A bronquite caracteriza-se por uma inflamação do revestimento dos brônquios. Os brônquios são uma espécie de “tubos” que aquecem e humidificam o ar e o transportam até aos pulmões. Esta inflamação brônquica provoca tosse com expectoração, por vezes, mucosa.
Essencialmente, podemos identificar dois tipos de bronquite (crónica e aguda).
Bronquite aguda, crónica
A bronquite aguda ou traqueobronquite é precedida por uma infeção respiratória alta (vulgo constipação) que posteriormente se prolonga aos brônquios. É, efetivamente, uma entidade muito comum. O diagnóstico de bronquite aguda é aplicado aos casos de infeção respiratória aguda com tosse que se prolonga até algumas semanas após a resolução de outros sinais e sintomas de infeção aguda. Deste modo, a febre é um sintoma frequente no inicio da doença, mas não deverá estar presente mais de dois dias, altura em que o trato respiratório inferior habitualmente está envolvido.
Podemos afirmar que, de uma forma geral, a bronquite aguda não é uma situação clínica perigosa, no entanto, se se verificarem episódios repetidos de bronquite deve consultar o seu médico pneumologista.
A bronquite crónica é uma doença mais grave e é provocada por uma irritação ou inflamação da mucosa brônquica de forma continuada. Esta doença é caracterizada por tosse com expectoração mucosa que dura pelo menos três meses, com episódios recorrentes durante pelo menos dois anos consecutivos. A irritação constante provocada pelo fumo do tabaco é a base da fisiopatologia da bronquite crónica.
A bronquite crónica e o enfisema pulmonar são duas doenças incluídas na denominada doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
Saiba, aqui, o que é enfisema pulmonar.
Bronquite asmática, Bronquite alérgica
Os termos bronquite alérgica e bronquite asmática são usados para descrever a asma.
Trata-se de uma doença crónica e heterogénea que tem como causa a inflamação das vias aéreas. A asma, também designada de bronquite asmática ou asma brônquica, é das doenças respiratórias crónicas mais frequentes em todo o mundo e que apresenta um maior aumento de incidência nas três últimas décadas anos, estimando-se que uma em cada vinte pessoas padeça de asma.
Bronquite Eosinofílica
A bronquite eosinofílica é uma entidade cada vez mais reconhecida. Caracteriza-se por uma tosse crónica que responde favoravelmente ao tratamento com corticoides inalados.
É caracterizada por eosinofilia na expectoração, aumento do reflexo da tosse, mas ao contrário da asma não existe evidência de obstrução ou híper reatividade brônquica. Alguns estudos sugerem que represente entre 10 a 15% dos casos de tosse crónica.
A inflamação é similar à observada na asma, embora difira na localização dos mastócitos na via aérea com infiltração do epitélio na bronquite eosinofílica, pelo contrário na asma ocorre no músculo liso brônquico. Em termos clínicos a grande diferença entre asma e bronquite eosinofílica é a ausência de hiperreatividade brônquica na bronquite eosinofilica.
Causas da bronquite
Pode dizer-se que a bronquite aguda é uma bronquite infecciosa. É um tipo de infeção mais comum durante os meses de inverno e está associado com infeções por vírus respiratórios rhinovirus, coronavirus, influenza e adenovirus (bronquite viral ou vírica).
Podemos ter outros agentes etiológicos da bronquite aguda: Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, e a Bordetella, ou uma “invasão” secundária por bactérias como Haemophilus influenzae ou Streptococcus pneumonia que podem desempenhar um papel importante na bronquite (bronquite bacteriana).
No caso da bronquite crónica a causa mais comum é o tabaco. No entanto, a poluição do ar, poeiras e gases tóxicos no ambiente ou local de trabalho também podem contribuir par esta patologia.
É a variabilidade individual condicionada pelo componente genético ou hereditário associados ao exercício físico e à alimentação que leva a que uns fumadores desenvolvam bronquite crónica e outros não.
Saiba, de seguida, quais os sintomas da bronquite.
Sintomas da bronquite aguda
A tosse e o desconforto torácico são os sintomas mais proeminentes da bronquite aguda. Inicialmente, a tosse é não produtiva, mas ao longo do tempo transforma-se em tosse com expectoração mucosa. Com a progressão da doença a expectoração pode tornar-se purulenta e estar raiada de sangue, no entanto é um sintoma que deverá ser sempre valorizado e enquadrado noutras hipóteses de diagnóstico.
Esta doença cursa com febre e calafrios durante um a dois dias.
Muitos doentes com bronquite aguda também desenvolvem traqueite. Os sintomas de envolvimento traqueal incluem dor sub-esternal associada com a respiração que se intensifica com a tosse.
Sintomas da bronquite crónica
Na bronquite crónica, a tosse e a expectoração mucosa são sintomas ligeiros que acompanham o doente bronquítico durante muitos anos e este não valoriza. Mais tarde, podem surgir os restantes sintomas da bronquite crónica: a fadiga e a falta de ar.
