A hepatite autoimune é uma patologia (doença) caracterizada pela inflamação das células do fígado. Existem diversos tipos de hepatite causados por diferentes agentes (vírus, produtos tóxicos, etc.), conforme discutiremos adiante. No caso da hepatite auto-imune, o nosso sistema imunitário ou imunológico (sistema de defesa do corpo) ataca erradamente as células do fígado, causando a sua inflamação.
Em grande parte dos casos, esta patologia pode ser assintomática (não provoca sintomas), daí que muitas pessoas tenham a doença sem o saberem. De uma forma frequente, o doente é diagnosticado através de alterações verificadas em análises de rotina ou de complicações na sequência de uma doença muito avançada (cirrose).
A fadiga (cansaço) é dos sintomas iniciais mais frequentes, podendo ainda ocorrer outros sinais e sintomas nomeadamente, a icterícia (cor da pele e dos olhos amarelada), dores nas articulações, irregularidades menstruais, desconforto abdominal (na barriga), náuseas, vómitos, perda de apetite, urina escura e fezes de cor pálida. Veja mais informação em “sinais e sintomas da hepatite autoimune”.
Como o fígado é um órgão essencial ao nosso sistema digestivo, na presença de inflamação ou lesão, pode ocorrer alteração do seu correto funcionamento, podendo levar ao surgimento de distintas complicações a curto ou a longo prazo. A hepatite auto-imune pode avançar para a cirrose hepática com sintomatologia mais acentuada, numa fase mais avançada da doença.
A hepatite auto-imune é uma doença progressiva e que pode afetar ambos os sexos. No entanto, afeta mais frequentemente o sexo feminino (mulheres).
Causas da hepatite auto-imune
Como vimos anteriormente, a hepatite auto-imune é consequência de uma alteração no nosso sistema imunitário ou imunológico (sistema de defesa) que ataca erradamente as células do fígado, causando alterações nas mesmas e a sua inflamação. O porquê destas alterações relacionadas com o nosso sistema imune ainda não é completamente conhecido.
A hepatite auto-imune é contagiosa?
Não. Na hepatite auto-imune não existe qualquer risco de contágio de pessoa para pessoa.
Contudo, no caso de outras formas de hepatite, tal como as causadas pelos vírus (hepatites víricas) são contagiosas, isto é, a doença “passa” de uma pessoa para outra. O contágio pode suceder quando ocorre contacto com uma pessoa infetada com o vírus. Veja mais informação em “Outros tipos de hepatite”.
Sinais e sintomas na hepatite auto-imune
Os sinais e sintomas da hepatite auto-imune variam conforme a severidade da inflamação, do tempo de evolução ou da presença de outras patologias. Contudo, na maior parte dos casos estão patentes os seguintes sinais e sintomas:
- Fadiga (cansaço);
- Icterícia (coloração amarelada da pele ou na parte branca dos olhos);
- Náuseas ou vómitos;
- Urina escura;
- Falta de apetite para comer;
- Dor nas costas ou no abdómen (barriga), no lado direito (localização do fígado);
- Pode existir febre, se bem que em muitos casos não haja subida de temperatura;
- Fezes de cor clara;
- Prurido (comichão);
- Etc.
De notar que muitos casos, principalmente nas fases iniciais da doença, são assintomáticos (não provocam sintomas) durante largos períodos de tempo.
Diagnóstico da hepatite auto-imune
O diagnóstico de hepatite auto-imune é realizado pelo médico especialista, tendo por base a história clínica do doente, os sinais e sintomas apresentados e recorrendo ao auxílio de alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT).
Por norma, as análises ao sangue indicam alteração das provas hepáticas, mais concretamente um aumento do aspartato aminotransferase (AST) e/ou alanina aminotranferase (ALT), visto que revelam a existência de lesão das células do fígado. Os valores absolutos podem ser muito variáveis e nem sempre espelham o prognóstico, podendo alguns padrões de elevação fazer suspeitar mais de um diagnóstico em específico.
