A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença pulmonar comum, prevenível e tratável que é caracterizada por persistência de sintomas respiratórios associados a obstrução do fluxo de ar aos pulmões. Os sintomas incluem: dificuldade respiratória, tosse, produção de muco (expectoração) e sibilos. É causada pela exposição a longo prazo a gases irritantes ou partículas, mais frequentemente do fumo do cigarro.
Enfisema pulmonar e bronquite crónica são as duas patologias mais comuns que contribuem para a DPOC. Bronquite crónica é a inflamação do revestimento dos tubos brônquicos, que transportam o ar para os sacos de ar (alvéolos) dos pulmões. Caracteriza-se pela produção diária de tosse e expectoração. O enfisema é a doença em que os alvéolos pulmonares são destruídos devido à exposição prejudicial ao fumo do cigarro e outras partículas e gases irritantes.
A DPOC é prevenível e tratável. Com um bom acompanhamento pelo Pneumologista, a maioria dos doentes com DPOC pode conseguir um bom controlo de sintomas e qualidade de vida, bem como reduzir o risco de complicações associadas. Os doentes com DPOC possuem um risco acrescido de desenvolver doenças cardíacas (do coração), cancro do pulmão e uma multiplicidade de outras doenças graves.
DPOC - causas
A principal causa de DPOC nos países desenvolvidos é o tabagismo. Nas populações mais rurais, a DPOC pode ocorrer em pessoas expostas a fumo das lareiras para cozinhar e aquecer casas mal ventiladas.
Provavelmente, existem outros fatores no desenvolvimento da DPOC, como a suscetibilidade genética à doença, porque apenas cerca de 20 a 30% dos fumadores desenvolvem DPOC clinicamente significativa. No entanto, muitos fumadores perdem função pulmonar de uma forma significativa, mas mantêm-se assintomáticos (sem sintomas).
Genética - deficiência de alfa-1-antitripsina
Em cerca de 1% dos doentes com DPOC, a doença resulta de uma doença genética que causa baixos níveis de uma proteína chamada alfa-1-antitripsina. A alfa-1-antitripsina (AAt) é produzida no fígado e secretada na corrente sanguínea para ajudar a proteger os pulmões. Esta deficiência pode afetar o fígado, bem como os pulmões. As lesões pulmonares podem ocorrer muito cedo (bébés e crianças), não só em adultos com longa história tabágica.
Exposição ao fumo do tabaco
O fator de risco mais importante para DPOC é o tabagismo a longo prazo. Quanto mais anos e mais maços consumir, maior será o risco. Fumadores de cachimbo, charutos e fumadores de marijuana também podem estar em risco, bem como as pessoas expostas a grandes quantidades de fumo passivo.
Asmáticos fumadores
A combinação de asma, uma doença inflamatória crónica das vias aéreas e tabagismo aumenta exponencialmente o risco de DPOC.
Exposição ocupacional a poeiras e produtos químicos
A exposição a longo prazo a vapores e vapores químicos no local de trabalho pode irritar e inflamar os pulmões.
Exposição a fumos provenientes das lareiras
Nas zonas rurais, as pessoas expostas a fumo para cozinhar e aquecer as casas mal ventiladas correm maior risco de desenvolver DPOC.
Idade
A DPOC desenvolve-se lentamente ao longo dos anos, sendo que a maioria das pessoas possuem pelo menos 40 anos quando os sintomas se manifestam.
Saiba, de seguida, quais são os sintomas de DPOC.
DPOC - sintomas
Os sintomas de DPOC geralmente não aparecem até que tenha ocorrido uma degradação pulmonar significativa e, geralmente, pioram ao longo do tempo, particularmente se a exposição ao fumo persistir. Para a bronquite crónica, o principal sintoma é uma tosse diária e expectoração em pelo menos três meses por ano durante dois anos consecutivos.
Outros sinais e sintomas da DPOC podem incluir:
- Dispneia (falta de ar), especialmente durante atividades físicas;
- Sibilância;
- Opressão torácica (aperto no peito);
- Expetoração matinal, devido ao excesso de muco nos pulmões;
- Tosse crónica com expetoração (escarro) que pode ser transparente, branco, amarelo ou esverdeado;
- Extremidades dos dedos cianóticos (coloração azulada);
- Infeções respiratórias frequentes;
- Falta de energia, fadiga;
- Perda de peso não intencional (em fases avançadas da doença);
- Edemas (inchaço) nos tornozelos, pés ou pernas.
