamento da artrite reumatóide
Como já foi referido, não existe cura para a artrite reumatóide. Por isso, os objetivos do tratamento da doença focam-se noutros aspetos importantes, tais como:
- Parar a inflamação ou reduzi-la para o nível mais baixo possível;
- Aliviar a sintomatologia;
- Prevenir danos nas articulações e outros órgãos;
- Melhorar o bem-estar geral do doente;
- Reduzir o risco de desenvolvimentos de complicações;
- Etc.
O tratamento da artrite reumatóide pode ser feito através de várias opções terapêuticas, a saber:
Tratamento medicamentoso
A medicação prescrita pelo médico especialista depende da gravidade da sintomatologia e de perceber há quanto tempo o doente já padece da doença, a saber:
AINEs: Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) como ibuprofeno ou naproxeno podem aliviar a dor e reduzir a inflamação.
Esteróides: Medicamentos (remédios) corticosteróides, tais como a prednisona, reduzem a inflamação, dores e danos nas articulações. Este tipo de compostos é, geralmente, prescrito para aliviar os sintomas agudos, com o objetivo de diminuir gradualmente a medicação.
Medicamentos modificadores da doença antirreumáticos: Estes fármacos podem retardar a progressão da artrite reumatóide e proteger as articulações e outros tecidos de danos permanentes.
Entre outros.
Fisioterapia
O médico especialista pode recomendar fisioterapia, de modo a ajudar o doente a fazer exercícios e manter as articulações flexíveis.
O terapeuta pode também sugerir novas formas de realizar algumas tarefas diárias, o que permitirá proteger as articulações.
Dispositivos de assistência podem tornar mais fácil o movimento das articulações e evitar o stress e desconforto provocado pela dor. Por exemplo, uma faca de cozinha equipada com um aperto de mão ajuda a proteger as articulações dos dedos e pulso.
Tratamento cirúrgico (cirurgia)
Se as opções anteriores não conseguirem evitar ou retardar os danos articulares, o médico especialista pode considerar a cirurgia para reparar as articulações danificadas ou deformadas.
A operação pode ajudar a restaurar a capacidade de usar e mover as articulações afetadas e pode também controlar a dor provocada pela doença.
A cirurgia da artrite reumatóide pode envolver um ou mais dos seguintes procedimentos:
- Sinovectomia - Cirurgia para remover o revestimento inflamado da articulação (membrana sinovial). Este procedimento pode ser realizado em joelhos, cotovelos, pulsos, dedos e anca.
- Reparação do tendão - Inflamação e danos articulares podem causar a rutura ou deslocamento de tendões ao redor de alguma articulação.
- Fusão cirúrgica (artrodese) - A fusão cirúrgica pode ser recomendada para estabilizar ou realinhar alguma articulação e para alívio da dor quando uma substituição da mesma não é uma opção.
- Substituição total das articulações (artroplastia) - Durante a cirurgia de substituição articular, o cirurgião remove as partes danificadas da articulação afetada e insere uma prótese feita de metal e plástico. São exemplos, a artroplastia da anca, a artroplastia do joelho, etc.
Comportamentos benéficos na artrite reumatóide
Existe uma grande variedade de comportamentos a adotar no quotidiano, em conjunto com as opções terapêuticas acima referidas, de modo a aliviar a sintomatologia da doença e evitar o desenvolvimento de possíveis complicações, a saber:
- Praticar exercício físico regularmente - O exercício suave pode ajudar a fortalecer os músculos em torno das articulações, e pode ajudar a combater a fadiga que o doente poderá sentir. Consulte o médico especialista antes de começar a fazer exercício, de modo a não forçar e piorar os problemas das articulações;
- Aplicar calor ou frio - O calor pode ajudar a aliviar a dor e relaxar os músculos tensos e dolorosos. O frio pode atenuar a sensação de dor e pode reduzir o edema;
- Relaxamento - Encontrar maneiras de lidar com a dor, reduzindo o stress da vida do doente, pode ser extremamente benéfico para o bem-estar da pessoa. Técnicas como respiração profunda ou relaxamento muscular podem ser usadas para controlar a dor.
- Dieta - Fazer uma dieta saudável e variada, ingerindo muitas frutas e vegetais frescos e com uma boa hidratação com água natural ou sumos de fruta, pode ajudar o doente a sentir-se melhor e manter um peso saudável.
O doente nunca se deve automedicar ou tentar qualquer tipo de tratamento caseiro ou alternativo, para além das medidas atrás enunciadas, sob pena de poder agravar o seu quadro clínico.