Regra geral, a ecografia abdominal é um dos exames de primeira linha no diagnóstico, podendo recorrer-se à tomografia computorizada (TC ou TAC) abdominal ou à ressonância magnética (RM) abdominal quando existem lesões suspeitas na ecografia.
O caso do diagnóstico de hepatite auto-imune é fundamentado também em exames específicos do sangue, designados anticorpos e implica a realização de biópsia hepática. Na biópsia é recolhida uma amostra de células do fígado (através de uma agulha fina e guiada por métodos de imagem médica) para serem analisadas em laboratório de anatomia patológica.
Complicações da hepatite auto-imune
As complicações da hepatite poderão acarretar consequências muito sérias, podendo inclusivamente implicar a morte da pessoa. Assim, a falência hepática (o fígado deixa de funcionar) é uma das possíveis complicações da hepatite aguda e apresenta uma altíssima taxa de mortalidade, obrigando na maior parte das vezes a transplante hepático emergente.
No que concerne à hepatite crónica, a cirrose é uma das complicações mais comuns, associando-se a diversas complicações como hemorragia por varizes esofágicas (vómitos de sangue) ou desenvolvimento de ascite (ganhar líquido na barriga).
Saiba, aqui, tudo sobre cirrose.
A complicação mais temível é efetivamente o desenvolvimento de cancro do fígado, no entanto, em qualquer uma das complicações existe risco de morte associado.
Em qualquer um dos casos, um tratamento adequado e atempado é fundamental para controlar a evolução da doença, quando tal é possível, prevenindo assim possíveis complicações.
A hepatite auto-imune tem cura?
Não. A hepatite auto-imune é uma doença incurável, mas que pode ser controlada, evitando flares/agudizações e progressão.
O prognóstico da doença é muito variável de caso para caso. Um tratamento adequado e atempado é muito importante para retardar a progressão da doença e prevenir complicações.
Tratamento da hepatite auto-imune
O tratamento da hepatite auto-imune é efetuado com recurso a corticóides e numa fase posterior através da associação de outros medicamentos com vista à diminuição da dose dos corticóides já que estes possuem efeitos adversos conhecidos como a diabetes e a osteoporose.
Podem ser utilizados medicamentos (remédios) imunossupressores que permitem reduzir a ação do sistema imunitário e, desta forma, evitar a progressão da doença.
Em casos agudos mais severos pode ser indispensável internamento hospitalar.
O transplante de fígado pode ser um tratamento para casos com disfunções hepáticas, consistindo numa cirurgia (operação) que permite substituir o fígado doente por um de um dador compatível.
Na eventualidade de surgirem complicações associadas à hepatite crónica, como a cirrose ou o cancro no fígado, situações potencialmente fatais, pode ser imprescindível recorrer a tratamentos mais adequados a essas complicações.
Outros tipos de Hepatite
Como vimos anteriormente, a hepatite pode ter diferentes etiologias. A forma de hepatite mais frequente é a que é provocada por vírus, designando-se, assim, por hepatite vírica ou viral. Podemos identificar 5 vírus causadores de hepatite (Hepatite A, Hepatite B, Hepatite C, Hepatite D, Hepatite E), sendo a hepatite A, B e C as mais comuns em Portugal.
O surgimento da hepatite pode também ocorrer como consequência da ingestão de algumas substâncias tóxicas, designadamente a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, consumo de drogas, excesso de alguns fármacos ou alguns cogumelos selvagens. Mais recentemente, dada a dieta ocidentalizada, rica em gorduras, há um aumento exponencial de Esteato-hepatite não-alcoólica, o chamado fígado gordo.
O prognóstico da hepatite é muito incerto, obedecendo ao tipo de hepatite presente, entre muitos outros fatores inerentes ao paciente. Para algumas hepatites existe uma cura definitiva, que nos permite superar totalmente a doença. Porém, existem hepatites em que a doença se torna crónica, não existindo hipóteses de cura, como é exemplo a hepatite auto-imune.