Os doentes com DPOC estão suscetíveis a episódios chamados exacerbações, durante os quais há agravamento dos sintomas que vão além da variação normal do dia-a-dia e persistem vários dias.
DPOC - diagnóstico
A DPOC é frequentemente mal diagnosticada - os ex-fumadores, às vezes, podem ser informados de que padecem de DPOC, quando na realidade podem ter um simples descondicionamento ou outra doença pulmonar menos comum. Da mesma forma, muitas pessoas com DPOC podem não ser diagnosticadas até que a doença esteja muito avançada e as intervenções clínicas sejam menos eficazes.
Para diagnosticar a DPOC, o seu médico Pneumologista irá rever os seus sinais e sintomas, pesquisar antecedentes familiares e pessoais (exposição a irritantes pulmonares - especialmente o fumo do cigarro). Irá requisitar vários exames que podem incluir:
Provas funcionais respiratórias: Testes de função pulmonar que medem a quantidade de ar que pode inalar e expirar, e se os pulmões estão a oxigenar o sangue convenientemente.
A espirometria é o teste de função pulmonar mais comum. Durante este exame, o doente sopra num grande tubo conectado a uma pequena máquina chamada espirómetro. Esta máquina mede a quantidade de ar que os pulmões podem conter e a rapidez com que o ar é expelido para fora dos pulmões.
A espirometria pode detetar a DPOC, mesmo antes de aparecerem os sintomas. Este exame, também deve ser usado para acompanhar a progressão da doença e para monitorizar o tratamento. A espirometria deve incluir a prova de broncodilatação. Outros testes de função pulmonar incluem a medição de volumes pulmonares, capacidade de difusão do monóxido de carbono e oximetria de pulso.
Raio x do tórax. Uma radiografia de tórax pode mostrar enfisema, uma das principais causas de DPOC. Um raio-X também pode descartar outros problemas pulmonares ou insuficiência cardíaca.
Tomografia computadorizada torácica (TAC). A TAC dos pulmões pode ajudar a detetar enfisema e ajudar a determinar se existem benefícios com a cirurgia para DPOC. Além disso, também pode ser usada para detetar cancro do pulmão.
Análise dos gases sanguíneos arteriais (Gasimetria). Este teste de sangue mede a capacidade dos pulmões para absorver o oxigénio e remover o dióxido de carbono.
Testes laboratoriais (análises ao sangue). Não são utilizados para diagnosticar DPOC, mas podem ser utilizados para determinar a causa dos sintomas ou excluir outras doenças. Por exemplo, testes laboratoriais podem ser úteis na determinação de alteração genética de déficit de alfa-1-antitripsina (AAt), que pode ser a causa de alguns casos de DPOC. Este teste deve ser feito se o doente tem uma história familiar de DPOC ou desenvolver DPOC numa idade jovem (<45 anos).
DPOC tem cura?
Um diagnóstico de DPOC não é o “fim do mundo”. A maioria das pessoas tem formas ligeiras da doença para as quais é necessário pouco tratamento além da cessação tabágica.
Mesmo para os estádios mais avançados da doença, estão disponíveis terapêuticas eficazes que podem controlar os sintomas, reduzir o risco de complicações e exacerbações e melhorar a capacidade de manter uma vida ativa.
Saiba, de seguida, como tratar a DPOC.
DPOC - tratamento
O passo mais importante em qualquer plano de tratamento para DPOC é deixar de fumar, pois é a única maneira de impedir a progressão desta doença. Mas, parar de fumar não é fácil. Esta tarefa pode parecer particularmente assustadora e difícil nos doentes que já tentaram e não tiveram êxito. O seu médico Pneumologista tem ao dispor produtos de substituição de nicotina e outros medicamentos que podem ajudar na cessação. Sempre que possível, deve evitar a exposição ao fumo passivo.
Existem vários tipos de medicamentos (ou remédios) para tratar os sintomas e complicações da DPOC:
Broncodilatadores
Geralmente vêm num inalador (“bomba”) e tem o objetivo de relaxar os músculos das vias aéreas. Isso pode ajudar a aliviar a tosse e falta de ar e tornar a respiração mais fácil.
Dependendo da gravidade da doença, pode ser necessário um broncodilatador de curta ação antes das atividades, o uso de um broncodilatador de ação prolongada todos os dias ou ambos.
