A diálise peritoneal é uma técnica de substituição da função renal alternativa à hemodiálise. Geralmente, é utilizada no estádio 5D da insuficiência renal crónica, isto é na fase mais avançada dessa insuficiência. Nas situações de insuficiência renal aguda grave é muito rara a sua utilização, encontrando-se bem definido o papel da hemodiálise e de técnicas dialíticas contínuas como a hemofiltração venovenosa nessas situações agudas.
Em Portugal, segundo o registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, existiam 11985 doentes em hemodiálise e 756 em diálise peritoneal em 31/12/2017.
Uma das grandes vantagens da diálise peritoneal prende-se com o facto de se tratar de uma técnica ambulatória, geralmente domiciliária. Se o doente se encontrar dependente de uma terceira pessoa, a técnica pode ser executada por um cuidador (Diálise Peritoneal Assistida) no próprio domicílio ou em Lares ou Unidades de Cuidados Continuados.
A diálise peritoneal contínua ambulatória (DPCA) é a variante mais utilizada dessa técnica. O paciente executa 3 a 4 trocas (passagens) manuais durante o dia. A diálise peritoneal automática é efetuada com recurso a uma cicladora. O doente é conectado a essa máquina durante a noite. Veja mais informação em "como é feita a diálise peritoneal".
Indicações da diálise peritoneal
Os doentes candidatos a esta técnica são todos os que atinjam o estádio 5D da insuficiência renal crónica.
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Existem poucas contra-indicações absolutas para a técnica como, por exemplo, hérnias abdominais não corrigíveis, bridas resultantes de cirurgias abominais ou rins poliquísticos de grandes dimensões.
Em pediatria a diálise peritoneal é uma técnica preferencial. As crianças, sobretudo na infância, apresentam acessos vasculares deficitários para construção de fístulas artério-venosas ou colocação de cateteres centrais. Acresce que esse território vascular deve ser preservado para a sua vida adulta porque o percurso de terapêuticas dos doentes renais crónicos é complementar. É habitual uma criança efetuar diálise peritoneal e posteriormente ser transplantada com um rim. Infelizmente, a sobrevivência dos rins transplantados, em média 10 anos, não obsta a que venham a necessitar de hemodiálise ou diálise peritoneal.
Os idosos ou doentes dependentes podem efetuar diálise peritoneal com recurso a um cuidador, familiar ou funcionário de um Lar ou de uma Unidade de Cuidados Continuados (UCC).
Mostramos-lhe, de seguida, passo a passo, como é realizada a diálise peritoneal.
Como é feita a diálise peritoneal?
Os doentes ou cuidadores são treinados durante 3 a 7 dias para efetuarem a técnica de forma ambulatória. Idealmente, o cateter deve ser introduzido cerca de 3 a 4 semanas antes do treino.
Em cada troca, o primeiro passo é de drenagem do líquido que se encontra dentro do peritoneu, seguido da infusão de um líquido de diálise novo.
A permanência desse líquido na cavidade peritoneal durante 4 a 10 horas permite a eliminação de substâncias urémicas, potássio e do líquido corporal em excesso que seriam removidos pela urina na ausência de insuficiência renal grave.
Na diálise peritoneal automática a cicladora efetua as trocas programadas (3 a 8 em função das necessidades clínicas). Durante o dia, o paciente ou cuidador pode efetuar mais uma troca manual (Diálise Peritoneal plus ou O.C.P.D.) mas, habitualmente, não existe essa necessidade, libertando-os para as suas atividades laborais, de lazer ou estudantis.
Os cuidados de enfermagem na Diálise Peritoneal são essenciais, no treino e na revisão periódica da técnica.
Alternativas à diálise peritoneal
A hemodiálise é uma alternativa à diálise peritoneal na insuficiência renal crónica estádio 5.
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A transplantação renal, no entanto, é considerada como a técnica de substituição renal com melhores resultados relativamente à morbilidade e até aos 70 anos de idade também em relação à mortalidade.
A opção diálise peritoneal deve ser apresentada em consultas de esclarecimento de acordo com a norma da DGS 017/2011. Esta norma também define o tratamento conservador médico da Insuficiência Renal Crónica Estádio 5.
A principal diferença entre a diálise peritoneal e a hemodiálise, na perspetiva do doente, parece ser o facto da diálise peritoneal não envolver a retirada de sangue do organismo para a sua depuração.
Vantagens da diálise peritoneal
As vantagens da diálise peritoneal mais significativas são a possibilidade de ser executada no ambiente familiar do doente sem deslocações frequentes, bem como a estabilidade hemodinâmica conferida por um tratamento contínuo.
As desvantagens da diálise peritoneal são inerentes à técnica. As infeções do orifício de saída do cateter são relativamente frequentes, em média uma por ano, e as peritonites (cerca de uma em cada dois anos) são geralmente tratadas de forma eficaz com antibióticos infundidos na cavidade peritoneal juntamente com a solução de diálise.
A preservação da função renal dos doentes é muito importante em diálise peritoneal. Permite efetuar um menor número de tratamentos ou ciclos diários e uma permanência maior nesta técnica.
Os custos da diálise peritoneal são elevados nos países que não produzem as soluções de diálise, como é o caso de Portugal. Esse pode ser um motivo para a inexistência de centros privados empenhados em implementar esta técnica como alternativa às Unidades Hospitalares.
A qualidade de vida em diálise peritoneal parece ser superior relativamente à hemodiálise. Permite maior autonomia dos doentes e estes não referem dependência relativamente aos profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, bem como das máquinas de hemodiálise. A diálise peritoneal automatizada permite o dia livre para desempenho de atividade laboral ou estudantil.
Os familiares e eventuais cuidadores dos doentes em diálise peritoneal são peças importantes no sucesso e benefícios da técnica. Sempre que possível, no entanto, é implementada a técnica de auto-diálise para uma melhor realização pessoal e autonomia do doente.
Riscos da diálise peritoneal
Os riscos da diálise peritoneal já foram referidos, as infeções do orifício e as peritonites. Em comparação a hemodiálise apresenta maior risco de infeções do acesso (cateteres centrais, próteses arteriovenosas ou fístulas arteriovenosas) e de bacteriemias/sepsis.
Outras complicações da dialise peritoneal que podem ser mais frequentes do que na hemodiálise são a hipertensão arterial, edemas (“inchaço”) e alterações da nutrição (hipoalbuminemia ou obesidade).
Como fatores de risco para infeções em diálise peritoneal, sobretudo para peritonite, podemos incluir o eventual cansaço com a técnica provocando quebras na assepsia e a hipocalemia. O reforço da execução correta da técnica é efetuado regularmente nas unidades de diálise peritoneal, especialmente após um episódio de peritonite.