A gravidez é um dos períodos da vida mais importantes para a mulher e ocasiona diversas adaptações fisiológicas no organismo materno, para que o feto se desenvolva de forma saudável e o parto ocorra nas condições ideais.
Ocorrem inúmeras alterações anatómicas e funcionais no corpo da gestante, e o estado hormonal tem um enorme impacto sobre os vários órgãos e sistemas do organismo, não sendo os rins a exceção:
- Aumento de 30% no volume renal;
- Aumento de 50-80% no fluxo sanguíneo renal, particularmente no 1º trimestre;
- Proteinúria (perda de proteínas na urina);
- Aumento na frequência de micção (vontade de urinar), por fatores hormonais e mecânicos (pressão do feto in útero sobre a bexiga).
Este aumento da “carga de trabalho renal” pode potenciar o desenvolvimento de doenças renais ou piorar uma patologia pré-existente.
Acredita-se que mulheres com doença renal leve (estadios 1-2), com tensão arterial normal e pouca ou nenhuma proteína na urina, poderão ter uma gravidez saudável, não intercorrente.
Em mulheres com doença renal moderada a grave (estadios 3-5), o risco de complicações é significativamente superior, agravando ainda mais quando se encontram a fazer diálise.
O que é a diálise?
A diálise é um tratamento de substituição de algumas das funções dos rins, que inclui a eliminação de toxinas acumuladas e a regulação do volume extracelular de água e sal. A diálise engloba procedimentos de depuração de substâncias e de ultrafiltração de líquidos em excesso no organismo.
As modalidades dialíticas disponíveis são a hemodiálise e a diálise peritoneal.
Saiba, aqui, tudo sobre diálise.
A gravidez em diálise é possível?
A taxa de gravidezes ocorrida em diálise é ainda muito baixa quando comparada com a da restante população. Contudo, nos últimos anos, o sucesso das mesmas tem vindo a aumentar significativamente.
Embora seja possível dar continuidade a uma gravidez em diálise, existem algumas precauções que deverão ser tomadas, a saber:
- Manutenção de baixos níveis de ureia pré-diálise;
- Adequação do perfil de tensão arterial;
- Controlo da anemia;
- Cuidados para evitar infeções, défices nutricionais, alterações no metabolismo e flutuações electrolíticas;
- Monitorização minuciosa do crescimento e desenvolvimento fetal.
Gravidezes em diálise estão associadas à maior probabilidade de complicações maternas e fetais, sendo de extrema importância uma abordagem multidisciplinar entre nefrologistas, obstetras e pediatras.
Veja mais informação em “Riscos e complicações da diálise durante a gravidez”.
A gravidez é recomendada a mulheres em diálise?
A gravidez, geralmente, não é recomendada a mulheres que se encontrem a fazer diálise por ser considerada de alto risco.
Doentes sob diálise estão inevitavelmente expostas a um nível mais elevado de resíduos urémicos, potenciando maiores dificuldades ao desenvolvimento do feto.
Durante a gravidez, rins saudáveis devem trabalhar durante mais tempo para manter o sangue limpo, porque o feto em evolução também liberta resíduos na corrente sanguínea da mãe. Assim, para as mulheres em diálise, cujos rins não funcionam, a gravidez torna-se uma tarefa ainda mais exigente.
Um maior tempo cumulativo de diálise é habitualmente recomendado à mulher grávida dependente desta técnica, com vista à manutenção do sangue tão limpo quanto possível. A intensificação dos programas de tratamento tem melhorado a taxa de sucesso e o prognóstico destas gravidezes.
Fertilidade durante a diálise
As alterações corporais e fisiológicas do corpo durante a gravidez podem interferir com a fertilidade da mulher.
A maioria das mulheres em diálise têm anemia (uma baixa contagem de glóbulos vermelhos) e alterações hormonais variáveis. Estas podem causar irregularidades nos ciclos menstruais, podendo estes ser tradutores de dificuldade no processo de fertilidade.
A probabilidade de uma mulher com doença renal engravidar é maior quando a doente iniciou recentemente a diálise e ainda mantém uma quantidade razoável da sua função renal residual.
A fertilidade de uma mulher tende a normalizar após um transplante de rim bem-sucedido, a par de uma melhoria do estado de saúde em geral.
Hemodiálise ou diálise peritoneal durante a gravidez
Quando comparada à hemodiálise, a diálise peritoneal permite um ambiente uterino mais estável, sem grandes flutuações no volume sanguíneo, eletrólitos e tensão arterial. O cateter utilizado nesta técnica de diálise não é prejudicial para o feto e pode ser colocado durante a gravidez. Contudo, a diálise peritoneal pode associar-se a algum desconforto pelo aumento da pressão abdominal, atendendo ao crescimento fetal e ao líquido intra-peritoneal. A par disso, o risco infecioso não é desprezível.
A taxa de sucesso de gravidezes com recurso à hemodiálise é mais elevada. Contudo, esta modalidade não é isenta de complicações, podendo as reduções abruptas da concentração de ureia sérica comprometer o equilíbrio fetal.
A opção ideal ainda não está, portanto, definida. É efetivamente necessária uma avaliação estritamente individualizada, caso-a-caso, tendo como prioridade o bem-estar da mãe e do futuro bebé.
Riscos e complicações da diálise durante a gravidez
Existem vários riscos e complicações associadas à gravidez em diálise, entre os mais relevantes:
- Pré-eclâmpsia (agravamento da hipertensão e proteinúria);
- Síndrome HELLP (destruição dos glóbulos vermelhos);
- Prematuridade;
- Baixo peso ao nascer;
- Aborto espontâneo.