Os broncodilatadores de curta duração incluem salbutamol, terbutalina e brometo de ipratropio. Os broncodilatadores de longa duração incluem brometo de tiotrópio, salmeterol, formoterol, indacaterol, aclidínio e umeclidinio.
Corticosteróides inalados
Medicamentos corticosteróides inalados podem reduzir a inflamação das vias aéreas e ajudar a evitar exacerbações. Os efeitos secundários podem incluir contusões, infeções orais e rouquidão. Esses medicamentos são úteis para pessoas com exacerbações frequentes de DPOC. Fluticasona e budesonida são exemplos de esteróides inalados.
Combinação de inaladores
Alguns medicamentos combinam broncodilatadores e esteróides inalados. Salmeterol e fluticasona; o formoterol e budesonide, o formoterol e a fluticasona são exemplos de combinação de inaladores.
Esteróides orais
Para as pessoas que têm uma exacerbação aguda moderada ou grave, os cursos curtos (por exemplo, cinco dias) de corticosteróides orais impedem o agravamento da DPOC. No entanto, o uso a longo prazo destes medicamentos pode ter efeitos secundários graves, tais como: o aumento de peso, diabetes, osteoporose, cataratas e um risco aumentado de infeção.
Inibidores da fosfodiesterase - 4
Um tipo de medicação para doentes com DPOC grave e sintomas de bronquite crónica é o roflumilast, um inibidor da fosfodiesterase-4. Este fármaco diminui a inflamação das vias aéreas e relaxa as vias aéreas. Este medicamento está limitado pelos seus efeitos secundários, que incluem diarreia e perda de peso e não se encontra comercializado em Portugal.
Teofilina
Esta medicação muito barata pode ajudar e evitar exacerbações. Os efeitos secundários podem incluir náuseas, cefaleias (dor de cabeça), taquicardia (batimento cardíaco rápido) e tremor. Os efeitos secundários estão relacionados com a dose, sendo recomendadas doses baixas.
Antibióticos
Infeções respiratórias, como bronquite aguda, pneumonia e gripe, podem agravar os sintomas da DPOC. Os antibióticos ajudam a tratar as exacerbações agudas. No entanto, recentemente a azitromicina provou prevenir exacerbações, mas não está claro se isso é devido ao seu efeito antibiótico ou suas propriedades anti-inflamatórias. Tendo assim indicação em doentes selecionados.
Oxigenoterapia
Se não houver oxigénio suficiente no sangue, pode ser necessário oxigénio suplementar. Existem vários dispositivos para fornecer oxigénio para os pulmões, incluindo unidades leves e portáteis que podem ser utlizados no dia-dia.
Algumas pessoas com DPOC usam oxigénio apenas durante as atividades ou durante o sono. Outros usam oxigénio continuamente. A oxigenioterapia pode melhorar a qualidade de vida e é a única terapia de DPOC comprovada para prolongar a vida.
Programa de reabilitação pulmonar
Estes programas combinam geralmente a informação sobre a doença, o treino de exercício (fisioterapia), nutrição (alimentação) e o ensino. Um grupo de especialistas, que podem adaptar o programa de reabilitação para corresponder às suas necessidades.
A reabilitação pulmonar provou diminuir o número de internamentos, aumentar a capacidade de realizar as atividades quotidianas e melhorar a qualidade de vida.
Cirurgia
A cirurgia (ou operação) é uma opção para algumas formas de enfisema grave que não melhoram o suficiente com as medidas descritas anteriormente. As opções cirúrgicas incluem:
Cirurgia de redução do volume pulmonar. Nesta cirurgia, o cirurgião remove pequenas cunhas de tecido pulmonar danificado dos pulmões superiores. Isso cria espaço extra na cavidade torácica para que o tecido pulmonar saudável possa expandir e o diafragma consiga trabalhar de forma mais eficiente. Nalgumas pessoas, esta cirurgia pode melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida.
Transplante pulmonar. O transplante pode melhorar a capacidade respiratória e tornar o doente ativo. No entanto, é uma operação que tem riscos significativos, tais como: a rejeição de órgão, e é necessário tomar ao longo da vida medicamentos imunossupressores.
Bulectomia. Grandes espaços aéreos (bolhas) que se formam nos pulmões quando as paredes dos alvéolos são destruídas. Estas bolhas podem tornar-se muito grandes e causar problemas respiratórios. Numa bulectomia, os cirurgiões torácicos removem as bolhas dos pulmões para ajudar a melhorar o fluxo de ar.