Os sintomas de bronquite crónica podem incluir:
- Tosse;
- A expectoração (catarro) é habitualmente mucosa, branca, mas poderá ser amarelada ou esverdeada em situações de infeção. Raramente é raiada de sangue – expectoração hemoptoica. (neste caso deverá consultar o seu médico pneumologista o mais breve possível). Os doentes com bronquite crónica apresentam aumento das glândulas mucosas dos brônquios (ver vídeo) conduzindo a uma maior produção crónica de muco e consequentemente ao aparecimento de tosse crónica com expectoração (“catarro do fumador”);
- Fadiga;
- A dispneia (falta de ar), inicialmente surge quando o doente efetua grandes esforços, como por exemplo uma caminhada ou subir umas escadas. A evolução da doença começa a interferir com as atividades diárias e o paciente sente falta de ar quando realiza pequenos esforços, como por exemplo tomar banho;
- Desconforto torácico.
Os sintomas na bronquite avançada, já são bem claros e limitadores, designadamente a hipoxia (baixa quantidade de oxigénio no sangue), falta de ar em repouso, fraqueza muscular generalizada e desnutrição. Como consequência deste envolvimento sistémico, em último caso, a bronquite pode levar à morte.
Diagnóstico da bronquite
O diagnóstico de bronquite é efetuado tendo por base a história clínica e o exame objetivo. Alguns exames auxiliares ou complementares de diagnóstico (MCDT) servem para excluir outras patologias e estadiar a gravidade da doença. Assim, podem ser solicitados:
- Análise da expectoração: A expectoração é o muco que é excretado dos pulmões com a tosse. Pode ser analisado para avaliar se existe tosse convulsa;
- Provas funcionais respiratórias: Durante este teste de função pulmonar, o doente sopra num aparelho chamado espirómetro, que mede a quantidade de ar dos seus pulmões e a rapidez com que é feita a expiração. Este teste verifica se há sinais de DPOC ou asma;
- A radiografia (RX) de tórax: Poderá ajudar a determinar se existe pneumonia ou outras doenças que justifique a tosse.
Para além destes, outros exames ou análises podem ser solicitados no diagnóstico de bronquite.
A bronquite é contagiosa?
Podemos considerar que a bronquite aguda é contagiosa ou transmissível. Ou seja, a bronquite “pega-se” ou transmite-se de pessoa para pessoa, na medida que, geralmente é causada por vírus - os mesmos vírus que causam constipações e gripe (influenza).
A forma de contágio (ou modo de transmissão) deste tipo de vírus é feita através de aerossóis (gotículas de água libertadas nos espirros e na tosse). Quando essas gotículas emitidas por um doente infetado entram em contacto com os olhos, boca ou nariz de outra pessoa, esta pode contrair a doença. Veja mais informação em causas.
Os adultos mais velhos, lactentes e crianças jovens têm maior vulnerabilidade à infeção e consequentemente a bronquites agudas. Do mesmo modo, as pessoas que fumam ou que convivem com fumadores têm um risco acrescido de contrair bronquite aguda e bronquite crônica.
No caso da bronquite crónica não existe qualquer risco de contágio, existem sim, fatores que aumentam o risco de contrair esta doença, tais como:
- O fumo do cigarro é o fator primordial no desenvolvimento da doença;
- Exposição a substâncias irritantes no trabalho. O risco de desenvolver bronquite é maior em trabalhadores que lidam com certas substâncias irritantes pulmonares, tais como poeiras ou vapores químicos e fumos;
- Refluxo gastroesofágico: repetidos ataques de azia podem irritar a garganta e tornar o individuo mais propenso a desenvolver bronquite.
Bronquite tem cura?
A maioria dos casos de bronquite aguda resolve-se espontaneamente e sem tratamento médico no espaço de duas semanas.
Um único episódio de bronquite não é motivo de preocupação. Deve ter em conta que nalgumas pessoas pode evoluir para pneumonia (veja os sinais de alarme).
Saia, aqui, tudo sobre pneumonia.
Repetidas crises de bronquite podem indicar que está a desenvolver doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
No caso da bronquite crónica, pode-se afirmar que não existe uma cura propriamente dita, todavia existem procedimentos comportamentais e farmacológicos que podem parar a sua evolução e resultantes complicações.
Se a bronquite não for tratada de forma atempada e conveniente pode trazer algumas complicações graves e pode matar. Devido ao aumento da pressão das artérias da circulação pulmonar um individuo com bronquite pode desenvolver problemas cardíacos. Tal situação prende-se com os baixos níveis de oxigenação sanguínea e com a perda de capilares pulmonares que conduzem a um maior esforço cardíaco – cor pulmonale.
Saiba, de seguida, como tratar a bronquite.