Nos doentes com DPOC relacionada com a deficiência de alfa1 AT, as opções de tratamento incluem as utilizadas para pessoas com tipos mais comuns de DPOC. Além disso, podem ser tratadas repondo a proteína AAt em falta, o que pode prevenir mais danos nos pulmões.
DPOC complicações
A DPOC pode causar muitas complicações. Mesmo com o tratamento contínuo, o doente com DPOC pode ter agravamento dos sintomas durante dias ou semanas - exacerbação aguda, que pode levar à insuficiência respiratória se não receber tratamento imediato.
As exacerbações podem ser causadas por uma infeção respiratória, poluição do ar ou outros desencadeantes de inflamação. Qualquer que seja a causa, é importante procurar ajuda médica no caso de notar um aumento sustentado na tosse, uma mudança na expectoração ou um agravamento da dificuldade respiratória.
Quando ocorre uma exacerbação, pode precisar de medicamentos adicionais (como antibióticos, corticoides ou ambos), oxigénio suplementar ou tratamento hospitalar.
Infeções respiratórias. Pessoas com DPOC são mais propensas a constipações, gripe e pneumonia. Qualquer infeção respiratória pode agravar a dificuldade respiratória e pode causar danos no tecido pulmonar. A vacinação anual contra a gripe e a vacinação contra a pneumonia pneumocócica podem prevenir algumas infeções.
Saiba, aqui, tudo sobre pneumonia.
Problemas cardíacos. Por razões que não são totalmente compreendidas, a DPOC pode aumentar o risco de doenças cardíacas, incluindo ataques cardíacos. Deixar de fumar pode reduzir este risco.
Hipertensão Pulmonar. A DPOC pode causar hipertensão nas artérias que levam sangue aos pulmões.
Cancro do pulmão. Pessoas com DPOC têm mais risco de cancro de pulmão. Deixar de fumar pode reduzir esse risco.
Depressão. A dificuldade respiratória pode limitar as atividades que o doente gosta. Lidar com doenças graves pode contribuir para o desenvolvimento da depressão.
DPOC - prevenção
Ao contrário de algumas doenças, a DPOC tem uma causa clara e uma forma clara de prevenção. A melhor maneira de prevenir a DPOC é nunca fumar ou parar de fumar imediatamente.
Num fumador de longa data, estas declarações simples podem não parecer tão simples, especialmente se já tentou parar - uma, duas ou várias vezes. É fundamental encontrar um programa de cessação tabágica que o ajude. É a melhor forma de evitar a doença pulmonar.
A exposição ocupacional a fumos químicos e poeira é outro fator de risco para a DPOC. Nestes casos, deverá usar equipamento de proteção respiratória.
DPOC - estilo de vida e remédios caseiros
Se tem DPOC, pode tomar algumas medidas para se sentir melhor e atrasar a progressão da sua doença:
Controle a respiração. Fale com o seu médico Pneumologista ou terapeuta respiratório sobre as técnicas de respiração mais eficazes ao longo do dia. Não se esqueça de discutir as posições de respiração e técnicas de relaxamento que pode usar quando tem falta de ar.
Limpe as vias aéreas. Na DPOC, a expectoração tende a acumular-se nas vias aéreas e pode ser difícil de limpar.
Exercício regular. Pode parecer difícil devido à dificuldade respiratória, mas o exercício regular melhora a força e a resistência e fortalece os músculos respiratórios. Discuta com o seu Pneumologista quais as atividades mais apropriadas para o seu caso.
Coma alimentos saudáveis. Uma dieta saudável ajudá-lo-á a manter a força muscular. Se tem baixo peso, o seu médico pode recomendar suplementos nutricionais. Se está com excesso de peso, perder peso pode ajudar significativamente a sua respiração, especialmente durante os períodos de esforço.
Evite a poluição e o fumo. Além de parar de fumar, é importante evitar locais onde se fume. O fumo passivo pode contribuir para danos pulmonares adicionais. Outros tipos de poluição do ar também podem irritar os pulmões.
Consulte o Pneumologista regularmente. É importante monitorizar a sua função pulmonar. Deverá tomar a vacina contra a gripe anual para ajudar a prevenir infeções que podem piorar a sua DPOC. Pergunte ao seu médico se precisa da vacina pneumocócica. Informe o seu médico se tiver agravamento dos sintomas ou se detetar sinais de infeção.