Tratamento da bronquite
No tratamento da bronquite, em algumas circunstâncias, o médico pode prescrever medicamentos ou remédio, de modo a tratar a doença, após diagnóstico, conforme descrevemos de seguida.
A bronquite aguda, geralmente, resulta de uma infeção vírica, de modo que os antibióticos (ex. amoxicilina) não são eficazes. No entanto, o seu médico pode prescrever um antibiótico, se houver suspeita de uma infeção bacteriana a sobrepor-se à infeção vírica inicial.
Os antitússicos e alguns xaropes para tosse podem ser contraproducentes, pois não devemos suprimir a tosse com expetoração, pois esta ajuda a remover irritantes de pulmões e dos brônquios. Se a tosse impede de conciliar o sono, podem ser ministrados antitússicos para o doente poder descansar à noite.
Se o doente tem asma ou doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), o seu médico pode recomendar um inalador e outros medicamentos para reduzir a inflamação e abrir passagens estreitadas nos pulmões. Em termos de medicamentos, o tratamento consiste basicamente em dois grandes grupos de medicamentos inalados (“bombas”):
- Broncodilatadores– medicamentos que ajudam no alivio da tosse e na falta de ar ao diminuírem a obstrução brônquica. (Salbutamol, terbutalina, brometo de ipratrópio, indacaterol, olodaterol, aclidinio, glicopirrónio, tiotrópio, umeclidinio);
- Corticoides inalados – diminuem a inflamação brônquica e reduzem o risco de exacerbações da doença. (Budesonida e fluticasona)
Para além do tratamento realizado com medicamentos, a reabilitação pulmonar, composta por técnicas respiratórias (incluindo o tratamento fisioterapêutico), exercício físico, nutrição e ensinos sobre a forma de respirar e lidar com a doença colaboram na melhoria da dispneia, da tolerância ao exercício e do tempo de vida. De salientar que a reabilitação respiratória é mais do que uma mera fisioterapia.
Caso o doente possua um diagnóstico de enfisema pulmonar, deve ter em atenção os seguintes aspetos:
- Deixar de fumar;
- Evitar inalação de substâncias irritantes;
- Praticar exercício físico regularmente;
- Evitar a exposição a ar frio;
- Prevenir infeções respiratórias (vacinação pneumocócica e gripal).
O tratamento da bronquite na gravidez requer muita cautela. Em caso algum deverão ser utilizados medicamentos sem o conselho do seu médico.
O doente jamais se deverá automedicar ou tentar encontrar resolução para o problema em qualquer tipo de tratamentos alternativos. Consulte com urgência o médico pneumologista nos casos de agravamento da sintomatologia.
Existem múltiplos tratamentos naturais ou remédios caseiros para bronquite como por exemplo o chá, o mel, abacaxi com mel, entre muitos outras “receitas caseiras”. Na verdade, estes produtos não possuem qualquer efeito no tratamento da bronquite propriamente dito.
Contudo, a ingestão de líquidos como os chãs, etc, ingeridos de forma simples ou associados com outros alimentos, possuem efeitos benéficos na hidratação, o que é bom para fluidificar as secreções, facilitando que estas possam mais facilmente ser expelidas pela organismo e desta forma melhorar a sintomatologia.
Neste sentido, a hidratação (ingestão de líquidos) é uma importante medida que pode tomar em casa. Contudo, o doente deve tomar consciência que estas medidas por si não tratam a bronquite e que esta doença pode ser em alguns casos grave, devendo sempre consultar o médico, fundamentalmente, nos casos em que ocorre um agravamento da sintomatologia.
Prevenção da bronquite
De modo a reduzir o risco de contrair bronquite crónica, o paciente não deve fumar e deve evitar outros irritantes pulmonares como: o fumo passivo, fumos industriais, fumo das lareiras e tintas ou produtos de limpeza com cheiros intensos.
A vacinação gripal (gripe) anual ajuda a proteger do quadro gripal e consequentemente a evitar muitos casos de bronquite aguda. Além disso, a gripe é um dos responsáveis pelas agudizações da bronquite crónica (também denominadas de crise de bronquite). Do mesmo modo, deve considerar-se a vacinação anti-pneumocócica.
Deve evitar o ar frio, pois este pode agravar a sua tosse e a falta de ar.
O doente deve procurar o médico pneumologista (especialista em pneumologia) se tiver falta de ar inexplicável, interferindo com as suas atividades diárias, ou se a sua tosse tem as seguintes características (sinais de alarme):
- Dura há mais de três semanas;
- O impede de dormir;
- É acompanhada por febre superior a 38 ºC;
- Produz expectoração escura ou sangue;
- Está associada com pieira (chieira, chiadeira) ou falta de ar.
Se já consultou outro médico devido à tosse, informe o pneumologista, sobre os exames que foram realizados e, se possível, mostre-lhos, incluindo resultados de uma radiografia de tórax, exame de expectoração e provas funcionais respiratórias.